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Teatro

- Publicada em 23 de Novembro de 2018 às 01:00

Um beijo brasileiro entusiasmante

O simples fato de o espetáculo Brazil beijo resultar de um trabalho colaborativo entre uma artista de Israel e um grupo coreográfico do Brasil, neste caso, de Porto Alegre, já justificaria a gente prestar atenção neste trabalho. Apesar deste Brazil com "z" absolutamente desnecessário, mesmo que se leve em conta que o trabalho possa vir a excursionar até mesmo no exterior. Aliás, seria uma razão a mais para reafirmar a grafia de "Brasil", que é como escrevemos o nome de nosso País.
O simples fato de o espetáculo Brazil beijo resultar de um trabalho colaborativo entre uma artista de Israel e um grupo coreográfico do Brasil, neste caso, de Porto Alegre, já justificaria a gente prestar atenção neste trabalho. Apesar deste Brazil com "z" absolutamente desnecessário, mesmo que se leve em conta que o trabalho possa vir a excursionar até mesmo no exterior. Aliás, seria uma razão a mais para reafirmar a grafia de "Brasil", que é como escrevemos o nome de nosso País.
Mas há muita outra coisa absolutamente elogiável e entusiasmante neste espetáculo. Primeiro que tudo, a qualidade alcançada pelos cinco bailarinos, Fernando Queiroz, Maurício Miranda, Pamela Agostini, Stephanie Cardoso e Victória Terragno. Não posso individualizá-los, porque não os conheço pessoalmente. Mas, por outro lado, justamente por uma das características do trabalho é ser um trabalho intensamente coletivo, talvez até fosse injusto destacar esta ou aquela figura. É o todo que chama a atenção: sua unidade de movimentos, sua força e expressividade, seu preparo físico exemplar, enfim, todo o conjunto que resulta num trabalho admirável.
O outro elemento a destacar é o trabalho criativo da coreógrafa israelense Orly Portal. Não sei o quanto ela conhecia antes o Brasil e sua cultura, o quanto havia convivido com nosso cotidiano, mas mesmo para um criador brasileiro o trabalho coreográfico nos chamaria positivamente a atenção e faria com que vibrássemos com ele, que dirá no caso de uma artista estrangeira. Há um altíssimo grau de adesão e compreensão, por parte de Portal, aos valores nacionais, no ritmo, nos movimentos corporais, na ginga, na proposta final como um conjunto que reúne, admiravelmente, de um lado a tradição africana que, evidente, faz parte de nossas raízes, mas não deixa de ser, para nós, passado, e, de outro, o presente traduzido por aquilo que hoje é nosso presente, na ginga do samba, por exemplo.
Completa-se esta identificação com os excelentes figurinos da própria coreógrafa e de Valentina Stets, mais a articulação da trilha sonora, também responsabilidade da coreógrafa, a evidenciar que estamos diante de uma obra eminentemente autoral, mas de uma autoria que se reparte entre compreensão e empatia pelo que buscou representar e interpretar.
No primeiro semestre deste ano, escrevi, aqui na coluna, a respeito de um outro trabalho da Companhia Municipal de Dança de Porto Alegre, apresentado durante o Palco Giratório do Sesc, que havia me surpreendido pela contemporaneidade de seu vocabulário artístico. Pois aqui, uma parte bem reduzida do grupo - são apenas cinco bailarinos, imagine-se que não necessariamente os melhores, mas os mais aptos para este tipo de trabalho, que tem muito de resistência física - demonstram um preparo físico e de grupo simplesmente admiráveis.
O desafio foi ainda maior porque a noite em que o grupo se apresentou, na semana passada, foi provavelmente, a noite mais quente deste ano, até o momento, e nem o ar-condicionado evitou que os bailarinos suassem copiosamente, perdendo, por certo, alguns bons quilos com a situação, que acarretou com certeza alguma desidratação. Nada disso tirou o entusiasmo e a dedicação do grupo, que evidenciava prazer e concentração no trabalho que fazia, o que ficou ainda mais claro no momento dos agradecimentos à plateia, entusiasmada. Composta prioritariamente por jovens estudantes de alguma escola municipal, a gurizada nem sempre prestou atenção, mas soube reconhecer a força comunicativa do trabalho, aplaudindo entusiasmada e eufórica.
Sempre me posicionei contra a existência de uma companhia permanente de dança na cidade. Mas Airton Tomazzoni, que idealizou o grupo, tem acertado no modo de conduzi-la. Agora, com o acréscimo valioso da presença de Paula Amazonas, recém-egressa do exterior. O grupo vai ao exterior, e isso vai ser excelente. Certamente vai amadurecer mais, vai aprender muito, e quem vai ganhar, acima de tudo e de todos, é a arte da dança na cidade. Avante, pois, e parabéns. O grupo merece.
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