Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Opinião Econômica

- Publicada em 24 de Janeiro de 2022 às 21:27

O aniversário das cotas

Rodrigo Zeidan
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.
"Sou a favor de cotas, mas desde que sejam por renda", "os alunos cotistas não conseguem acompanhar as aulas" e "cotas são facilmente fraudadas" são alguns dos argumentos comuns na mitologia de que existiria uma democracia racial brasileira. Mas esses argumentos estão simplesmente errados, de acordo com o consenso científico sobre o assunto.
Em um trabalho com Silvio Almeida, Inácio Bó e Neil Lewis Jr., analisamos todos os artigos científicos sobre cotas no Brasil publicados nos principais periódicos científicos do mundo. Os resultados não poderiam ser mais claros: alunos "cotistas" têm excelente desempenho e não retardam o aprendizado de ninguém, cotas por renda não são suficientes para aumentar diversidade do corpo discente, e não há nenhuma evidência de que fraudes são um problema sistêmico.
Francis e Tannuri-Pianto usam o acesso a dados administrativos abrangentes e encontram que, ao longo de seus estudos, os alunos-alvo de políticas de ação afirmativa fecham qualquer lacuna inicial em suas notas em relação a outros alunos. Quando eles se formam, suas médias não são significativamente diferentes dos outros alunos.
Valente e Berry complementam esses resultados e constatam que os alunos admitidos em universidades públicas sob a lei federal de ações afirmativas apresentam níveis semelhantes aos alunos não admitidos, usando observações de exames nacionais de mais de 1 milhão de estudantes.
Ainda, Pelegrini e coautores encontram evidências indiretas de um esforço maior por parte dos alunos-alvo em uma amostra de 130.728 alunos. As diferenças entre alunos cotistas e não cotistas diminuem à medida que os alunos se aproximam da formatura. Não há nenhuma indicação de externalidades negativas sobre o desempenho de outros alunos, o que é corroborado por Lépine e Estevan. Simplesmente não encontram nenhum estudo que mostra que o desempenho dos alunos cotistas é fraco.
Os efeitos sobre o desempenho no mercado de trabalho também são significativos. Francis-Tan e Tannuri-Pianto mostram que alunos que entram por meio de ação afirmativa têm muito mais chance de trabalhar como diretor ou gerente. Mas nem tudo são flores.
Curiosamente, os ganhos no mercado de trabalho para os alunos que entraram por cotas raciais concentram-se principalmente nos candidatos do sexo masculino. Frequentar uma faculdade ou se formar aumenta significativamente os ganhos tanto dos candidatos homens cotistas quanto dos não cotistas, mas não aumenta os salários das alunas mulheres.
Em relação a cotas por renda, Vieira e Arends-Kuenning constatam que as universidades que somente adotavam cotas por renda não tinham mudanças significativas no perfil racial de seus alunos, enquanto aquelas que usam cotas raciais conseguem diversificar o corpo discente.
Também nesse caso, não há nenhuma indicação de fraude sistêmica. Francis e Tannuri-Pianto encontram que a introdução de cotas raciais induziu alguns alunos a deturpar sua identidade racial, mas inspirou outros indivíduos a se considerar negros. Contudo, essa deturpação é mínima, em relação ao total de alunos inscritos para as provas de admissão.
Sobre racismo reverso, a literatura científica não diz nada, pois ninguém se preocupa com asneiras.
Este ano marca o aniversário de dez anos da lei das cotas no Brasil, aprovada em 2012. Não é só para celebrarmos, mas é para celebrarmos com orgulho.
Rodrigo Zeidan
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO