"Balança, mas não cai" pode ser o novo apelido do "Posto Ipiranga", tal a desconcertante instabilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, nas penas de analistas e noticiaristas. Como o prédio histórico do Rio de Janeiro, o czar da economia teima em permanecer de pé, não obstante os "especialistas" assegurem aos públicos das mídias, que ele está vivendo suas últimas horas na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.
Diz num dia e desdiz no outro
Realmente é de espantar: Guedes diz uma coisa num dia, desdiz no seguinte e, no terceiro, faz algo completamente diferente. Ele anuncia, o presidente Jair Bolsonaro desmente. E assim vai, incompreensivelmente. Pelo padrão do setor, a pasta da Economia é uma área que demanda segurança, clareza e previsibilidade; Guedes é por demais um ministro "bossa nova".
Bolsa Farinha
É o caso do tal projeto de transferência de renda em que o governo se empenha para substituir o "auxílio emergencial", que vive seus últimos dias, devendo extinguir-se no fim do ano, coincidentemente depois das eleições municipais. Esse pleito é o próximo desafio político para situação e oposição. O "Bolsa Farinha", desprezado pelo candidato Bolsonaro nos tempos da campanha, procura nome pomposo, depois que os novos donos do poder descobriram que é uma arma de grosso calibre: compra os votos dos pobres e amacia a culpa dos ricos e remediados.
Antigos invisíveis
O resultado está no crescimento vertiginoso da imagem presidencial nas bases mais "fiéis" da esquerda, o Nordeste. De olho no voto, o governo está botando os bolsos para fora à procura de uns trocados para manter e ampliar a distribuição de dinheiro para os antigos "invisíveis". O assunto vai dominar o noticiário e os debates desta segunda semana de outubro, com anúncios recorrentes da queda do ministro. Entretanto, não será surpresa se nada disso acontecer.
Campanha eleitoral acesa
O vai e vem resulta em postergar dois problemas: de um lado mantém o assunto no ar, enquanto não se encontra uma solução; de outro, com seu conteúdo otimista para os defensores do governo que buscam votos nas ruas e nas periferias, vai levando a campanha eleitoral acesa. O ministro é o gestor dessa polêmica.
Nau insensata em mar turbulento
Para analisar o posicionamento e o desempenho do ministro no contexto desse governo que ele integra, é preciso considerar duas coisas que o diferenciam dos anteriores. Diferentemente dos que vieram da área acadêmica, chegando ao governo com suas teses consagradas, Guedes é oriundo do mercado de capitais, uma área de bolsas instáveis e preços inconstantes, ou seja, mudar do dia para a noite não é novidade; e a segunda é que ele está pilotando uma nau insensata num mar turbulento, como nunca se viu.
Revisão de previsões
Para quem acompanha os boletins dos grandes bancos, constata que o que mais se ouve são as expressões do tipo "revisão de previsões" e "volatilidade dos mercados". Este é o rio em que o ministro nada de braçada. Não se espere que ele se afogue. Como o velho prédio do Rio de Janeiro que virou programa de rádio e TV: balança, mas não cai.