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Opinião Econômica

- Publicada em 30 de Novembro de 2021 às 03:00

Inflação no mundo

Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Na pandemia, todos ficamos fechados em casa por quase 18 meses. Fechados em casa, consumimos muito menos serviços - restaurantes, teatro e cinemas, eventos esportivos, turismo etc. Fechados em casa, subiu muito nossa demanda por bens. 
Essa recuperação da economia mundial, com a demanda muito desequilibrada para bens, gerou forte elevação da produção de bens de consumo duráveis, cuja fabricação é intensiva em chips, energia, matérias-primas metálicas e comércio internacional.
O excesso de consumo de bens duráveis gerou repentina queda dos estoques a partir do terceiro trimestre de 2020. A resposta dos produtores à queda dos estoques foi uma antecipação dos pedidos. Os produtores nos diversos elos das cadeias produtivas anteciparam os pedidos defensivamente, o que causou a desorganização da produção.
Esse comportamento defensivo desorganizador das cadeias produtivas é conhecido na literatura de efeito chicote (bullwhip effect).
Assim, o padrão de recuperação das economias desde o segundo semestre de 2020 causou forte inflação de bens industriais. No Brasil, por exemplo, a inflação de bens industriais, segundo a prévia da inflação de novembro, o IPCA-15, foi de 11% de janeiro a novembro de 2021, ante 2% para o mesmo período de 2020.
Essa inflação mais intensa no Brasil é também um fenômeno que tem se espalhado pelo mundo. Nos Estados Unidos, em outubro, a inflação ao consumidor acumulada em 12 meses foi de 6,2%.
O que preocupa é que desta vez os núcleos de inflação estão muito sensíveis aos choques de preços. Os núcleos de inflação são índices derivados do índice oficial, construídos com o objetivo de dar mais peso aos preços menos sensíveis aos choques e cujo comportamento responde à situação cíclica da economia, isto é, se há excesso ou carência de demanda.
Os diversos núcleos para a inflação nos Estados Unidos rodaram em outubro, em 12 meses, a 4,5%, 4,1% e 3,1%. São, respectivamente, os núcleos por exclusão, médias aparadas e da mediana.
A grande dúvida hoje é o comportamento dos núcleos quando houver a reversão dos choques de preços, que deverá ocorrer ao longo de 2022, com maior intensidade no segundo semestre. É possível que a reversão dos choques leve à redução da inflação e dos núcleos. Nesse caso, o choque inflacionário não terá elevado a inércia inflacionária. Diferentemente, é possível que os choques de preços se revertam e a inflação não caia.
É possível que a inflação fique rodando em um novo nível mais elevado. Nesse caso, o Banco Central americano terá que agir mais intensamente para combater a maior inércia inflacionária. Essa dúvida será resolvida nos próximos seis meses.
O canal que transformará o choque de preços em maiores níveis de inércia inflacionária será dado pelo comportamento do mercado de trabalho. Teremos repasse do choque inflacionário aos salários e, consequentemente, os Estados Unidos vivenciarão uma espiral inflacionária? Não sabemos. Até o momento, não há sinais claros desse fenômeno.
A Europa, que parecia imune à aceleração inflacionária dos choques da Covid, tem experimentado nos últimos meses expressiva elevação da inflação. Na zona do euro, a inflação em 12 meses, que até há poucos meses estava abaixo de 2%, atingiu em outubro 4%, e o núcleo por exclusão, que não passava de 1%, em três meses atingiu 2%.
Aguardemos os próximos capítulos.
 
Samuel Pessôa
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