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Repórter Brasília

- Publicada em 17 de Janeiro de 2021 às 21:23

A deserção da Ford

A deserção da Ford do parque industrial brasileiro promete ser o assunto da semana na área econômica, mais por seu significante aspecto simbólico, que econômico. A empresa era um ícone da industrialização do País, com 101 anos de funcionamento ininterrupto. Esse fato, com repercussão mundial, num momento em que o Brasil sofre uma acelerada deterioração de sua imagem internacional, será, sem dúvida, negativo, assustando e, até, afastando investidores, deteriorando a confiança interna na recuperação dos negócios. É preocupante, mas não um deus nos acuda.
A deserção da Ford do parque industrial brasileiro promete ser o assunto da semana na área econômica, mais por seu significante aspecto simbólico, que econômico. A empresa era um ícone da industrialização do País, com 101 anos de funcionamento ininterrupto. Esse fato, com repercussão mundial, num momento em que o Brasil sofre uma acelerada deterioração de sua imagem internacional, será, sem dúvida, negativo, assustando e, até, afastando investidores, deteriorando a confiança interna na recuperação dos negócios. É preocupante, mas não um deus nos acuda.
Custos fiscais e trabalhistas
Mudando-se para a Argentina, país parceiro do Brasil no Mercosul, com estímulos fiscais relevantes para o comércio bilateral, a empresa poderá se valer desses mecanismos para se livrar de parte das cargas fiscais dos dois países. Dividindo os ônus e os benefícios, a empresa poderia, em tese, contornar seu problema mais grave, que são os custos fiscais e trabalhistas nos dois lados da fronteira.
Acesso aos dois mercados
Levando a montadora para a Argentina, a Ford se vale de instalações ociosas que tinha no país vizinho, deixando no Brasil seus fornecedores de autopeças. Com isto, pode acessar os dois mercados. É uma forma disfarçada de se valer, na prática, de algo semelhante a um mecanismo de comércio exterior denominado Lei da Maquila, um dispositivo que funciona no Paraguai e tem levado muitas fábricas brasileiras e argentinas para esse país vizinho.
Rio Grande do Sul e Bahia
Como efeito colateral, a evasão da Ford está servindo para reabrir feridas, deixadas dos velhos tempos quando os estados brasileiros se digladiavam para atrair investimentos industriais a seus territórios. É o caso, pois com tantos anos no Brasil, a empresa pisou nos calos de governos e estadistas. O mais significativo foi o incidente envolvendo o Rio Grande do Sul e Bahia, em 1999, quando ela desistiu de implantar uma fábrica na cidade de Guaíba, no outro lado do rio que banha Porto Alegre, deixando os gaúchos a ver navios, ao se transferir para a Bahia. O anunciado encerramento da fábrica de Camaçari, próxima a Salvador, está servindo para o ex-governador gaúcho, Olívio Dutra (PT, 1999-2002, foto), autor da expulsão, regozijar-se, enquanto seu algoz, o neto do ex-governador baiano Antônio Carlos Magalhaes, ACM Neto (DEM), vociferar contra a empresa, arrependido. Também deixa marcas no Pará, onde a Ford deixou outro fracasso, a cidade agrícola de Fordlândia, no município de Aveiro, às margens do Rio Tocantins, e em São Paulo, onde fecha mais outras fábricas, uma delas centenária.
Carros elétricos
A verdade é que a Ford está esperneando, como suas duas coirmãs norte-americanas, General Motors e Chrysler, conforme escreveu o ex-presidente dos EUA Barack Obama em suas recentes memórias. São paquidermes tecnológicos num mercado mundial em rápida transformação, imobilizados por passivos trabalhistas e previdenciários insolúveis. O caso brasileiro-argentino é um grão de areia numa praia. São empresas do "século passado", pois nunca essa expressão teve tanta força: vêm aí os carros elétricos, a tecnologia embarcada, novos materiais. Essas firmas estão engessadas, sem chance de acompanhar esses desenvolvimentos, dizem os especialistas. A Ford é apenas um indicador do que vai ocorrer no setor de transportes. Prestem atenção nos caminhões elétricos de Caxias do Sul.
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