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Teatro

- Publicada em 01 de Novembro de 2019 às 03:00

O Teatro de Arena, antes, agora e sempre

Antonio Hohlfeldt
Esta coluna não poderia deixar passar em branco os 52 anos de existência do Teatro de Arena, minimamente por dois motivos: o primeiro deles é que o então crítico teatral do Jornal do Comércio da época - 1967 - Marcelo Renato, a quem cheguei a conhecer pessoalmente, pois já trabalhava como repórter no Correio do Povo, foi um dos maiores apoiadores e militantes da iniciativa. Considerado a "cabeça pensante" do grupo, segundo Rafael Guimarães, em Teatro de Arena - Palco de resistência (Libretos, 2007), ele chegou a travestir-se de pedreiro, auxiliando na montagem dos atuais balcões do teatro e de suas arquibancadas. Aliás, Teatro em revista, a publicação mensal do Teatro de Arena, que circulou por um período muito pequeno (de setembro a dezembro de 1968), chegou a estampar fotografias que documentam esta atividade do Marcelo, a quem quero aqui recordar e homenagear.
Esta coluna não poderia deixar passar em branco os 52 anos de existência do Teatro de Arena, minimamente por dois motivos: o primeiro deles é que o então crítico teatral do Jornal do Comércio da época - 1967 - Marcelo Renato, a quem cheguei a conhecer pessoalmente, pois já trabalhava como repórter no Correio do Povo, foi um dos maiores apoiadores e militantes da iniciativa. Considerado a "cabeça pensante" do grupo, segundo Rafael Guimarães, em Teatro de Arena - Palco de resistência (Libretos, 2007), ele chegou a travestir-se de pedreiro, auxiliando na montagem dos atuais balcões do teatro e de suas arquibancadas. Aliás, Teatro em revista, a publicação mensal do Teatro de Arena, que circulou por um período muito pequeno (de setembro a dezembro de 1968), chegou a estampar fotografias que documentam esta atividade do Marcelo, a quem quero aqui recordar e homenagear.
O segundo motivo é o fato de a Sedac ter iniciado uma série de atividades que marcarão este período, inclusive com o lançamento do projeto Memória viva, que vai recolher depoimentos de quem participou de todo aquele conjunto de atividades. Do ponto de vista oficial e histórico, o Teatro de Arena abriu suas portas no dia 17 de outubro de 1967, com a peça de Dias Gomes O Santo inquérito. A constituição deste espaço foi uma utopia de Jairo de Andrade, Alba Rosa, Araci Esteves, Hamilton Braga e Edwiga Faleij, num primeiro momento. Sua salvação e transformação, mediante desapropriação pelo governo do estado, foi iniciativa de Dilmar Messias, apoiado pelo então titular da Secretaria de Estado da Cultura, Carlos Jorge Appel, e pelo governador Pedro Simon. Foi transformado num centro de documentação do período fascista que o país vivera a partir de 1964.
Ler o livro de Guimarães é um belo passeio por toda esta história. O que quero trazer aqui, apenas, é um conjunto de observações de alguém que, profissionalmente falando, tornou-se testemunha de todo este processo. Antecipado pela formação do GTI - Grupo de Teatro Independente que, dentre outros tantos espetáculos, encenou Esperando Godot, de Samuel Beckett, no velho e acanhado espaço do Teatro de Equipe, na rua José Montaury, bem em frente à atual porta de entrada do prédio do DAD, ali conheci alguns destes protagonistas e outros tantos que, depois, seguiriam outros caminhos, como José Ronaldo Falleiro. No caso do Arena, a escolha de O santo inquérito, num momento de ditadura, abordando os processos tirânicos da Inquisição, no Brasil, definia com clareza o caminho do grupo.
Jairo de Andrade e Alba Rosa, mais Câncio Gomes, Antonio Carlos de Sena, Wálmaro Paz, Hamilton Braga, Antonio Carlos Castilhos, dentre outros tantos, assumiram riscos mas também definiram uma alternativa de resistência à conjuntura de então. No apêndice do livro de Rafael Guimarães, leio a relação dos espetáculos e me emociono lembrando de detalhes de cada um. Por exemplo, a estreia de Álbum de família, de Nelson Rodrigues, com a direção de Pereira Dias; ou as encenações de Quando as máquinas param, Cordélia Brasil, Arena conta Tiradentes, que se sucederam, esperando um público que nem sempre aparecia, até o inesperado sucesso de Fundilho de porcelana, de Renato Pereira, que salvaria financeiramente o grupo.
O Arena nunca dormiu nos louros. Fez Prometeu acorrentado, de Ésquilo, com montagem contextualizada; ousou um Brecht de A resistível ascensão de Arturo Ui; estreou Queridíssimo canalha, de Ivo Bender, com direção de Carlos Carvalho; revelou a Consuelo de Castro de À flor da pele; abriu espaços para o Teatro Jornal, de Ana Maria Taborda, a partir do Grêmio Dramático Açores; e, então, chegou à montagem nacionalmente produzida pelo Instituto Goethe, de Mockimpott, de Peter Weiss, direção do espanhol José Luiz Gómez. Tenho orgulho de dizer que participei desta produção, assinando a divulgação e comunicação, ao lado de Flávio Oliveira, respondendo pela trilha sonora. O espetáculo viajou o País inteiro.
O Arena foi adiante: revelou Luciano Alabarse como diretor, trouxe o maldito Plínio Marcos de Jornada de um imbecil até o entendimento e, enfim, é hoje o espaço libertário e utópico que todos conhecemos e cultuamos. Eis o Teatro de Arena, que precisamos sempre respeitar e valorizar, em especial na memória de Jairo de Andrade.
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