Aécio Neves (PSDB) e Gleisi Hoffmann (PT) trocando afagos no plenário da Câmara? Tucanos e petistas de mãos dadas? Cena inconcebível até hoje, mas, que daqui a dias, será vista por todos. A única dúvida é qual dos dois, PSDB ou PT, terá maior protagonismo na oposição ao governo de Jair Bolsonaro (PSL). A disputa já começou. O quadro geopolítico é claro: São Paulo perde o comando da tropa, que pega a Dutra e vai para o Rio de Janeiro. Apenas um esclarecimento: essa situação não sai dos Jardins para aterrissar em Copacabana ou Ipanema/Leblon. O centro do poder nacional estará nos bairros de Deodoro e Grajaú, Zona Norte do Rio. Esses subúrbios citados, que compõem a região mais populosa e conservadora da antiga Guanabara, integram-se na macrorregião carioca que se expressa com o bairro símbolo da Zona Norte do Rio, a Tijuca. Seu líder histórico é o falecido Carlos Lacerda.
Logo, logo voando juntos
A futura aliança oposicionista ainda não foi tecida. Está sendo mencionada em encontros furtivos nos restaurantes da rua Haddock Lobo, em São Paulo, onde as lideranças tucanas e petistas relaxam nas suas horas de folga. Ainda não chegou à Vila Madalena, onde estão os lulistas empedernidos, que se arrepiam só de ouvir falar na ave do bico comprido. Entretanto, são disciplinados. Logo, logo estarão na linha de frente. Esse realinhamento já pode ser observado em Minas Gerais, reduto do tucanato moderado e do petismo flexível: o governador Fernando Pimentel (PT, foto) já mandou seus seguidores fecharem com o candidato Antônio Anastasia, do PSDB. Minas, como sempre, desde os tempos do café com leite, dá lições de política aos paulistas.
Recomposição da centro esquerda
Com isso, também começa a recomposição da vertente de centro-esquerda gestada em São Paulo ainda em meados dos anos 1960, que deu origem aos partidos da Aliança Liberal, que enterrou a ditadura em 1984. Naqueles anos de chumbo, a base de resistência vinha do antigo MDB, organizado pelos deputados paulistas Ulisses Guimarães e André Franco Montoro, com apoio do empresariado liberal.
Grupo dos Oito
Nesse tempo constituiu-se o famoso Grupo dos Oito, que fez uma dissidência empresarial que tomou o poder na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), elegendo Luiz Eulálio de Bueno Vidigal, liderada por Antônio Ermírio de Morais, Severo Gomes, Claudio Bardella e alguns apoios expressivos em outros estados, como Jorge Gerdau Johannpeter e Paulo Velhinho, no Rio Grande do Sul. Essa frente de empresários e políticos da oposição, já nos anos 1970, recebeu a adesão de novas lideranças poderosas, como do acadêmico Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e do sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Reação dos conservadores
Essa vertente paulista foi derrotada nas urnas neste primeiro turno de 2018, pela reação vertiginosa das classes médias conservadoras, capitaneadas pelo líder das pesquisas, Jair Bolsonaro. A se confirmarem os resultados, tucanos e petistas uma vez mais estarão na mesma vala. Tudo como dantes, no quartel de Abrantes.