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Teatro

- Publicada em 24 de Janeiro de 2020 às 03:00

Surpreendente trama policial em nossos palcos

Antonio Hohlfeldt
O cinema brasileiro é escasso em roteiros policiais. Pior ainda a dramaturgia nacional. Parece que falta, aos nossos autores, inspiração para este tipo de trama e tratamento ficcionais. Por isso, uma peça como O assassinato de Santiago me chamou muito a atenção e, aproveitando o fato de que não conseguira assistir ao espetáculo durante sua primeira temporada, pautei-o para a minha agenda do Porto Verão Alegre, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana.
O cinema brasileiro é escasso em roteiros policiais. Pior ainda a dramaturgia nacional. Parece que falta, aos nossos autores, inspiração para este tipo de trama e tratamento ficcionais. Por isso, uma peça como O assassinato de Santiago me chamou muito a atenção e, aproveitando o fato de que não conseguira assistir ao espetáculo durante sua primeira temporada, pautei-o para a minha agenda do Porto Verão Alegre, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mario Quintana.
O resultado tem altos e baixos. A trama é bastante interessante porque mescla a simples invenção com a referência aos escândalos de colarinho branco que têm marcado a política. O autor - Dennys d'Almeida - mostra competência no desenvolvimento e criação dos personagens, reunindo, em torno do empresário Santiago, um trampolineiro e corrupto convicto, membros de uma família, além de um sócio na empresa que o personagem mantém e através da qual se prepara para um grande golpe contra o governo, escapulindo depois para a Suíça, momento em que é assassinado.
Numa obra de arte, temos dois aspectos essenciais: o primeiro é a ideia da história; pura invenção. O outro, é o modo pelo qual a história vai ser desenvolvida e apresentada ao receptor - leitor ou espectador, no caso do teatro. Dennys d'Almeida vai bem nos dois quesitos: a trama é bem idealizada - e o seu desenlace bem o evidencia - e a maneira pela qual a trama é desenvolvida está marcada pelas soluções inteligentes e criativas, seja pela ordem com que os acontecimentos são apresentados à plateia, seja, sobretudo, pela opção que o dramaturgo assume de incluir os espectadores enquanto "detetives": cada integrante do público deve utilizar seu celular e, em certo momento, apresentado o crime e os interrogatórios levados a efeito pelo comissário de polícia, expressar sua indicação a respeito do culpado, ou seja, do assassino.
A estrutura da peça parte do crime em si, durante uma reunião social convocada por Santiago, com seu irmão, meia irmã, sócio e melhor amigo para, depois, mediante a intervenção da delegada de polícia encarregada de investigar o caso e desenvolver o processo, provocar os espectadores a respeito de sua função, ao final da representação, alertando-os que devem prestar atenção nos detalhes do que vão assistir. O espetáculo, então, passa a desenvolver-se enquanto um flash back, retornando aos acontecimentos anteriores ao crime e revelando bastidores das relações entre os diferentes personagens e de cada um deles com o morto.
No conjunto geral, o espetáculo mantém um bom ritmo, até pelas variações de encenação propostas pelo diretor, que é o mesmo autor e dramaturgo, Dennys d'Almeida. O elenco, contudo, ainda bastante verde, faz seu possível, mas nem sempre consegue manter o ritmo necessário a este tipo de encenação, quer em relação a posturas corporais, quer quanto a entonações, de modo que acabamos enfrentando problemas de verossimilhança na composição dos personagens. O mesmo Dennys d`Almeida também interpreta o principal personagem, de sorte que boa parte do espetáculo acaba girando em torno dele, o que nem sempre alcança os melhores resultados, porque acaba constituindo um enredo um pouco mecânico quanto a personagens positivos e negativos. O grande lance, de qualquer modo, é a descoberta do culpado, que rompe com todas as expectativas do público e renova o caráter de interesse da peça.
O espaço escolhido é simples, até porque o ambiente da Sala Carlos carvalho não permite muitas variações. Mas dentro destas possibilidades, a direção conseguiu valorizar o espaço disponível. Não temos indicação quanto ao responsável pela iluminação - que marca bem as passagens de tempo e mudanças de cena - ou pelo figurino, que caracteriza em parte os personagens, mesmo que a peça se desenvolva no tempo presente. Talvez que, em sendo o diretor alguém diverso do autor, a encenação pudesse ter variações rítmicas mais evidentes e que auxiliassem o andamento da trama, mas, de modo geral, isso não chega a ser um problema maior da encenação. Do mesmo modo o enredo: às vezes encontramos algumas passagens inverossímeis, mal apresentadas ao espectador, mas nada que inviabilize o interesse pelo espetáculo.
Em suma, sem ser perfeito, trata-se de um espetáculo bem proposto e que evidencia os bons horizontes que podem ser explorados por dramaturgos/diretores que ousem seguir por este caminho.
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