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Teatro

- Publicada em 09 de Novembro de 2018 às 01:00

Relembrando Leontina

Em comemoração aos 80 anos do poeta Luiz Coronel, uma série de festividades vêm sendo programadas. Uma das mais interessantes foi a realização do concerto Cantos de Leontina da Dores, com a participação de Fafá de Belém, no Teatro do Bourbon Country. Não foi a primeira vez que este concerto ocorreu, ele está inclusive documentado em um emocionante CD que tenho. Por isso mesmo, queria ver o espetáculo que é uma concepção eminentemente dramática e teatral. Além de Fafá de Belém, especialmente convidada para a ocasião, tivemos a participação sempre elogiável de Renato Borghetti e três bailarinos, com solos e duos, do grupo de Vera Bublitz. A Orquestra Unisinos-Anchieta, regida por Evandro Maté, fez os acompanhamentos, a partir de arranjos de Alexandre Ostrovski Júnior, de invejável inspiração.
Em comemoração aos 80 anos do poeta Luiz Coronel, uma série de festividades vêm sendo programadas. Uma das mais interessantes foi a realização do concerto Cantos de Leontina da Dores, com a participação de Fafá de Belém, no Teatro do Bourbon Country. Não foi a primeira vez que este concerto ocorreu, ele está inclusive documentado em um emocionante CD que tenho. Por isso mesmo, queria ver o espetáculo que é uma concepção eminentemente dramática e teatral. Além de Fafá de Belém, especialmente convidada para a ocasião, tivemos a participação sempre elogiável de Renato Borghetti e três bailarinos, com solos e duos, do grupo de Vera Bublitz. A Orquestra Unisinos-Anchieta, regida por Evandro Maté, fez os acompanhamentos, a partir de arranjos de Alexandre Ostrovski Júnior, de invejável inspiração.
Talvez o leitor estranhe: por que esta coluna dá guarida a este espetáculo? Eu responderia que, em primeiro lugar, exatamente porque o espetáculo está pensado mais como um show cênico do que propriamente um concerto. Na verdade, a simples presença de Fafá de Belém em cena transforma qualquer concerto em um show, tal a exuberância de sua persona. Mais que isso, as letras das composições de Luiz Coronel, que encontra complementações extraordinárias nas composições musicais de gente como Marco Aurélio Vasconcelos - na ocasião seu primeiro grande compadre - além de Isabela Fogaça, Marlene Pastro, Airton Pimentel, Raul Ellwanger e Sérgio Rojas, tornam-se poemas dramáticos extremamente contundentes e visualizáveis.
Não é casualidade que o público presente, boa parte de convidados e, portanto, de gente próxima do artista homenageado, podia cantar junto - e assim o fez, quando instado pela intérprete - mas preferia calar-se para desfrutar da performance envolvente daquela que, para muitos de nós, ainda é e sempre será a diva da campanha das Diretas Já.
Luiz Coronel tem uma facilidade espantosa para achar a rima, às vezes pobre pela sua facilidade, mas na maioria, plena de criatividade e de surpresa, que é o que faz a gente admirar o bom poeta. Mais que isso, Coronel é o dono da metáfora e dos símbolos, que ele encontra e renova de maneira muito pessoal em seus poemas. Leontina das Dores, a personagem lembrada naquela noite, tornou-se tão presente entre nós quanto o Campeador de Carlos Nejar, a quem, aliás, há poucos dias, encontramos também em cena, ao lado do filho, Fabrício Carpinejar, em inesquecível espetáculo de poesia entre pai e filho. Somos felizes, os do Rio Grande do Sul que, em registros diferentes, o de Coronel mais popular; o de Nejar mais erudito, dispomos de dois poetas de tal modo inspirados. Na poesia e na música argentina tivemos aquelas figuras estupendas idealizadas pelo poeta Félix Luna e pelo compositor Ariel Ramirez, eternizada na voz de Mercedes Sosa, a respeito da poeta argentina Alfonsina Storni, que se suicidou, em 1938, em Mar del Plata, pelas pressões sociais que sofria. Luna e Ramirez não inventaram a personagem, mas a recriaram; Coronel e Marco Aurélio erigiram a sua invenção num monumento musical inolvidável. Cada um a seu modo, transformaram mulheres mais ou menos anônimas, infelizes em seu tempo, pela incompreensão e pelo preconceito, em símbolos de liberdade e de afirmação. Uma, verdadeira, transfigurada; outra, ficcional, a afirmar-se modelarmente.
Foi inesquecível o concerto, porque, de certo modo, foi como se aquela personagem, que se consubstanciava corporalmente entre todos os que ali estávamos, também reafirmava nosso respeito e nosso reconhecimento quanto ao papel da mulher na sociedade humana, agrade isso ou não a qualquer pessoa, seja ele um simples indivíduo anônimo ou grada autoridade da República. Leontina das Dores, idealizada para festejar, transformou-se, de certo modo, e pela casualidade histórica, num ato de afirmação e que, talvez por isso mesmo, mais emocionou a todos, a começar pela cantora, que não escondeu ter chorado em cena. Para o poeta que tem-se destacado por ser o cantor da mulher sul-rio-grandense, foi, certamente, a melhor homenagem que se poderia encontrar.
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