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Teatro

- Publicada em 11 de Outubro de 2019 às 03:00

O Theatro da Paz, de Belém

Antonio Hohlfeldt
Numa rápida passagem por Belém do Pará, aproveitei para fazer uma visita técnica ao Theatro da Paz, inaugurado em 1878, portanto, duas décadas depois do nosso Theatro São Pedro. Construído no auge do ciclo da borracha, ao tempo da belle époque, a partir de um projeto do engenheiro militar pernambucano José Tibúrcio de Magalhães, o teatro tem o estilo neoclássico, tendo sido edificado com materiais trazidos da Europa, como o ferro inglês, os cristais franceses e os ornamentos folheados a ouro. Na verdade, embora construído ao final do século XIX, o teatro pouco foi utilizado naquelas últimas décadas, sendo remodelado em 1905, quando incluiu os esmerados ornamentos que hoje podemos vislumbrar, o que lhe dá um pouco um ar de riqueza e, ao mesmo tempo, de mau gosto. As tonalidades de vinho são as mesmas do teatro de Porto Alegre, com tecidos de veludo, em suas quatro frisas (o São Pedro tem apenas três frisas. Hoje em dia, o teatro recebe produção variada, inclusive um festival anual de ópera a partir de produções locais que, por vezes, se articula com o festival de ópera do Teatro de Manaus.
Numa rápida passagem por Belém do Pará, aproveitei para fazer uma visita técnica ao Theatro da Paz, inaugurado em 1878, portanto, duas décadas depois do nosso Theatro São Pedro. Construído no auge do ciclo da borracha, ao tempo da belle époque, a partir de um projeto do engenheiro militar pernambucano José Tibúrcio de Magalhães, o teatro tem o estilo neoclássico, tendo sido edificado com materiais trazidos da Europa, como o ferro inglês, os cristais franceses e os ornamentos folheados a ouro. Na verdade, embora construído ao final do século XIX, o teatro pouco foi utilizado naquelas últimas décadas, sendo remodelado em 1905, quando incluiu os esmerados ornamentos que hoje podemos vislumbrar, o que lhe dá um pouco um ar de riqueza e, ao mesmo tempo, de mau gosto. As tonalidades de vinho são as mesmas do teatro de Porto Alegre, com tecidos de veludo, em suas quatro frisas (o São Pedro tem apenas três frisas. Hoje em dia, o teatro recebe produção variada, inclusive um festival anual de ópera a partir de produções locais que, por vezes, se articula com o festival de ópera do Teatro de Manaus.
Nos seus ornamentos, encontramos uma evidente miscigenação entre elementos da cultura amazônica e da cultura europeia, resultando numa imagem eclética, que contrasta com a valorização dos espaços internos em forte contraste com a alta temperatura dos espaços externos.
Por contratos com entidades terceirizadas, o teatro mantém uma orquestra sinfônica e uma jazz band, que se apresentam permanentemente em suas dependências. A Orquestra inclusive propicia o Festival de Ópera, cuja estreia da temporada de 2019 eu tive a oportunidade de acompanhar, com o ensaio fechado da ópera de Cimarrosa, O casamento secreto.
O teatro mantém um projeto de visitas diárias às suas dependências, pagas. Também garante programação gratuita ao longo das temporadas, de modo que sempre há uma plateia cativa para seus espetáculos. De seus festivais de ópera, sobressai-se o projeto de gravação em DVD das suas produções, que são depois vendidas ao público.
Recebido por seu atual diretor, Daniel Araújo, tenor lírico de profissão, desempenhando atualmente a função diretiva, e a produtora Nandressa Nuñez, tive a oportunidade de conhecer todo o interior do prédio, que passa, neste momento, pela recuperação da estrutura do telhado e substituição de telhas, já tendo implantado o projeto de prevenção de incêndio e de acessibilidade a deficientes. Vinculado à Secretaria de Estado da Cultura, enquanto um departamento, e sem autonomia administrativa ou financeira, o Theatro da Paz padece da falta de independência artística, embora, como refere Daniel, neste momento, graças à clarividência da estrutura político-administrativa da Secretaria, as coisas marchem bastante bem.
Em suas temporadas operísticas, as produções são as mais variadas, de O navio fantasma, de Wagner, à cantata Carmina Burana, de Carl Orff, ou a estreia de obras locais, como a ópera Iara, do paraense José Cândido de Gama Malcher (1853-1921), que escreveu tanto o libreto quanto a partitura de Iara, antecipando-se inclusive a Carlos Gomes, utilizou o nheengatu para a abertura da cena III do primeiro ato. O libreto, contudo, em geral, é escrito em italiano, tendo sido impresso em 1894, em Milão. A obra foi encenada em 2012, com uma recompilação dos textos autógrafos dos libretos anteriores.
Na produção deste ano, a primeira encenação coube a O matrimônio secreto, de Domenico Cimarosa. Na encenação atual, houve alguns rejuvenescimentos, como uma intromissão de passagens da trilha sonora de Titanic ou de A noviça rebelde, sendo que numa das cenas os personagens tiram uma "selfie", para deleite dos espectadores. A preocupação com a atualização da encenação alcança bom resultado, sem perder a qualidade do libreto original de Giovanni Bertati (estreia em 1792, em Viena), trazendo crítica aos modos pelos quais a nobreza e a burguesia de então controlavam os casamentos de suas filhas, ameaçando-as com o convento (tema, aliás, de A religiosa, em que o enciclopedista Denis Diderot também denuncia tais práticas). Aqui, tudo termina bem, e a criatividade do enredo e a comicidade das situações agradam ao público. A encenação vem assinada por Walter Neiva, que modernizou o visual, e Isabela Blanco, designer de joias, que idealizou os figurinos, com Fernando Leite, e a regência de Miguel Campos Neto. O elenco é todo ele formado por cantores selecionados por edital, constituído por Kézia Andrade (soprano), que vive Carolina, a filha mais moça e a heroína da obra; Lanna Bastos (soprano), que encarna Elisetta, a invejosa filha mais velha: Edinéia de Oliveira, (mezzosoprano), a tia Fidalma, a melhor figura em cena, sempre, por seu talento histriônico: Fellipe Oliveira (Conde Robinson (barítono), o nobre que quer trocar Elisetta por Carolina; Saulo Javan (baixo), o velho Gerônimo, burguês que almeja um título de nobreza; e Antonio Wilson (tenor), que vive Paolino, o atormentado apaixonado por Carolina, que enfrenta muitos dissabores até poder ficar com sua amada. Complementam o elenco, Emanuel de Freiras, Kadu Santoro e Lanna Filgueiras, que encarnam os criados da casa burguesa.
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