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Teatro

- Publicada em 14 de Junho de 2018 às 23:00

Comédia sobre a vida cotidiana

Rogério Beretta, acima de tudo um produtor bem-sucedido, volta e meia faz uma rentrée nos palcos da cidade, para matar as saudades. Agora, junto com a atriz Suzi Martinez (também sua esposa), apresenta a comédia Pq casamos?!, brincadeira dramática que parte de algumas situações verídicas (???) para brincar com a situação de um casamento duradouro, a partir de um texto escrito por Vitório Beretta, a se julgar pelas informações da própria dramaturgia, filho do casal. O contexto escolhido para desenvolver a trama é inteligente e eficiente: a pedido do filho, o casal vai a um terapeuta, aparentemente por causa de suas brigas em casa. Ele, no entanto, constrangido, mas sobretudo preocupado em não perder um jogo de futebol, quer fugir a todo o momento. Ela, mais cordata, pretende cumprir a promessa feita ao filho. A partir daí, o casal dialoga com o médico (na verdade, a plateia) e dramatiza algumas situações.
Rogério Beretta, acima de tudo um produtor bem-sucedido, volta e meia faz uma rentrée nos palcos da cidade, para matar as saudades. Agora, junto com a atriz Suzi Martinez (também sua esposa), apresenta a comédia Pq casamos?!, brincadeira dramática que parte de algumas situações verídicas (???) para brincar com a situação de um casamento duradouro, a partir de um texto escrito por Vitório Beretta, a se julgar pelas informações da própria dramaturgia, filho do casal. O contexto escolhido para desenvolver a trama é inteligente e eficiente: a pedido do filho, o casal vai a um terapeuta, aparentemente por causa de suas brigas em casa. Ele, no entanto, constrangido, mas sobretudo preocupado em não perder um jogo de futebol, quer fugir a todo o momento. Ela, mais cordata, pretende cumprir a promessa feita ao filho. A partir daí, o casal dialoga com o médico (na verdade, a plateia) e dramatiza algumas situações.
Com cerca de uma hora de duração, o espetáculo acaba meio abruptamente, ainda no episódio vivido por ambos, quando estudavam na Espanha, antes de retornarem ao Brasil. Neste sentido, o texto não se realiza plenamente. Mas aquilo a que assistimos, por certo, é suficiente para divertir e fazer rir, e muito. Beretta é eminentemente um ator cômico. Sua simples presença em cena, seu olhar de terceiras intenções, seus gestos aparentemente nervosos provocam reações hilárias de imediato. Suzy, ao contrário, é mais uma atriz dramática, e isso fica evidente quando declama um poema de Garcia Lorca, arrancando aplausos da plateia que, desde a noite de estreia, lota o Teatro da Santa Casa.
O cenário e a direção de Néstor Monastério são eficientes. A iluminação apenas destaca climas e passagens de tempo, enquanto os figurinos de Déh Dullius e Lolla Monasterio (filha do diretor) fazem composições plásticas que logo identificam as cenas e seus climas, como aquela camisa amarelada de Beretta, quando na Espanha, os trajes espanhóis do casal ou as engraçadíssimas perucas de ambos, muito especialmente do ator, que se diverte comendo cabelos durante toda a cena. Para o público que se aproxima da faixa etária de ambos os atores, certamente o espetáculo também se transforma numa crônica nostálgica, com a linguagem dos anos 1970 e seus hits musicais, além das referências culturais como a praia da Ferrugem e o uso mais ou menos social e tolerado da maconha, provocando risadas. É evidente que o teatro lotado torna mais efusiva a reação, por contágio (fazer comédia com plateia vazia é quase impossível), mas de qualquer modo, a direção de Monastério pontua bem as cenas, destaca e explora com propriedade algumas cenas, fazendo com que o espetáculo flua com naturalidade, ainda que, às vezes, a troca de elementos dos figurinos demore um pouquinho demais. Na verdade, como as falas não cessam, cria-se uma espécie de expectativa em relação à próxima aparição da dupla, que acaba tendo um bom resultado no andamento e no ritmo do espetáculo. Aliás, não se indica quem selecionou a trilha sonora da encenação, mas teve enorme sensibilidade e acertou em cheio, tanto que o público logo reconhece as melodias, mesmo quando suas letras são apenas referidas, sem o acompanhamento da música, como em Macarena.
Espetáculo leve, que mostras a qualificação de ambos os intérpretes que, ainda por cima, evidenciam boa interatividade com o público, na medida em que sobretudo Beretta é capaz de reagir rapidamente a alguma ação mais espontânea da plateia, Pq casamos?! é uma boa pausa nas agruras do dia a dia e evidencia a boa matéria prima que temos em nossa dramaturgia: tanto a revelação de Vitório Beretta, como dramaturgo, ao refletir sobre o cotidiano da classe média brasileira e de sua memória cultural, quanto no caso dos intérpretes.
Se a cidade de São Paulo apresenta mais de uma centena de espetáculos em cartaz, neste momento, com mais da metade constituída por comédias, a cena porto-alegrense, não tão afeita ao espetáculo de riso, quando opta por ele, acerta em cheio e tem boa resposta do público, bastando mencionar-se trabalhos como Tangos e tragédias, que ficou 28 anos na ribalta de verão do Theatro São Pedro, os espetáculos da série Os homens de perto ou O Guri de Uruguaiana, com esta ressalva de que são, sempre, textos que fazem referências diretas à nossa cultura, mesmo que seja para criticá-la, relativizá-la. Recomenda-se vivamente Pq casamos?!, sobretudo porque teremos oportunidade de assistir a um trabalho bem feito, leve e bem humorado, que bem estamos precisados.
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