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Teatro

- Publicada em 15 de Fevereiro de 2019 às 01:00

Pompeia e a sombra do Vesúvio (ainda)

Uma das maiores vontades minhas, na Itália, era visitar Pompeia. Para isso, programei uma visita a Nápoles. A partir de Roma, são cerca de três horas até Nápoles. Depois, toma-se uma espécie de trem metropolitano, como o nosso Trensurb. Aliás, como nossos trens, tudo é pichado, destruído, desrespeitado, inclusive as placas indicativas, o que evidencia o desprezo dos jovens italianos por sua cultura e os visitantes de seu país. Na própria estação, há uma bilheteria específica para o Vusiviniano, que inclui Herculano e/ou Pompeia.
Uma das maiores vontades minhas, na Itália, era visitar Pompeia. Para isso, programei uma visita a Nápoles. A partir de Roma, são cerca de três horas até Nápoles. Depois, toma-se uma espécie de trem metropolitano, como o nosso Trensurb. Aliás, como nossos trens, tudo é pichado, destruído, desrespeitado, inclusive as placas indicativas, o que evidencia o desprezo dos jovens italianos por sua cultura e os visitantes de seu país. Na própria estação, há uma bilheteria específica para o Vusiviniano, que inclui Herculano e/ou Pompeia.
Mas a viagem é simples, barata e rápida, não mais de meia hora. Uma parada antes passa-se por Herculano, que foi a outra cidade igualmente destruída. Minha visita ocorreu em janeiro, época da chamada baixa estação. Ainda assim, o trem estava lotado. E o espaço de Pompeia absolutamente tomado pelos visitantes, sobretudo aqueles organizados em grupos de turistas, com seus respectivos guias a berrarem informações decoradas e portando suas bandeirinhas. A gente precisa tentar ficar sempre à frente deles, se não, é um desastre.
Preferimos, é claro, a visita individualizada. Poderíamos alugar por 15 euros um equipamento eletrônico que, em vários idiomas, orienta o visitante em sua caminhada e vai repassando suas informações. Aqui, de novo, escolhi o individualismo. Não desejava ter as informações, isso eu podia buscar depois, na internet. Eu queria era viver o clima de Pompeia, imaginar, ouvir o silêncio, ver e viajar no tempo. E assim foi minha viagem. Durante quase seis horas andei pelas ruas de Pompeia. Não visitei tudo. É preciso mais tempo. Muitas vezes, a vontade era parar, sentar e ficar como que ouvindo os lamentos dos mortos.
Quando se chega ao local, há que enfrentar uma fila inicial para a aquisição de bilhetes. Depois, sobe-se a colina e fica-se livre para caminhar à vontade. Podemos ir ao anfiteatro, chegar aos espaços de guarda de peças consideradas eróticas e que só recentemente foram liberadas para a visita pública. O que é impactante é que, em 2019, a gente reencontra a vida cotidiana da cidade, inclusive a partir de modelos, criados ainda no final do século XIX, de corpos de pessoas surpreendidas pelos 25 metros de cinza a mais de 250 graus centígrados de calor que se abateram sobre a cidade, certamente no ano de 79 d.C., mas em data que se situa entre 24 de agosto e 23 de novembro. O episódio tem um testemunho vivo, no registro de Plínio, o jovem, que se encontrava em Miseno, no outro lado da baía de Nápoles. O Vesúvio jogou a matéria de suas vísceras a mais de 15 quilômetros de distância, atingindo ambas as cidades. No caso de Pompeia, havia mais de 20 mil habitantes que morreram instantaneamente devido ao calor, sobretudo.
Esta é uma das experiências mais impactantes como disse: o silêncio grita e é de se lastimar, apenas, que as visitas, evidentemente liberadas a todos os que pagaram seu ingresso, atrapalhem a plena percepção da vida da cidade e de seu ambiente. A gente precisa se esforçar para se distanciar desses visitantes intrometidos e poder conviver com os sinais pulsantes da vida de Pompeia e de seus moradores.
O desastre de Pompeia era uma catástrofe anunciada. A cidade, construída séculos antes dos romanos, já havia sido dizimada e destruída por diferentes camadas de lavas. As escavações e o uso de datação pelo carbono evidenciam que, pelo menos por duas vezes antes, o Vesúvio mostrara sua força em séculos anteriores.
Hoje em dia, percorre-se a cidade com certa irresponsabilidade. Ela se encontra numa espécie de platô, próximo ao mar, mas bastante acima dele. Por onde quer que se circule, a assombração do Vesúvio nos persegue. Na verdade, pelo roteiro da visita oficial, a gente entra nas ruínas mantendo a montanha sempre à nossa esquerda. À medida que vamos nos adentrando nas ruelas e cruzamentos, perdemos esta referência que precisa, contudo, ser reencontrada para a saída.
Pompeia é a ponte entre a Roma clássica e sua descendência: as placas em latim vulgar, as referências ao comércio, a plenitude destas emoções do dia a dia da cidade estão ali, fortes e evidentes, à observação e à emoção de cada visitante que, mais do que tirar a foto ou buscar uma selfie, queira, efetivamente, viver a cidade.
Fui em um dia entre pouco ensolarado e nublado, com uma temperatura baixa. Certamente a visita não deve acontecer no verão local, pelo evidente calor. Portanto, quem quiser se organizar, tente visitar Pompeia entre outono e primavera. Poderá, inclusive, ir até a boca do vulcão, passeio que, infelizmente, nesta época, não está disponibilizado para o visitante. Por fim, se agora, na chamada baixa temporada, já tinha gente demais na visita, imagine-se na alta temporada. Corre-se o risco de acordar o Vesúvio, de novo.
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