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Opinião Econômica

- Publicada em 01 de Dezembro de 2021 às 19:16

O inverno está chegando

Helio Beltrão
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Desde que Paul Volcker quebrou a espinha da inflação americana, no início dos anos 1980, o mundo desenvolvido se acostumou com inflação baixa. O período -que ficou conhecido como "a grande moderação" (crescimento continuado com preços comportados) - encerrou-se abruptamente com a crise de 2007/8.
A essa altura, o dragão da inflação se julgava extinto; mas ainda havia um ovo petrificado. Com a crise, os banqueiros centrais estavam mais preocupados em evitar um inverno econômico: a deflação, seu maior pesadelo.
Decidiram reavivar o dragão, chocando o ovo com uma fogueira de dinheiro. Ressuscitado e mantido acorrentado, foi alimentado contínua e generosamente por 12 anos. A ideia foi usar o fogo do dragão "domesticado" para combater o frio e evitar o inverno.
Não concebiam que o dragão pudesse eventualmente escapar. Afinal, julgam, são especialistas em domesticação.
Essa resignação arrogante pode se tornar a maior catástrofe desta geração. A inflação e a eventual reação dos bancos centrais é o tema mais importante da economia global.
E veio 2020. A pandemia permitiu que os bancos centrais ousassem colocar em prática políticas outrora consideradas heréticas.
Descobriu-se que os bancos centrais vinham usando engenharia genética em laboratório para obter ganhos de função do dragão adolescente: MMT (Teoria Monetária Moderna), "dinheiro de helicóptero", juros negativos, CBDC (moedas digitais de bancos centrais), garantia de créditos do setor bancário. Esse é o novo normal pós-pandemia dos bancos centrais, a espúria fusão das políticas monetária e fiscal.
Com MMT e "dinheiro de helicóptero", a ideia é o governo gastar mais e mais, contrair muita dívida, e o BC, imprimir dinheiro para viabilizar a gastança; ou seja, nada que ainda não tenha sido tentado antes, sempre com retumbante fracasso.
Antigamente, a missão dos bancos centrais era controlar a inflação. Com o dragão de laboratório, imaginam prevenir recessões, resgatar todos os que precisem, combater a desigualdade e as mudanças climáticas e permitir a distribuição direta de renda.
Não se sabe bem como, mas, enquanto isso, o dragão transgênico fugiu do laboratório e viajou o mundo. A inflação americana chegou a 6,2%, a maior em 30 anos. Na Alemanha, onde ainda pesa no imaginário o trauma da hiperinflação dos anos 1920 e 1940, a inflação chegou a 6%, também a maior em 30 anos. Na zona do euro como um todo, alcançou 4,9%, mais de duas vezes a meta. No Brasil, onde o progresso demora a chegar, mas o atraso é replicado a galope, a inflação já superou 10,5%.
Os banqueiros centrais insistem em que, à medida que as rupturas nas cadeias de suprimento sejam resolvidas, a inflação esfriará. Assim pretendem justificar o injustificável: taxas de juros supernegativas, cinco pontos percentuais abaixo da inflação!
Depois de meses jurando o contrário, nesta terça (30) o presidente do Fed, Jerome Powell, finalmente admitiu que a inflação nos EUA não é transitória.
Na verdade, admitiu tacitamente que a inflação é de demanda, fruto da expansão monetária causada pelo Fed, que aumentou a oferta de dólares no mundo (M2) em mais de um terço nos últimos 18 meses. Foram quase US$ 6 trilhões impressos pelo Fed e enviados às contas-correntes da população.
O mercado aparenta calma por enquanto, mas há uma inquietude geral. Está com jeito de que se aproxima um "ponto de virada" de (Malcolm) Gladwell, que precipitará um abrupto fim de ciclo, com disparo de vendas de ativos de risco.
A fase atual, de contágio, é a mais determinante: preços contaminam preços, que contaminam salários, que voltam a contaminar preços. A origem, como sempre, é monetária. Por isso, é preciso subir dramaticamente as taxas de juros antes que o dragão procrie.
O inverno está chegando.
Helio Beltrão
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