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- Publicada em 28 de Dezembro de 2018 às 01:00

Retorno de O rei da vela

Espetáculo de Zé Celso Martinez Corrêa completou 50 anos da estreia

Espetáculo de Zé Celso Martinez Corrêa completou 50 anos da estreia


JENNIFER GLASS/DIVULGAÇÃO/JC
Já no segundo semestre, agosto se iniciou com a visita de Antonio Fagundes e sua Baixa terapia, peça que, por trás da aparência de comédia, propõe uma contundente crítica à violência sexual em nosso País. A destacar, a presença hilária e brilhante da atriz gaúcha Ilana Kaplan. Ainda vindo de fora, tivemos o espetáculo O pai, montagem emocionante, com outro ator de referência do centro do País, Fúlvio Stefanini. Neste caso, discute-se outro tema central da realidade brasileira: o que fazer com os velhos em nossa atual sociedade.
Já no segundo semestre, agosto se iniciou com a visita de Antonio Fagundes e sua Baixa terapia, peça que, por trás da aparência de comédia, propõe uma contundente crítica à violência sexual em nosso País. A destacar, a presença hilária e brilhante da atriz gaúcha Ilana Kaplan. Ainda vindo de fora, tivemos o espetáculo O pai, montagem emocionante, com outro ator de referência do centro do País, Fúlvio Stefanini. Neste caso, discute-se outro tema central da realidade brasileira: o que fazer com os velhos em nossa atual sociedade.
Fechando o mês, uma produção local, mas com ampla participação alemã, através do Goethe Institut, estrearia aqui e logo depois viajaria para a Europa: trata-se de Pátria estrangeira, pesquisa e texto do alemão Jürgen Berger, com direção da paraense Mirah Laline, radicada primeiramente entre nós e, atualmente, trabalhando na Alemanha. A peça fala dos imigrantes e de suas difíceis adaptações pelo mundo, ainda um tema central para o século XXI, em qualquer lugar do mundo. Ao final do mês, tivemos dois espetáculos locais de dança, o da Cia. Geda, e o do grupo Macarenando, que reorganizou e reapresentou Das tripas sentimento, com trilha sonora de Elis Regina.
Mas setembro foi basicamente ocupado pelo 25º Porto Alegre em Cena, nosso mais amplo e tradicional festival de teatro, completando um quarto de século, que trouxe um sem número de atrações, sobressaindo-se, contudo, a produção de Grande sertão: vereadas, baseado no romance de Guimarães Rosa, em trabalho assinado por Bia Lessa. As quase duas dezenas de espetáculos diversificaram-se entre temas atuais: novamente, o da imigração foi destaque (o chileno 40 mil Km); o da violência contra a mulher (o francês A Bergman affair), ou textos que falavam de nossas feridas, como Interior ou Nossos mortos, além de trabalhos eminentemente experimentais, como Preto, Breguetu ou espetáculos locais, como A mulher arrastada, que viria a ganhar o Prêmio Braskem deste ano para os espetáculos locais, Imobilhados e Pequeno trabalho para velhos palhaços.
Em outubro, a Pucrs formalizou a institucionalização de sua Rua da Cultura, estreando espaços culturais, em pleno campus universitário. Para celebrar o evento, Fernanda Montenegro apresentou seu trabalho solo Nelson Rodrigues por ele mesmo, um acontecimento em si mesmo, momento extraordinário de reencontro com a atriz - Salão de Atos da universidade absolutamente lotado - e uma reavaliação da dramaturgia de Nelson Rodrigues.
Neste mesmo mês celebrou-se, mais uma vez, o Festival de Teatro de Bonecos de Canela, a Mostra de teatro do DAD - Departamento de Arte Dramática da Ufrgs, e a estreia da peça Causos do Coronel, homenagem mais do que merecida à passagem dos 80 anos de idade do poeta Luiz Coronel.
Outubro, contudo, parou para receber O rei da vela, do diretor Zé Celso Martinez Corrêa, do Teatro Oficina, de São Paulo, comemorando 50 anos de estreia daquele espetáculo que trazia, pela primeira vez, então, ao palco, o texto original do modernista Oswald de Andrade a respeito da chegada do capitalismo como sistema de economia e de cultura no Brasil. A peça, ultrapassada em alguns poucos aspectos, tristemente atualizada na maioria de outros, foi um evento na capital bandeirante quando de sua estreia - eu estive lá, posso testemunhar - e continua um grande espetáculo, meio século depois. Até pela proximidade com o segundo turno das eleições nacionais, a encenação acabou ganhando foco ideológico, imediato, o que, às vezes, diminuiu-a, infelizmente.
O mês ainda trouxe o Bento em dança, tradicional festival de dança da cidade de Bento Gonçalves, que tem revelado muitos bons bailarinos entre nós.
De fora, recebemos Mercado amoroso, comédia sobre as relações amorosas; Calígula, de Albert Camus, ganhou leitura local, assim como o hilário Tempestade de intrigas propôs releitura dos antigos romances-folhetim, enquanto Fafá de Belém passava pela cidade para um espetáculo musical e dramático baseado nas composições de Luiz Coronel em torno da personagem Leontina das Dores, mais uma vez comemorando seus 80 anos de vida.
O espetáculo Joias do Ballet russo possibilitou que conhecêssemos outros artistas da dança clássica da antiga União Soviética. E Carlitos relembrou o genial ator do cinema mudo, em musical que lotou o teatro local e exigiu sessões extras para dar conta de todos os que queriam assistir àquele trabalho.
Em novembro, um espetáculo que chamou muito a atenção foi Metamorphosis, uma releitura do clássico de Franz Kafka, resultando num espetáculo criativo e extremamente comunicativo.
Houve outros trabalhos que quebraram as rotinas das temporadas locais, como o infantil Bandelê ou o grupo brasiliense que mostrou Punaré & Baraúna/Ensaio geral, surpreendendo a todos os que os assistiram no teatro da Santa Casa.
O Theatro São Pedro e o Sesc se aliaram para promover o 3º Gestos Contemporâneos - que é uma mostra de dança contemporânea, enquanto Gabrielle Fleck propunha uma aproximação com os musicais da Broadway em Broadway em 4 tempos, e Júlio Conte trouxe a oitava montagem, ainda dirigida por ele, do clássico Bailei na curva, escrita lá nos anos 1980, mas que continua dialogando com as atuais gerações (que dirá aquelas antigas?).
O fim do ano, com dezembro, não arrefeceu o movimento cênico da cidade. Houve estreias locais, como Olga, a respeito da célebre personagem assassinada pelo Estado Novo do Brasil, que a entregou à Gestapo nazista, ou as visitas de peças como Fulaninha e Dona Coisa, dirigida por Daniel Herz, e Peça do casamento, de Edward Albee, que encerrou a temporada do ano no Theatro São Pedro. Obra pouco conhecida no Brasil, é, no entanto, um dos textos mais valorizados de Edward Albee, que disseca, ferinamente, a estrutura do casamento - a instituição ocidental burguesa por excelência do século XX - numa obra de não mais que uma hora de duração.
O ano terminou com a indicação de Beatriz Araujo, ex-Secretária de Cultura da cidade de Pelotas, como a nova titular desta mesma pasta, mas agora na futura administração estadual de Eduardo Leite que também devolveu àquela secretaria a sua exclusividade de objetivos e ações.

