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Retrospectiva 2018

- Publicada em 21 de Dezembro de 2018 às 01:00

Muitas salas fecharam, mas o pior foi a morte de Eva Sopher

Nas artes cênicas, o ano de 2018 começou com alguma apreensão sobre o Auditório Araújo Vianna, pois que se antecipava que aquele espaço estava garantido apenas até a metade do próximo ano de 2019. Isso não impediria que o auditório funcionasse fortemente ao longo de 2018, com uma série de excelentes atrações, inclusive nas artes cênicas. Enquanto isso, o Theatro São Pedro abria as comemorações de seus 160 anos, antecipando uma agenda ampla e inclusiva.
Nas artes cênicas, o ano de 2018 começou com alguma apreensão sobre o Auditório Araújo Vianna, pois que se antecipava que aquele espaço estava garantido apenas até a metade do próximo ano de 2019. Isso não impediria que o auditório funcionasse fortemente ao longo de 2018, com uma série de excelentes atrações, inclusive nas artes cênicas. Enquanto isso, o Theatro São Pedro abria as comemorações de seus 160 anos, antecipando uma agenda ampla e inclusiva.
Por outro lado, o teatrinho do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, que havia aberto suas portas em 2017, já as estava fechando, diante de desavenças entre o grupo que havia locado o espaço e a direção da instituição. Também o Teatro Novo, no DC Shopping, no bairro Navegantes, encerrava suas atividades, após a morte de seu mentor, Ronald Radde.
Ou seja, o ano não começava muito bem. Mas, alheio a tudo isso, o Porto Verão Alegre anunciava sua programação, inclusive com espetáculos de fora da cidade, do Estado e até do País. O evento estreava uma peça com produção local, financiada pelo próprio festival: Pequeno trabalho para velhos palhaços, de Matei Visniec, com direção de Adriane Mottola, enquanto de fora vinham trabalhos como Mulheres negras (São Paulo); Os olhos que tivemos (Mato Grosso); Seu Bom Fim (Bahia); e, de Portugal, Repertório Osório. Houve, ainda, outras estreias locais, como Com a corda toda (André Damasceno), Latidos (texto de Júlio Conte, excelente), Lembranças no Lago Dourado (direção de Nora Prado, espetáculo lírico e muito bonito), além das indefectíveis reprises que levam milhares de pessoas a nossas salas de teatro.
Mas as férias passaram, e a temporada, propriamente dita, teve início com a visita de A história de nós dois, de Lícia Manzo, dirigida por Ernesto Piccolo, com as interpretações de Alexandra Richter e Bruno Garcia. Localmente, houve a estreia de Baila melancia, que veio do Interior, com dramaturgia baseada no conto Melancia-Coco verde, de João Simões Lopes Neto.
O grande espetáculo do início do ano, contudo, foi Latidos, de Júlio Conte, estreada por Nora Prado e Catharina Conte. Depois de Bailei na curva, que o consagrou, Conte teve boas e menos boas peças teatrais, mas nunca deixou os palcos. Com Latidos, ele voltou a seus melhores momentos. A curta peça é precisa, cirúrgica, mesclando equilibradamente drama e comédia.
Vindo de fora, mas com intérprete gaúcha, Ana Guasque, A noiva de cristal foi um espetáculo interessante, embora não perfeito.

O grande luto

Eva Sopher nos deixou em fevereiro

Eva Sopher nos deixou em fevereiro


ANTONIO PAZ/JC
O verão, entretanto, trouxe um enlutamento esperado, mas nunca desejado: a morte de Eva Sopher, a grande dama do Theatro São Pedro que, ao longo de 40 anos, animou-o diuturnamente. Ficou um vazio, que ainda não foi preenchido.
Em março recebemos uma remontagem histórica, Greta Garbo, quem diria, acabou no Irajá, comédia escrita por Fernando Melo, lá nos anos 1970, em plena ditadura. É uma comédia ácida que, a partir da solidão de um gay, repensa a realidade imediata do País. O grupo que apresentou o espetáculo vinha de Novo Hamburgo. O mês nos reservou ainda uma curiosa montagem de A very Potter musical, com atores amadores, mas nada superou a performance de Cristiane Torloni, que reviveu a diva Maria Callas, a partir do texto de Terrence McNally. O espetáculo foi inesquecível. O mês fechou com o Balé de São Petersburgo, um dos tantos grupos do Leste europeu que nos visitam periodicamente.
Em abril, os espetáculos falaram da moda das selfies, com o espetáculo justamente denominado Selfie, com direção de Marcos Caruso; e a Vai!ciadeteatro, de Vinicius Meneguzzi, festejava dez anos com o espetáculo Bobo. Enquanto a Cia. Municipal de Dança de Porto Alegre estreava Caverna, no Theatro São Pedro, com excelente qualidade, e o grupo Macarenando Dance Concept voltava a se apresentar com seu trabalho. Houve, ainda, a 28ª Semana de Teatro de Bonecos e o grupo Stravaganza, com direção de Adriane Mottola, trazia o texto de Rodrigo Garcia Espalhem minhas cinzas na Eurodisney
De fora do Estado, recebemos, ainda, Traga-me a cabeça de Lima Barreto, espetáculo sobre o escritor carioca, e Palco Babylônia.

