Minutos após assumir a cadeira e fazer um discurso de conciliação, como primeiro ato, o novo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), usou o poder da caneta para anular um ato de seu antecessor, Rodrigo Maia (DEM-RJ), numa tentativa de esvaziar o poder do grupo de seu adversário, Baleia Rossi (MDB-SP). Com isso, o grupo fica fora da disputa por cargos na Câmara. No bloco de Baleia, estavam, além do PT, MDB, PSDB, PSB, PDT, Solidariedade, PCdoB, Cidadania, PV e Rede. Ao todo, estas siglas reúnem 211 deputados federais. Depois da repercussão, o grupo de Lira tentava um acordo com o de Baleia. A semana será quente no Parlamento.
Supremo ou conciliação
Partidos de oposição recorreram ao STF, pois consideram que "foi um ato autoritário, antiregimental e ilegal do deputado Arthur Lira. Se continuar nesse caminho, comprometerá a governabilidade da Casa. É inaceitável", afirmou o líder do PSB na Câmara, deputado Alessandro Molon (foto), do Rio de Janeiro. "Estão tirando à força os parlamentares que não fazem parte do grupo de Lira. O clima hoje é péssimo. Querem esmagar quem pensa diferente. É a volta do arbítrio, da força bruta." Enquanto isso foi costurado um acordo, na tarde de ontem, para buscar uma reconciliação. O deputado federal gaúcho Afonso Motta (PDT) foi peça-chave na costura para apaziguar os ânimos mais exaltados.
Ato autoritário
Para o líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), "foi um ato autoritário. E uma eleição que foi acordada pelo colégio de líderes", frisou. Quem conhece Arthur Lira, diz que o parlamentar do Progressistas "não perdoa". Depois de um discurso conciliador, o presidente da Câmara, com a força do Centrão ao seu lado, vai para o confronto com os adversários. "Um rolo compressor tornando sem efeito os acordos feitos", avaliam especialistas. O novo comandante da Câmara, deu o recado logo. Vai para o enfrentamento. Para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o discurso de harmonia do novo presidente da Câmara durou 10 minutos. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB) disse que "começou o estilo Bolsonaro". Na verdade, o gesto de Arthur Lira, surpreendeu a classe política. Foi dada cedo a arrancada para a disputa de 2022.
Agiu corretamente
O líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), começa a semana com muitos desafios na busca de acordos para conciliar o tumultuado início do novo comando. Ele considera que Lira agiu corretamente ao dissolver o bloco de Baleia Rossi (MDB) para a disputa dos cargos da Mesa.
Prioridades trocadas
Para o deputado gaúcho Heitor Schuch (PSB), "as prioridades do governo estão trocadas, e ele pretende, por meio de emendas, propor modificações para que a área social seja mais atendida". Segundo o congressista, "o governo privilegiou a dívida pública, consequentemente, os grandes bancos, e o Ministério das Comunicações."