Mal estar no Palácio do Planalto

"Respeito é bom, e eu gosto"; antigo bordão que volta agora quando o presidente da República, Jair Bolsonaro (foto) poderá ver aceita denúncia contra ele no Tribunal Penal Internacional de Haia, algo que não tem efeito concreto, mas pode causar prejuízos indeléveis à imagem do chefe do governo brasileiro no cenário internacional. Virando chacota de humoristas e demais detratores pelo mundo afora, Bolsonaro pode ser enfraquecido com essa manobra jurídica, uma ameaça concreta, pois não tem sido elogiável o desempenho dos advogados e defensores do capitão Bolsonaro. Uma condenação, mesmo que inócua, é um grande abalo à sua imagem e ao País. Este é o ponto.

Essa questão está trazendo preocupação ao Palácio do Planalto, especialmente os ministros da ala militar, que veem como inevitável, nesse caso, a vinculação direta da imagem de criminoso cruel com a farda que vestiu no início de sua carreira. No ambiente internacional, o presidente Jair Bolsonaro é considerado um militar, colado aos moldes sul-americanos, cujos exemplos mais recentes foram os ditadores centro-americanos e, recentemente, o tenente-coronel Hugo Chávez, da Venezuela. Ou seja: os dois, oficiais de patentes inferiores mandando nos generais, que assim perdem suas imagens de militares modernos nos meios internacionais.

Os militares brasileiros posaram ao lado dos oficiais norte-americanos, franceses, ingleses, japoneses, como iguais. Essa imagem de elegância e civilização foi duramente conquistada em centenas de missões de paz das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos (OEA), ligadas à eficiência e ao preparo técnico. Nunca à truculência armada. De uma hora para outra tudo rui, perdem essa pose, pois não há como separá-los de um chefe assim, ameaçado por um tribunal por crimes tão grosseiros. É o que se comenta, para explicar o desconforto no Planalto. Isto preocupa o presidente.

A acusação contra Bolsonaro não tem pé nem cabeça, mas vem de organizações que na comunidade internacional têm credibilidade e articulação. É o caso do Senado, onde a CPI da Covid está procurando um jeito de enquadrar o presidente da República numa pisada de casca de banana. Exemplo disso é que esse organismo do Senado andou se metendo até na Copa América, certamente, uma questão fora de sua jurisdição. As denúncias vêm de órgãos militantes, mas que têm boa acolhida na mídia mundo afora: Coletivo de Advogados em Direitos Humanos (CADHu) e Comissão Arns. A premissa foi aceita de uma forma esquiva, mas que pode repercutir na imprensa, na rubrica de "avaliação preliminar de jurisdição", controlada pela advogada de Gâmbia Fatou Bensouda, atribuindo-lhe suspeitas de "crimes contra a humanidade e por incitar o genocídio e promover ataques sistemáticos contra povos indígenas".