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Teatro

- Publicada em 01 de Março de 2019 às 01:00

Veneza evidencia o convívio entre o antigo e o moderno

Passeio pelos canais brinda o visitante com cenas prosaicas da vida local

Passeio pelos canais brinda o visitante com cenas prosaicas da vida local


pixabay/divulgação/jc
Um dos sonhos que minha mulher e eu tínhamos era visitar Veneza e Florença. Graças a Giovanni Ricciardi, queridíssimo cicerone pela Itália, articulamos uma viagem de dois dias. No primeiro, saímos às 7h. Em três horas, sem qualquer atraso, chegamos a Veneza. Sabíamos que havia previsão de chuva. Mal desembarcados, tratamos de apanhar uma gôndola e fazer o obrigatório passeio pelos canais da cidade. Há sempre o risco, que se concretizou depois, de os passeios serem suspensos em caso de chuva. Mas lá fomos nós pelo Grande Canal e por alguns canaletes. Comparando, é como numa vila popular a gente apanhar aquelas vielas para transitar pelo espaço visitado.
Um dos sonhos que minha mulher e eu tínhamos era visitar Veneza e Florença. Graças a Giovanni Ricciardi, queridíssimo cicerone pela Itália, articulamos uma viagem de dois dias. No primeiro, saímos às 7h. Em três horas, sem qualquer atraso, chegamos a Veneza. Sabíamos que havia previsão de chuva. Mal desembarcados, tratamos de apanhar uma gôndola e fazer o obrigatório passeio pelos canais da cidade. Há sempre o risco, que se concretizou depois, de os passeios serem suspensos em caso de chuva. Mas lá fomos nós pelo Grande Canal e por alguns canaletes. Comparando, é como numa vila popular a gente apanhar aquelas vielas para transitar pelo espaço visitado.
As casas evidenciam a deterioração dos séculos e o gasto contínuo provocado pelo movimento das ondas. As madeiras apodrecidas, as portas de acesso simplesmente desapareceram, engolidas pela água. Mas se o visitante olhar mais acima, surpreende-se com a vitalidade da maioria das casas, ocupadas, a seguirem uma vida dinâmica. Há casarões de pedra, marcados por brasões, grandes portas de madeira envidraçadas animadas por extensas grades que, não só defendem, quanto enfeitam as construções. Em muitas delas, o reboco cedeu e caiu; noutras, alguns tijolos se esfarinharam; muitas apresentam escadarias - maiores ou menores - em mármore carcomido por milhões de passos ao longo de séculos; algumas poucas guardam apenas as paredes externas; pelas aberturas, labirínticas trepadeiras nascem da água e sobem até os telhados, hoje inexistentes; o contraste se efetiva: de um lado, vivacidade, de outro, abandono e nostalgia... Em Veneza, as casas são de tons claros ou paredes coloridas, o que as torna alegres e convidativas. Em muitas janelas, pequenos vasos com flores da estação ornam os espaços onde, talvez, em algum momento, uma jovem se debruça para ver o namorado cruzar pelo canal...
Da gôndola, parece que as casas desfilam numa espécie de fita cinematográfica de baixa velocidade. Aqui e ali, homens trocam ideias, fumando; mulheres comentam... o quê, mesmo? Tudo em altos brados, cheio de gestos. Não há como ter segredos... Algumas construções inclinam-se em direção ao canal, atraídas por suas águas, prestes a cair a qualquer momento, desintegrando-se completamente. Guardam há séculos as histórias de quem ocupou aqueles espaços.
Não há como se chegar a elas a não ser pela água. O romantismo que todo o turista busca é a gôndola. Mas hoje em dia existem pequenos e médios barcos a motor que cruzam estes canais, todos obedecendo rigidamente a regras de convivência (diga-se de passagem, muitíssimo melhor que os motoristas de Roma ou de Nápoles, que não demonstram nenhum respeito pelo pedestre, nem mesmo em faixas de segurança ou com semáforo verde). Assim convive o tradicional e o moderno, sem maiores percalços.
Nossa gôndola tinha o piso pintado de vermelho, reminiscência de alguma realeza? Desfilamos ao longo de prédios de pedra, com uma arquitetura muitas vezes mais moura que propriamente europeia, graças a seus criativos arabescos. Fazia frio, o gondoleiro estava bem abrigado, com um grosso casaco e um imenso cachecol em torno do pescoço.
Depois de um simples, mas reconfortante almoço num escondido restaurante, seguimos para a Praça San Marco, a pé. Nas paredes, sempre duas pequenas placas, com setas, combinam-se, indicando: "Per Rialto" e "Per S. Marco", quer dizer, a ponte e a praça. Lá vamos nós, dobrando ruelas, cruzando pequeninas praças que mais parecem jardins. Cerca de vinte minutos de caminhada, e eis-nos na praça.
Bondade da municipalidade ao orientar o turista? Não, sagacidade dos comerciantes que, como nas áreas do chamado comércio livre dos aeroportos, puxam-nos, empurram-nos e nos atraem ao longo de todas estas portas e janelas absolutamente tomadas por lojas ocupadas por todos os produtos que se possa uma vez imaginar. Em síntese: imensurável centro de compras organizado cuidadosamente para nos fazer gastar. Joias se seguem a comidas. Bebidas estão ao lado de doces. Lembrancinhas baratas ao lado das famosas e cobiçadas (e caras) máscaras do Carnaval de Veneza... Há lojas sofisticadíssimas, ao lado de simples espaços que, no entanto, parecem nos acarinhar... Subimos e descemos pequeninas pontes que cruzam canais, inclusive a tal "Ponte Rialto", a mais alta de todas, com cobertura superior; escolhemos entre os dois caminhos que a bifurcação nos oferece, e enfim chegamos à praça. Como tudo, na Europa, nesta época, e apesar da chuva e/ou da neve, existem obras no prédio da basílica. A colossal escultura do Leão de Veneza, de origem desconhecida, desde o século XIII encima a colunata de pelo menos 10 metros de altura, tendo uma gaivota (esta natural) sobre sua cabeça. Ao lado, o Palácio Ducal.
A praça está lavada pela chuva. Suas lajotas derramam lágrimas por um dos invernos mais molhados que a cidade já viu. As gôndolas, cobertas, balançam, solitárias, nas marolas. Me senti fazendo parte de uma das cenas do filme de Visconti... Vencido o desafio, resolvemos provar doces e tomar um bom café. O sol resolve reaparecer, tímido. Mas é hora de voltar para a estação de trem: próxima parada, Florença, onde vamos dormir.
 
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