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Teatro

- Publicada em 01 de Novembro de 2018 às 01:00

Fora do meu figurino, mas dentro do de outros

La tempestad de intrigas é uma brincadeira idealizada por Leo Maciel, que também assina a direção, a partir da dramaturgia cinematográfica de Pedro Almodóvar. Temos um elenco numeroso, integrado por quinze intérpretes que corporificam, cada qual, um determinado personagem. Encontramos alguns dos tipos mais comuns na cinematografia de Almodóvar, a partir do marido rico assassinado, a amante repudiada, a filha não reconhecida, prostitutas falidas, religiosos pouco celibatários e assim por diante.
La tempestad de intrigas é uma brincadeira idealizada por Leo Maciel, que também assina a direção, a partir da dramaturgia cinematográfica de Pedro Almodóvar. Temos um elenco numeroso, integrado por quinze intérpretes que corporificam, cada qual, um determinado personagem. Encontramos alguns dos tipos mais comuns na cinematografia de Almodóvar, a partir do marido rico assassinado, a amante repudiada, a filha não reconhecida, prostitutas falidas, religiosos pouco celibatários e assim por diante.
Não se trata de um espetáculo equilibrado - nem a cinematografia de Almodóvar o é - nem no que toca à dramaturgia em si, nem no que se refira ao espetáculo. Temos um elenco extremamente esforçado, mas desigual. Há intérpretes que evidenciam experiência, ao lado de outros que são evidentemente estreantes. Infelizmente, não se pode citar individualmente a ninguém porque a ficha técnica do espetáculo não os identifica vinculando-os a qualquer personagem. Mas surpreende a vitalidade e o esforço coletivo. Cada intérprete dá evidentemente o seu máximo na defesa de seu personagem, e isso emociona.
O espetáculo é desbragadamente colorido, com tonalidades fortes, muitas vezes de mau gosto (mas não o mau gosto do diretor ou da cenógrafa Yara Baldoni ou da figurinista Valquíria Cardoso), mas, sim, o mau gosto de escolhas absolutamente conscientes que, de certo modo, individualizam e identificam cada personagem e sua condição, seja social, seja psicológica. Neste sentido, estamos diante de um espetáculo bem pensado e melhor produzido. Aliás, os cabelos e maquiagens também trabalhados por Valquíria Cardoso confirmam tal observação, complementando-se com a trilha sonora cuidadosamente pesquisada pelo diretor e dramaturgo Leo Maciel. Posso não gostar do espetáculo, do ponto de vista das opções estéticas ou da linha dramatúrgica, mas não posso deixar de reconhecer que há uma clara linha de concepção do trabalho que só não resulta cem por cento naquilo que seria de se esperar pelo simples fato, já aqui mencionado, de se estar a trabalhar com um elenco desigual e ainda com pequena experiência de cena. Mas o diretor sabe o que quer, segue os passos do dramaturgo - esse é um raro caso em que a simbiose entre dramaturgo e diretor, de certo modo, resulta no melhor - alcançando um trabalho que tem unidade, até mesmo naquilo em que não chega ao resultado ideal.
O título - La tempestad de intrigas - não sei porque a manutenção do texto e todas as falas em espanhol - uma opção desnecessária, porque ninguém fala espanhol corretamente e o efeito histriônico, por isso mesmo, se perde: não se sabe se é incompetência do falante ao expressar-se ou apenas ignorância ou opção do texto original. Mas recupero a referência inicial: o título é uma boa síntese do que vamos acompanhar em cena. O enredo é caótico, como os enredos de Almodóvar, e folhetinesco, mas segue o figurino e lhe é fiel. Bem ou mal, a gente consegue acompanhar e entender o enredo. E há muitos lances engraçados, outros nem tanto, mas que vão enriquecendo os detalhes da trama que, enfim, chega a seu desenlace dentro daqueles parâmetros tradicionais de tal gênero narrativo.
O que me chamou muito a atenção foi o público lotando o Teatro Bruno Kiefer - para mim, absolutamente desconhecido. Familiares ou conhecidos dos atores? Não creio que seja apenas isso, é muita gente, e gente pagando ingresso. E chegando assim, de improviso, na última hora, e se divertindo a valer. Isso me leva a refletir sobre a necessidade de se ter em cartaz sempre espetáculos diferentes, variados, aptos a buscar e cativar públicos diferentes. Nem sempre o que me agrada serve para outro espectador. Mas a verdade é que a comunicabilidade deste tipo de espetáculo, que não chega a me conquistar plenamente, é plena para com um certo tipo de público, e isso justifica plenamente a realização de tais montagens. Não cheguei a me sentir correspondido em minha expectativa, mas respeito o esforço e louvo a experiência. O teatro também precisa deste tipo de trabalho.
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