Os melhores da temporada

Espetáculos
Tremor, da Cia. Rústica, direção de Patrícia Fagundes;
Arena selvagem, do Grupo Cerco, direção de Inês Marocco;
Inimigos na casa de bonecas, Projeto Gompa, direção de Camila Bauer;
Metamorphosis, do In-Coletivo Cênico, direção de Carolina Garcia;
Bailei na curva, texto e direção de Júlio Conte;
Direção
Adriane Mottola, por Pequeno trabalho para velhos palhaços;
Julio Conte, por Latidos;
Néstor Monasterio, por Palco Babylonia;
Inês Marocco, por Arena selvagem;
Carolina Garcia, por Metamorphosis;
Julio Conte, por Bailei na curva;
Ator
Zé Adão Barbosa, por Pequeno trabalho para velhos palhaços;
Néstor Monasterio, por Palco Babylonia;
Atriz
Sandra Dani, por Pequeno trabalho para velhos palhaços;
Arlete Cunha, por Pequeno trabalho para velhos palhaços;
Nora Prado, por Latidos;
Catharina Conte, por Latidos;
Heloísa Palaoro, por Palco Babylonia;
Priscila Colombi, por Tremor;
Desirée Pessoa, por Olhar de frente;
Celina Alcântara, por A mulher arrastada;
Ator coadjuvante
Fernando Washburger, por Palco Babylonia;
Melhor cenário
Zoé Degani, por Pequeno trabalho para velhos palhaços;
Rafaela Silva, por Olhar de frente;
Rodrigo Shalako, por Metamorphosis;
Figurino
Daniel Lion, por Pequeno trabalho para velhos palhaços; Arena selvagem; e Metamophosis;
Trilha sonora
Flávio Bicca, por Bailei na curva.