A economia de Brasília está em pânico. O novo mundo virtual é um susto. Com o esvaziamento da Câmara e do Senado devido à pandemia, com os parlamentares falando e votando de suas residências nos estados, os hotéis, restaurantes e transporte (táxis, carros de aplicativos) da cidade estão às moscas. Com uma comunidade de negócios preparada basicamente para o acolhimento do grande número de visitantes que vêm à cidade para defender interesses e administrar seus estados e municípios, o medo se disseminou: será que daqui para o futuro o setor público será realizado por telas e teclados? O contato humano está banido? Qual nada!
Olho no olho, no pé do ouvido
Dizia Ulysses Guimarães: "fazer política é namorar homem". Olho no olho, ao pé do ouvido, são expressões idiomáticas para o caminho do convencimento de pessoas e do consenso. Esta é a essência da arte do estadista. Desde os tempos ancestrais são as assembleias que produzem o entendimento, que é a raiz da paz que permite a convivência desde as eras dos trogloditas. Não há o que substitua a presença física dos atores para o entendimento. O mundo sem pessoas conversando e discutindo, é o império da violência, física ou mental. É a catapulta do progresso. Assim caminha a humanidade.
Máquinas não substituem arenas
Por isso existem as capitais, ou seja, as cidades-cabeça (de capita, em latim) onde os grandes e legítimos líderes se concentram para gerir o estado. Não dá para substituir por máquinas aquelas arenas de controvérsias, que são os plenários dos Legislativos, pelos teclados, câmeras, vídeos e alto-falantes. O Congresso terá de voltar a Brasília, inexoravelmente. O poder é pessoal e concentrado.
Temerosos de mudança
Não há como mudar. Todos os dias os aviões despejavam milhares de pessoas no aeroporto JK, que vinham para gestionar junto ao Congresso, para dialogar com parlamentares, onde se concentra a maior parte da ação política no País. Com a pandemia, as sessões virtuais da Câmara e do Senado foram para internet. Os prédios do Congresso ficaram vazios. Só seus funcionários de carreira, assim mesmo temerosos da possibilidade de uma mudança.
Muito trabalho
A verdade é que no Congresso há muito trabalho, muita ação, uma atividade fervilhante. "É um estereótipo grosseiro plantado por segmentos de uma mídia manipulada pelos Executivos, essa imagem negativa dos representantes. Essa hipocrisia folgazã faz parte de uma disputa entre Poderes. E não é verdadeira a notícia de que o parlamento virtual é mais eficiente e mais barato que os plenários presenciais", concordam políticos e empresários. No virtual, diz taxativamente um empreendedor da Capital da República: "A democracia perde o sentido".
Vibração humana
O País já está percebendo o desequilíbrio que se instala com os plenários virtuais e as votações a distância. Nem mesmo o novo coronavírus poderá manter por muito tempo os deputados e senadores longe dos conjuntos das câmaras, e dos sistemas de assessorias que lhes alimentam e informam a construção de maiorias. Os "tête-à-tête" que constituem a alma da negociação ainda não encontraram um substituto. É o que se comprova nestes três meses de política virtual. Corredores repletos, ante salas lotadas. O espírito da cidade-capital é a vibração humana. A cidade voltará a fervilhar.