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Infraestrutura

- Publicada em 14 de Setembro de 2021 às 21:45

População sofre com inundações de arroio no bairro Sarandi

Trecho próximo da avenida Assis Brasil inundou três vezes em 20 dias

Trecho próximo da avenida Assis Brasil inundou três vezes em 20 dias


ANDRESSA PUFAL/JC
O Arroio Passo das Pedras - mais conhecido como Sarandi, nome do maior bairro que ele corta - é uma das 28 bacias hidrográficas de Porto Alegre e foi um dos primeiros contemplados em um plano sobre drenagem urbana no município. Mas, quase duas décadas depois da elaboração do estudo e sem terem sido realizadas todas as obras previstas, inundações no entorno do arroio seguem e têm sido cada vez mais frequentes.
O Arroio Passo das Pedras - mais conhecido como Sarandi, nome do maior bairro que ele corta - é uma das 28 bacias hidrográficas de Porto Alegre e foi um dos primeiros contemplados em um plano sobre drenagem urbana no município. Mas, quase duas décadas depois da elaboração do estudo e sem terem sido realizadas todas as obras previstas, inundações no entorno do arroio seguem e têm sido cada vez mais frequentes.
Um trecho crítico, onde o arroio transborda a cada chuva mais intensa, é no encontro da avenida Sarandi com a rua Zeferino Dias, logo antes do arroio cruzar por baixo a avenida Assis Brasil e seguir pelo bairro em direção ao Rio Gravataí, onde deságua. Na segunda-feira, o ponto inundou pela terceira vez em 20 dias.
O transtorno, que vem de anos, não tem causa única nem será uma ação que vai solucionar o problema. Trata-se de problema estrutural, explica Alexandre Garcia, diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). Em agosto ele informou ao Jornal do Comércio que ainda em 2021 será ampliado o talude do canal, o que dará mais fluidez à água. Outra intervenção será a dragagem, que é um processo para a remoção de materiais acumulados no fundo do curso d'água. Esta semana a prefeitura lançará três editais com a mesma finalidade, para atender vários pontos da cidade ao mesmo tempo.
Essa limpeza para retirar lixo e lodo acumulado no fundo é necessária a qualquer sistema aberto de drenagem, caso dos arroios, e deve ser frequente. Quem explica é Joel Avruch Goldenfum, diretor do Instituto de Pesquisas Hídricas (IPH) da Ufrgs - o IPH fez os primeiros estudos do plano de drenagem de Porto Alegre. Sem manutenção, continua Goldenfum, a capacidade de vazão dos canais fica reduzida.
Soma-se a isso o aumento na ocorrência dos chamados "eventos extremos", a exemplo das chuvas torrenciais que atingem o volume de muitos dias em poucas horas. O fenômeno natural encontra outra condição, essa construída, que cria um cenário propício para alagamentos ou inundações: a mudança no uso do solo urbano.
"Onde antes tinha uma área natural, (agora) se impermeabiliza e pavimenta, e a água não tem mais como infiltrar", explica Goldenfum. Ou seja, vai acumular na superfície até conseguir escoar, o que pode levar horas ou dias. Alguns especialistas apontam isso como falta de planejamento. Para outros, é falta de cumprir o planejamento existente, já que "muitas ocupações escapam ao cenário futuro", pondera o diretor do IPH. Para Garcia, o impacto também se dá pelas construções regulares que não foram bem planejadas: "fazem mal para o sistema de drenagem e o município precisa 'correr atrás'".
São muitos os desafios a serem encarados pelo poder público. Uma possível solução está na construção de uma bacia de amortecimento, que funciona como um reservatório para armazenar temporariamente a água da chuva e liberar o que ficou acumulado aos poucos, sem sobrecarregar o sistema. Essa era uma das intervenções no Arroio Passo das Pedras previstas no diagnóstico apresentado pelo IPH à prefeitura no início dos anos 2000, mas não executada. Conforme Garcia, está no radar do Dmae, que buscará recursos externos para atender essa e outras demandas de drenagem no bairro Sarandi.

Moradores enfrentam prejuízo material e preocupação constante

Casal investiu em uma espécie de comporta para impedir a chegada da água até a residência

Casal investiu em uma espécie de comporta para impedir a chegada da água até a residência


ANDRESSA PUFAL/JC
Nem sempre o Arroio Passo das Pedras extravasou o leito, lembra Júlia Andrade, que chegou ao bairro criança, há mais de 50 anos, e lembra de brincar na vala do arroio. Com o aumento de casas e prédios nas proximidades, o arroio foi sendo sobrecarregado, sem que obras para comportar a nova demanda acompanhassem.
O prejuízo mais frequente é material. Júlia conta que perdeu um automóvel porque a água estragou o motor. O casal Robelina e Dirceu Albertuni não sabia do histórico de inundações quando comprou uma casa de esquina com a avenida Sarandi, há 15 anos. Depois de perder vários móveis e pertences quando a água invadiu a residência, decidiram investir em uma espécie de comporta, que tem 1,2 metro de altura em relação à rua, e é instalada manualmente no pátio quando o arroio sobre.
A preocupação é constante, a ponto de tirar o sono. "Como vamos sair? Estamos sempre preocupados", desabafa Robelina. Júlia comenta sobre os planos anunciados pela prefeitura para o Centro e a orla do Guaíba: "é importante investir lá, mas precisa atender aqui também".

Alagamento ou inundação

Alagamento e inundação não são tecnicamente a mesma coisa, alerta Joel Avruch Goldenfum, doutor em Hidrologia e diretor do IPH. A inundação acontece quando a água em um arroio, lago ou rio extravasa e sai dos limites do leito desse curso d'água. Já o alagamento é quando a água da chuva acumula por não conseguir entrar no sistema de drenagem, por exemplo, porque as bocas de lobo estão entupidas.

Lixo prejudica vazão da água

Vizinha do Arroio Passo das Pedras, Robalina Albertuni conta que viu um sofá boiando por lá na segunda-feira. Chama atenção, assim como a infinidade de outros resíduos de menor tamanho que também eram visíveis no curso d'água naquele dia. A falta de consciência de quem joga lixo no arroio é mais um dos problemas a ser enfrentado, já que os resíduos muitas vezes se tornam barreiras que impedem a água de chegar até o seu destino, provocando tanto alagamentos quanto inundações.

Serviço é responsabilidade do Dmae

Foi concluída em agosto a transferência total das competências que eram do antigo Departamento de Esgotos Pluviais (DEP), extinto em 2017, para o Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). A partir de agora, também é do Dmae a responsabilidade para a prestação do serviço de drenagem, manejo das águas pluviais e proteção contra as cheias - além do abastecimento de água potável e esgotamento sanitário. O pagamento da tarifa também terá o Dmae como destino, e não mais o caixa único da prefeitura.