O ano de Nelson Rodrigues

Maio chegou com o extraordinário Senhora dos afogados, de Nelson Rodrigues, com direção de Jorge Farjalla. Tivemos a visita do Balé Nacional Folclórico da Rússia, mais um espetáculo caça-níqueis que veio do Leste, e a reprise do balé Cão sem plumas, de Deborah Colker. Ainda recebemos a visita do Teatro Bolshoi, de Joinville, a que, mais tarde, eu assistiria, na sua própria cidade, num trabalho admirável.
No mês tivemos o 13º Palco Giratório, o festival que o Sesc realiza. Um dos trabalhos foi um Hamlet pretensamente shakespereano, da Armazém Cia. de Teatro, e que mais tarde retornaria ao Theatro São Pedro, montagem pretensiosa e equivocada. O grande espetáculo foi Suassuna - O auto da terra do sol, da Cia. Barca dos Corações Partidos, com enorme sucesso. Também tivemos o II Festival Internacional de Dança, promovido pelo balé Bublitz e Valsa nº 6, de Nelson Rodrigues, numa surpreendente e eficiente direção de Caco Coelho.
 

Uma visita perturbadora

A visita da velha senhora, com Denise Fraga, um dos destaques do ano

A visita da velha senhora, com Denise Fraga, um dos destaques do ano


CACA BERNARDES/DIVULGAÇÃO/JC
Em junho assistimos a, sucessivamente, espetáculos locais como Dali - circo/teatro e o excelente Tremor, além do impactante Inimigos na casa de bonecas que, a partir da obra original de Henrik Ibsen, Camila Bauer idealizou e dirigiu, tendo no elenco, entre outros, a Sandra Dani, em inebriante interpretação. O grande destaque do mês, contudo, foi a permanência, por duas semanas, no palco do Theatro São Pedro, da obra A visita da velha senhora, de Friedrich Dürrenmatt, com direção e interpretação de Denise Fraga, espetáculo cuja atualidade marcou profundamente a temporada deste ano.
O mês de julho chegou e, com ele, prosseguiram as peças baseadas em textos de Nelson Rodrigues que, neste ano, visitaram-nos sucessivamente. Agora, era a vez do diretor Gabriel Vilela assinar a montagem de Boca de ouro, talvez uma das "tragédias cariocas" mais conhecidas do dramaturgo recifense. Já transformada em filme, por Nelson Pereira dos Santos, a montagem de Vilela foi um trabalho excepcionalmente criativo e desafiador, mostrando todas as potencialidades inimagináveis dos textos de Nelson Rodrigues.
A produção local de Pq casamos?, com texto de Vitório Beretta, direção de Néstor Monastério e interpretação do próprio Beretta e Suzi Martinez, logo se transformaria na comédia do ano. Também estreou Boca no mundo, tocante espetáculo da Cia. Rústica, com direção de Patrícia Fagundes, na interpretação-solo de Carlos Mödinger. A grande novidade do mês, contudo, foi a estreia do ópera O quatrilho, baseada no romance homônimo de José Clemente Pozenato, com música de Vagner Cunha e libreto do próprio romancista, para a regência do maestro Antonio Borges-Cunha, enquanto o Grupo Cerco distanciava-se de suas produções anteriores e mostrava Arena selvagem, trabalho experimental de excelente qualidade, com direção de Inês Marocco. Na dança, mas ainda com produção local, tivemos a estreia da nova coreografia de Eva Schul, Fisiologia do desespero, com um resultado extremamente criativo. Desirée Pessoa, por seu lado, estreou Olhar de frente, novo trabalho solo a respeito da violência contra as mulheres em nossa sociedade.
Encerrando o mês, O rei do mundo fez uma releitura atualizada do clássico de Henrik Ibsen Peer Gynt com interpretação central de Eduardo Sterblich e direção de Roberto Alvim, sempre provocante e renovador.
*Na semana que vem, a segunda parte da retrospectiva 2018