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Teatro

- Publicada em 06 de Março de 2020 às 03:00

Valorização da memória do 'Hamlet sincrético'

Antonio Hohlfeldt
Antes de Hamlet sincrético, de 2005, o diretor e dramaturgo Jessé Oliveira já havia experimentado outras aproximações e cruzamentos entre textos dramáticos clássicos e releituras contemporâneas, brasileiras, com um foco na perspectiva de constituição de um teatro negro. Para isso, fora constituído o grupo Caixa Preta de teatro, que passou a realizar espetáculos anuais com um programa de atividades muito bem explicitado.
Antes de Hamlet sincrético, de 2005, o diretor e dramaturgo Jessé Oliveira já havia experimentado outras aproximações e cruzamentos entre textos dramáticos clássicos e releituras contemporâneas, brasileiras, com um foco na perspectiva de constituição de um teatro negro. Para isso, fora constituído o grupo Caixa Preta de teatro, que passou a realizar espetáculos anuais com um programa de atividades muito bem explicitado.
Hamlet sincrético, como se disse, estreou em 2005, cumpriu bela temporada na cidade, participou de festivais locais e inclusive teve a oportunidade de ser assistido por plateias de outros países. Neste sentido, foi um espetáculo-síntese - indicava um amadurecimento significativo do grupo - e, ao mesmo tempo, um momento de passagem, pois abriu caminhos para outras experimentações. Neste meio tempo, Jessé Oliveira foi convidado a assumir a direção da Casa de Cultura Mario Quintana, um complexo cultural que reúne múltiplas atividades estéticas, função que vem desempenhando neste momento, e cujo melhor resultado é ter definido e desenvolvido uma identidade cultural específica, abrindo espaços para a cultura negra e a cultura popular brasileiras.
Com financiamento do Fumproarte, da prefeitura municipal de Porto Alegre, o grupo resolveu, não só documentar, quanto aprofundar as reflexões em torno daquela histórica produção do Hamlet sincrético, o que resultou neste belo álbum assim denominado, Hamlet sincrético, e cujo subtítulo é revelador: Em busca de um teatro negro.
O Brasil, infelizmente, não tem tradição em se preocupar com este tipo de documentação e boa parte de nossas melhores produções artísticas, quer exposições de artes plásticas, festivais de teatro ou de música, espetáculos cênicos, obras literárias acabam se perdendo no olvido. Por isso, e desde logo, a iniciativa do grupo Caixa Preta deve ser festejada.
Agora, temos, não apenas o espetáculo em si mas também depoimentos, memória iconográfica, reflexões teóricas mais aprofundadas a respeito do trabalho. O que fica faltando é um DVD capaz de guardar a realidade física do espetáculo, que poderia, assim, ser algum dia remontado, ou que permitiria outro tipo de análise e de reflexão por parte de pesquisadores e de historiadores das artes cênicas brasileiras e sul-rio-grandenses. Desafio para Jessé e seu grupo.
No livro que foi editado no ano passado, organizado pelo próprio Jessé Oliveira e por Vera Lopes, encontramos excelente material iconográfico e, ao mesmo tempo, depoimentos e alguns ensaios de pesquisadores variados, que permitem, assim, um aprofundamento a respeito da avaliação e das consequências e do significado deste trabalho. Mais do que isso, evidencia-se que a realização de Hamlet sincrético tornou-se parte da história das artes cênicas locais. Aliás, um dos dados importantes destas realizações do Caixa Preta é que o grupo é constituído por artistas não necessariamente profissionais, em sentido estrito, o que aumenta ainda mais o significado cultural destas iniciativas.
Neste volume, encontramos, ainda, um depoimento do próprio realizador, um Ensaio descritivo que é uma verdadeira caderneta de campo e de memória da produção do espetáculo, ao mesmo tempo em que uma reflexão teórica e crítica do realizador a respeito de seu próprio trabalho, o que torna o livro ainda mais importante, pois este tipo de depoimento é, em geral, bastante raro.
O leitor interessado, nesse sentido, poderá cruzar aquilo que está escrito e defendido pelo diretor, com as avaliações de outros estudiosos; aproximar o que ele afirma daquilo que ele realizou; e, enfim, tirando suas próprias conclusões, decidir sobre o que ele, leitor e/ou espectador, pode/quer mais destacar naquela realização.
Em síntese, deve-se aplaudir e valorizar esse tipo de iniciativa, quer do próprio grupo, por sua preocupação em deixar registrada uma memória, quer da prefeitura municipal de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal de Cultura, que tem à frente o também diretor Luciano Alabarse e que, inclusive, dá seu próprio depoimento a respeito do trabalho.
 
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