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Teatro

- Publicada em 05 de Abril de 2019 às 03:00

Outro oportuno texto de Koltés

Como parte dos espetáculos apresentados no âmbito das festividades de mais um aniversário da cidade, a peça Tabataba foi reencenada no espaço da Sala Álvaro Moreyra, neste último domingo, para uma plateia absolutamente lotada, tendo muita gente voltado para casa sem alcançar ingressos. Era um elenco da TV Globo ou algo parecido? Não, em hipótese alguma. Hayline da Rosa Vitória e Phillipe Coutinho foram alunos do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs. Em 2015, realizaram este espetáculo, com orientação dos professores e atores/atrizes Ciça Reckziegel e Clóvis Massa. Foram indicados como atriz e ator revelação, respectivamente, no Prêmio Açorianos de 2016. De lá para cá, têm mantido o espetáculo em apresentações aqui e ali. O texto original é assinado pelo dramaturgo francês Bernard Marie Koltés (Tabataba está publicado pelas Éditions de Minuit, 1990, no mesmo volume de Roberto Zucco, já encenada entre nós). O texto original sofreu alguma adaptação por parte do grupo. O espetáculo conta a história de dois irmãos, negros, talvez numa África assolada pela urbanização ou num bairro negro marginal de qualquer grande metrópole. No original, os irmãos Maïmouna (ela) e Petit Abou (ele) discutem constantemente. Ela é bem mais velha que ele e o criou. Ele agora se rebela contra ela, que se sente envergonhada do comportamento do rapaz: ao invés de conviver com os rapazes de sua idade, beber cerveja ou ir às putas, como ela diz, ele prefere ficar no pátio da casa, junto às velhas e às crianças, sempre limpando e desmontando-remontando uma velha motocicleta Harley que, na versão da peça de Koltés, aparece inclusive como personagem.
Como parte dos espetáculos apresentados no âmbito das festividades de mais um aniversário da cidade, a peça Tabataba foi reencenada no espaço da Sala Álvaro Moreyra, neste último domingo, para uma plateia absolutamente lotada, tendo muita gente voltado para casa sem alcançar ingressos. Era um elenco da TV Globo ou algo parecido? Não, em hipótese alguma. Hayline da Rosa Vitória e Phillipe Coutinho foram alunos do Departamento de Arte Dramática da Ufrgs. Em 2015, realizaram este espetáculo, com orientação dos professores e atores/atrizes Ciça Reckziegel e Clóvis Massa. Foram indicados como atriz e ator revelação, respectivamente, no Prêmio Açorianos de 2016. De lá para cá, têm mantido o espetáculo em apresentações aqui e ali. O texto original é assinado pelo dramaturgo francês Bernard Marie Koltés (Tabataba está publicado pelas Éditions de Minuit, 1990, no mesmo volume de Roberto Zucco, já encenada entre nós). O texto original sofreu alguma adaptação por parte do grupo. O espetáculo conta a história de dois irmãos, negros, talvez numa África assolada pela urbanização ou num bairro negro marginal de qualquer grande metrópole. No original, os irmãos Maïmouna (ela) e Petit Abou (ele) discutem constantemente. Ela é bem mais velha que ele e o criou. Ele agora se rebela contra ela, que se sente envergonhada do comportamento do rapaz: ao invés de conviver com os rapazes de sua idade, beber cerveja ou ir às putas, como ela diz, ele prefere ficar no pátio da casa, junto às velhas e às crianças, sempre limpando e desmontando-remontando uma velha motocicleta Harley que, na versão da peça de Koltés, aparece inclusive como personagem.
Através do texto, que é curto (no original, nove páginas, apenas) discutem-se exatamente os preconceitos e estereótipos existentes em toda e qualquer sociedade. Neste caso, numa sociedade relativamente fechada, o descumprimento dos papéis sociais esperados para cada um leva a uma certa marginalização. Se o Petit Abou (Pequeno Abou) não faz a sua parte, também a irmã é socialmente faltosa: afinal, não casou e ficou solteirona, a cuidar do irmão mais novo.
A encenação do grupo é muito simples, atendendo à diretiva de Sandino Rafael. O palco, nu, tem apenas a motocicleta, reproduzida em madeira compensada, com uma projeção fotográfica da famosa marca, num dos lados. No mais, os dois intérpretes estão soltos em cena, ajudados pelo espaço de aproximação que a Sala Álvaro Moreyra lhes proporciona. Apesar do calor terrível que se enfrentou (o Centro Municipal de Cultura está novamente sem ar refrigerado???), a encenação teve forte acompanhamento do público que chegava a interferir nas falas dos personagens, aliás, vivenciados com segurança e com muita garra pelos dois intérpretes, que guardaram ritmo constante e mostraram convicção em seu trabalho. A destacar, na encenação, um feliz casamento entre o trabalho limpo e direto dos intérpretes, e o bom uso da tecnologia contemporânea, com uma câmera de mão acoplada à moto, multiplicando a imagem dos personagens, ainda que a projeção das mesmas, num telão gigante ao fundo do espaço cênico, fosse bastante artesanal, ainda que bem realizado.
Em suma, a política adotada pela Secretaria Municipal de Cultura de valorizar espetáculos, grupos e artistas fora do eixo central de nossos teatros é positiva. Neste caso, a simples sobrevivência do espetáculo, a reação do público que acorreu ao mesmo e sua adesão à encenação evidenciam um potencial de comunicação muito forte em relação ao texto, evidenciando sua oportunidade.
De fato, este trabalho deveria ganhar uma temporada de final de semana: mostrou que é capaz de atrair público e de dar um recado muito claro e objetivo, sobretudo nos tempos em que vivemos. É, pois, de se considerar tal perspectiva, louvando aqueles que, respondendo pela programação das festividades alusivas à Semana de Porto Alegre, lembraram-se deste trabalho e o devolveram à cena. Seu sucesso evidencia que ele merecia.
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