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Teatro

- Publicada em 12 de Dezembro de 2019 às 21:23

Balanço 2019 - Parte 1: Apesar do desmonte da Cultura

Antonio Hohlfeldt
Tinha-se muita preocupação com o que viria a acontecer na nova administração federal em relação à Educação e à Cultura. Com a conclusão do primeiro ano de governo, os piores temores foram ultrapassados: a coisa ficou pior do que se poderia imaginar, sobretudo porque, ao contrário do tempo da ditadura, neste momento não há critérios e as decisões são tomadas ao arrepio da lei e na base do emocionalismo. Não fui dos que se alinhou à crítica com a dissolução do Ministério da Cultura. Entendi que, colocada num Ministério da Cidadania, pelo contrário, a Cultura poderia, pela primeira vez na história pós-ditadura, encontrar um espaço de valorização até então inédito. O fato de o ministro Osmar Terra ter mantido alguns dos mesmos centrais do antigo MinC e trazer alguns reconhecidamente competentes criou esperanças. Mas o ministro não resistiu às pressões e preferiu abrir mão da Cultura para concentrar-se naquilo que é, evidentemente, o essencial de sua pasta. E, assim, ficamos entregues à nossa própria sorte.
Tinha-se muita preocupação com o que viria a acontecer na nova administração federal em relação à Educação e à Cultura. Com a conclusão do primeiro ano de governo, os piores temores foram ultrapassados: a coisa ficou pior do que se poderia imaginar, sobretudo porque, ao contrário do tempo da ditadura, neste momento não há critérios e as decisões são tomadas ao arrepio da lei e na base do emocionalismo. Não fui dos que se alinhou à crítica com a dissolução do Ministério da Cultura. Entendi que, colocada num Ministério da Cidadania, pelo contrário, a Cultura poderia, pela primeira vez na história pós-ditadura, encontrar um espaço de valorização até então inédito. O fato de o ministro Osmar Terra ter mantido alguns dos mesmos centrais do antigo MinC e trazer alguns reconhecidamente competentes criou esperanças. Mas o ministro não resistiu às pressões e preferiu abrir mão da Cultura para concentrar-se naquilo que é, evidentemente, o essencial de sua pasta. E, assim, ficamos entregues à nossa própria sorte.
Na contramão desta tendência nacional, a nova administração do Estado do Rio Grande do Sul chegou com fôlego: refundou a Secretaria de Cultura, passou a valorizar o patrimônio histórico - coisa que jamais ocorrera até então - e buscou dinamizar o setor, chegando até mesmo a garantir ampliação do próprio orçamento, para além de captações significativas junto a diferentes organismos, dentre os quais o próprio Ministério da Cidadania.
O ano de 2019, como sempre, iniciou-se com o Porto Verão Alegre trazendo um sem-número de atividades e sempre buscando novidades, como incluir o espaço do barco Cisne Branco entre os locais de apresentação de espetáculos. Não por um acaso, o festival acabou o ano com uma dupla premiação, a principal das quais a da Assembleia Legislativa.
No que toca aos espetáculos, março trouxe boas propostas locais, como Deus é um DJ, do alemão Falk Richter com direção de Alexandre Dill e, de outro lado, a presença da sempre admirável Nathalia Timberg, que, aliás, retorna a Porto Alegre logo no início de 2020, com seu Através da Iris. E enquanto o grupo Neelic, um dos mais resistentes da cidade, encenava Capital, o Ói Nóis aqui Traveis, sob ameaça a de encerramento de suas atividades na atual sede, no 4º Distrito, trazia este inesquecível Meyerhold, cujo texto ganhou enorme atualidade diante do contexto brasileiro.
Em abril, tivemos outros espetáculos que, somados a tudo o que assistiríamos ao longo da temporada, começava a evidenciar que o campo da Cultura felizmente estava vivo e não ia apenas ficar na defesa, quanto era capaz de ir ao contra-ataque, trazendo à discussão os temos mais controvertidos do momento, inclusive aqueles vinculados ao feminismo e ao movimento LGBT, como o que realizou Elas, um belo espetáculo de Everson Silva. Significativamente, um dos últimos trabalhos a que assistimos, nesta temporada, foi Censuradas - SOS Mulheres em Vênus ou travestis na porta do céu. Naquele mesmo mês de abril, a encenação de Sobre nós, de Leo Maciel, ampliava aquela primeira impressão.
Neste mesmo mês, o retorno do balé de Antonio Gades, com uma remontagem de Carmen e no mesmo fim de semana, a volta do grupo de Deborah Colker, com Nó, mostrava que muitas companhias, para conseguirem viajar pelo País, sem os mesmos apoios antigos, precisavam reprisar trabalhos, baixando custos de produção.
O primeiro quadrimestre do ano se encerrou com a comédia de Linsday Paulino, e por ele interpretada, sob direção de Adriana Soares, Rosa, a doméstica do Brasil: voltávamos ao período da ditadura, em que os espetáculos tinham um ou dois atores, para poderem sobreviver e viajar. E este foi um dos últimos espetáculos a nos visitar. Daí para a frente, tanto o Teatro do Bourbon quanto o São Pedro teriam escassez de espetáculos de fora do estado. O Bourbon tratou de programar shows musicais e o São Pedro ampliou a programação local.
 
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