Pandemia nas contas públicas

Passada esta etapa desesperadora da pandemia, o Brasil começará a pagar os gastos emergenciais com impactos enormes nas contas públicas. A previsão das autoridades é que até dezembro, o rombo poderá chegar a R$ 600 bilhões, mas com resultados positivos para proteção da vida e apoio aos trabalhadores.

Entre ameaças e mudanças, o governo continua seguindo, portanto, uma estratégia implantada em muitos países. Para o secretário Mansueto Almeida, "ser liberal não significa ser estúpido". E acrescentou: "Não há dúvida de que temos de gastar mais para ajudar o sistema de saúde, os trabalhadores que ganham pouco, e os trabalhadores informais".

Na avaliação do senador gaúcho Lasier Martins (Podemos), "num primeiro momento, os números parecem exagerados". Entretanto, segundo o senador, "o certo é que o governo está investindo muito verbas que vão faze falta lá adiante". Ressalta que "as autoridades estão agindo corretamente, porque socorre todos os setores carentes". Na visão de Lasier, "o problema virá depois, quando as providências de ordem fiscal terão que ser adotadas. Aí é que vai acontecer a recessão", acentuou. "Não deixam de ter uma dose de razão as autoridades que estão falando sobre isso. Nós estamos ainda num voo cego. Não sabemos ainda tudo o que está por acontecer, estamos ainda imaginando porque a crise é evidente e vai crescer", assinalou o senador gaúcho.

A crise no Ministério da Saúde expôs o empurra-empurra de candidatos aos governos estaduais, que disputam o apoio eleitoral do presidente da República, na expectativa de que Bolsonaro repita, em 2022, sua capacidade de transferência de votos. Na eleição passada, praticamente todos os candidatos às câmaras, estaduais e federal, que tiveram a indicação explícita do capitão, foram eleitos. Isto lembra Getúlio Vargas na eleição de 1947, quando os candidatos do PTB e do PSD que apareceram em fotografias abraçados ao ex-ditador recém deposto foram eleitos, em todos os estados do Brasil.

Estão no forno, em Brasília, outras duas medidas para deter a queda da economia, prontas a serem aplicadas, para reforçar o elenco que já está em fase de implementação. Uma delas será operada pela Caixa Econômica Federal, voltada para micro e pequenas empresas com faturamento anual de até 360 mil reais por ano, num total de 10 bilhões de reais. A outra, para socorrer estados e municípios, no valor de 77 bilhões de reais, que se somarão aos outros 50 bilhões já anunciados, com o fim de substituir a pauta-bomba aprovada pela Câmara dos Deputados na semana passada. Com isto, o ministro Paulo Guedes espera deter a recessão que se instala no País.