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Teatro

- Publicada em 11 de Outubro de 2018 às 01:00

Verdadeiro milagre da dança

A nova temporada do espetáculo Das tripas sentimento, com trilha sonora de Elis Regina, 18 anos depois de sua estreia, foi um verdadeiro acontecimento em nossa cidade e, muito especialmente, para aqueles que conseguiram assistir ao espetáculo. Nas duas semanas de performances na Casa Cultural Tony Petzhold, alcançou uma plateia incalculável, sendo que na última semana teve sessões extras em ambas as noites e com gente ficando de fora.
A nova temporada do espetáculo Das tripas sentimento, com trilha sonora de Elis Regina, 18 anos depois de sua estreia, foi um verdadeiro acontecimento em nossa cidade e, muito especialmente, para aqueles que conseguiram assistir ao espetáculo. Nas duas semanas de performances na Casa Cultural Tony Petzhold, alcançou uma plateia incalculável, sendo que na última semana teve sessões extras em ambas as noites e com gente ficando de fora.
Confesso que, raras vezes, me emociono tanto com um espetáculo quanto ocorreu neste caso. A força, a utopia, o vislumbre da música de Elis, a Pimentinha; o contexto sócio-político, às vésperas de uma eleição em que o cidadão médio brasileiro levado a uma eleição nacional absolutamente idiota e lamentável; a força extraordinária destes bailarinos liderados pela direção artística e coreográfica de June Machado, com a dramaturgia e a iluminação de Gui Malgarizi, cenarização de Arthur Bonfanti e visagismo de Leo Zamper, Becca Martins, Gui Kausmann e Lucas Lemes; ou as interpretações profundamente introjetadas e pessoalizadas de Cassandra Calabouço, Dani Boff, Denis Gosch, Diego Mac, Lu Paludo, Rossana Scorza e Thais Petzhold?
É provável que tenha sido tudo isso e mais um público que se deixou tocar, que se envolveu, que aderiu e que acabou o espetáculo chorando tanto quanto cada bailarino que, além do mais, devia estar exausto diante do esforço enorme que o espetáculo demanda, com sua hora e meia de duração.
Lembro que assisti a este trabalho quando de sua estreia e inclusive escrevi sobre ele, elogiando-o. Mas não me lembro de tê-lo sentido tão profundamente quanto ocorreu desta vez. Por certo o trabalho foi reformulado, até porque o novo espaço exigiu uma nova ambientação. Mas raras vezes uma criação coreográfica foi tão feliz desde a escolha das composições musicais até o seu encadeamento e a maneira pela qual cada coreografia concretizava a música e por seu lado a encadeava uma com a outra, desenvolvendo uma verdadeira narrativa que ia sendo apresentada ao público, desafiando-o a sentir e a refletir sobre o tema. Não há discurso neste espetáculo. Há uma poetização das ideias que estão verdadeiramente emprenhadas em cada interpretação de Elis Regina que como que as desvela e as entrega, frementes à sensibilidade do espectador. O trabalho tem poesia e tem humor, tem sensibilidade poética e tem dramaticidade, é cheio de inventividade e foge dos lugares comuns. Ao final, tenho certeza de que cada um que ali estava, distribuído ao longo daquela sala que nos aproximava, poucos mais de 40 pessoas a cada noite, queria abraçar as todos os bailarinos e agradecer-lhes, profundamente, pelo que haviam criado e nos entregue, humanamente, com toda a sua emoção e disponibilidade. É muito raro um espetáculo alcançar tal comunhão com sua plateia, mesmo no caso da dança, em que a metáfora do gesto tende a ser mais facilmente introjetada.
Acho que a Macarenando Dance Concept deveria pensar, urgentemente, em promover uma nova temporada do espetáculo, ali mesmo na Casa de Cultura Tony Petzhold ou em qualquer outro espaço, mas de modo a preservar obrigatoriamente esta comunicabilidade tão intensa que emanou deste trabalho.
Para cada composição musical conseguiu-se idealizar e realizar uma coreografia diferente, com sinais próprios, quase como que uma linguagem específica que, no entanto, não deixava de se comunicar com as demais interpretações. Neste caso entra, sem dúvida, a contribuição decisiva da coreógrafa. Mas, de outro lado, conta a dedicação e a disponibilidade de cada bailarino, porque, se ao coreógrafo cabe desenhar o movimento, ao bailarino incumbe realizá-lo concretamente, descobrindo-lhe o sentido e transmitindo-o ao espectador. E raras vezes um espetáculo acabado foi tão feliz nestes objetivos que, por isso mesmo, criam uma espécie de corrente elétrica contagiante, que vem dos bailarinos e atravessa toda a plateia, levando-a consigo.
Espero que, ultrapassado este período eleitoral, possamos nos reencontrar com esta equipe verdadeiramente milagrosa.
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