Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 18 de Abril de 2019 às 03:00

Dois balés, dois autores, duas propostas

Publicada em 1845, quando Prosper Merimée já era respeitado escritor, a novela Carmen acabou tendo um a história editorial e de recriações constantes que tem atravessado décadas (e agora, séculos). Trinta anos depois, Charles Bizet transformava-a em ópera, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy. Um século mais tarde, o coreógrafo Antonio Gades e o cineasta Carlos Saura fizeram nova leitura da obra, no filme Carmen (1983), em que se mesclava à ópera original francesa a dança flamenga da Espanha. Mais que isso, Gades-Saura duplicavam o romance entre a cigana e o soldado, que vem a assassiná-la ao ser traído por ela junto ao toureiro. O sucesso fez com que Gades, que já tinha sua companhia de baile, criasse o próprio balé Carmen que a partir de 1983 tem sido constantemente apresentado em todo o mundo, mesmo após a morte de Gades, em 2004. Esta mesma versão de Carmen já foi anteriormente apresentada em Porto Alegre, pela companhia espanhola, que no início de abril voltou a nos visitar, com aquela mesma obra, lotando o Auditório Araújo Vianna.
Publicada em 1845, quando Prosper Merimée já era respeitado escritor, a novela Carmen acabou tendo um a história editorial e de recriações constantes que tem atravessado décadas (e agora, séculos). Trinta anos depois, Charles Bizet transformava-a em ópera, com libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halévy. Um século mais tarde, o coreógrafo Antonio Gades e o cineasta Carlos Saura fizeram nova leitura da obra, no filme Carmen (1983), em que se mesclava à ópera original francesa a dança flamenga da Espanha. Mais que isso, Gades-Saura duplicavam o romance entre a cigana e o soldado, que vem a assassiná-la ao ser traído por ela junto ao toureiro. O sucesso fez com que Gades, que já tinha sua companhia de baile, criasse o próprio balé Carmen que a partir de 1983 tem sido constantemente apresentado em todo o mundo, mesmo após a morte de Gades, em 2004. Esta mesma versão de Carmen já foi anteriormente apresentada em Porto Alegre, pela companhia espanhola, que no início de abril voltou a nos visitar, com aquela mesma obra, lotando o Auditório Araújo Vianna.
Esta Carmen teatral, digamos assim, talvez provoque menos frisson e menos envolvimento no espectador do que o filme de Saura-Gades. Esta impressão, que me ficou do espetáculo a que assisti, talvez seja resultado mais direto de um evidente distanciamento físico a que o espaço do Araújo Vianna nos condena. Seja como for, e ainda que a companhia tenha se portado com a mesma dedicação de sempre, senti certo distanciamento emocional, uma tendência ao automatismo da coreografia, certa frieza das interpretações que deixou a desejar.
Devo registrar, porém, que esta é a impressão de quem (re)assiste periodicamente ao filme e que já teve a oportunidade de acompanhar por três vezes a montagem de palco. É evidente que, menos que se queira, a gente acaba como que criando certas expectativas (verdadeiras ou falsas) que nem sempre se concretizam, sobretudo porque não correspondem, na verdade, à coreografia verdadeira de Gades.
Seja como for, Carmen agradou sobretudo àqueles que a assistiram pela primeira vez e que se emocionaram com a equipe da companhia de Antonio Gades. Valeu o mito da encenação, tanto que os promotores do evento, aqui no caso, a Opus, sequer se preocuparam em anunciar quem seriam os bailarinos e a distribuição dos papéis, o que é lamentável, de qualquer modo.
Se vale revivals e recriações, na mesma data a Cia. de Deborah Colker também se apresentou na cidade, mas no Teatro do Bourbon Country. Ela mostrou sua nova versão de , coreografia criada em 2005 e que agora foi inteiramente reformulada pela criadora. Na ocasião, seja por que foi (ou estive viajando quando ela visitou Porto Alegre, ou esta obra não chegou jamais a ser mostrada aqui), não assisti a este trabalho, de sorte que, para mim, era como uma estreia. Nó está composta de dois atos e o primeiro ato, por si mesmo, pareceu-me tão completo que fiquei me preocupando o que Deborah Colker iria fazer no segundo. Mas a resposta veio logo que o pano se reabriu. Na primeira parte e a mais longa, do espetáculo, a coreografia vai às raízes primitivas do ser humano e se indaga a respeito daquelas relações primárias, emocionais, sensoriais e instintivas. É como se o ser humano estivesse ainda no Paraíso, inconsciente de suas potencialidades, no caso, de sua eroticidade. No segundo ato, mais curto, há um salto no tempo. Os nós primitivos são colocados na parte do fundo do palco. Na frente, encontramos uma caixa de vida, dentro da qual as personagens se encontram, rechaçam e atraem. As relações, porém, são mais formais, frias, mais conscientes (mas, por isso mesmo, menos emocionais). O contraste entre as duas partes se evidencia ao final do espetáculo. Talvez Colker pudesse ter criado um movimento final, muito curto, que marasse com maior clareza as duas outras partes. Talvez ela tenha considerado isso uma demasiada concessão ao público. De qualquer modo, este é um dos trabalhos mais bem desenvolvidos pelo coreógrafa carioca que evidencia, assim, uma maturidade e um equilíbrio admiráveis (inclusive ao se dispor a uma releitura de sua própria obra).
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO