A expressão "AI-5" soa como um grito fantasmagórico nos arraiais da política profissional: arrepia os cabelos, mas não assusta, pois qualquer pessoa sensata sabe que fantasmas não existem. É o caso da ameaça com o fatídico ato institucional de 1968, uma entidade de assombração que se usa no dia a dia da retórica para assustar à juventude. Como pouco se sabe da História do Brasil, vale o estereótipo. Entretanto, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) avançou o sinal, no entender de líderes políticos de todas as facções, inclusive dos presidentes das duas casas do Congresso Nacional, ao evocar tal ato.
Contenham as línguas
Certamente, o senador David Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado, e o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), da Câmara, não estão vendo os tanques descendo da Vila Militar (expressão para golpe de Estado nos conturbados anos 1950). Eles se uniram ao vozerio levantado pela oposição para mandar um sinal à família do presidente Jair Bolsonaro. Seus filhos que contenham as línguas, pois suas costumeiras (é um estilo) diatribes podem atrair respostas incontroláveis.
Processo perigoso
Esse é o caso da perigosa denúncia apresentada pelas bancadas de oposição ao Conselho de Ética da Câmara contra o deputado Eduardo Bolsonaro. Embora sectarizado, o processo pode avançar perigosamente, por causa de outros efeitos que não a tal ameaça à democracia, algo totalmente descabido no cenário político e histórico do Brasil neste momento.
Expondo à humilhação
Uma das ameaças é que, no contexto da luta interna no PSL, a bancada bolsonarista na Comissão vote contra Eduardo, expondo o filho do presidente à humilhação de ver seu nome chegar ao plenário para uma decisão coletiva sobre seu futuro parlamentar. Ninguém admite que a votação da Câmara aceite uma denúncia desta imputação, até por que um parlamentar é protegido com imunidade por suas palavras. Seria preciso muito malabarismo para encaixar o parlamentar em tal denúncia. Vai servir como advertência.
Atear fogo no circo
O que está por trás disso tudo é a acirrada luta interna no PSL pelo controle das convenções que vão indicar os candidatos a prefeitos nas duas maiores cidades do Brasil: São Paulo e Rio de Janeiro. A oposição, no seu papel, aproveita o "brigório" no quintal dos adversários para atear fogo ao circo.
AI-5 é descabido
Nesse torvelinho, o presidente da República está em dificuldades para pacificar seus arraiais. O caso do AI-5 é politicamente descabido, mas emblemático retoricamente, usado dessa forma, para aglutinar as forças antipetistas. Conclamar o País a uma ditadura militar para arregimentar seus apoiadores dispersos nas redes sociais, dizem os analistas, seria uma resposta desproporcional ao antagonismo das oposições.
Propor a tolerância
Por outro lado, os críticos de Eduardo Bolsonaro afirmam que insuflar na população um espírito belicista é totalmente negativo. Segundo essas fontes, a família do presidente da República deveria operar no sentido da concórdia, propondo a seus seguidores expectativas construtivas e tolerantes. Assim, como diz o ditado, "quem semeia ventos colhe tempestades". Espera-se mais chumbo grosso nessa refrega no lado direito do espectro.