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Opinião Econômica

- Publicada em 08 de Setembro de 2021 às 21:51

Tempos obscuros podem se estender

Helio Beltrão
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
São tempos obscuros para nosso país. A corda está sendo imprudentemente esticada: de um lado, por bolsonaristas que se veem como detentores únicos da voz do povo e querem emparedar as instituições, e do outro, pelo STF que reage infringindo direitos individuais.
As manifestações desta terça-feira (7) devem ser compreendidas no contexto de uma guerra de longa duração. E podem acabar mal, caso as partes não afrouxem a tensão da corda.
Tal polarização extrema domina a agenda política há bastante tempo. Já em maio de 2019, Bolsonaro e apoiadores adotaram como estratégia a demonização do Congresso e do STF, e uma guerra aberta contra o centrão. Realizaram uma manifestação para repactuar as forças relativas entre os Poderes, buscando mais poder ao Executivo. A manobra deu errado: o centrão cercou os flancos, se infiltrou no governo e enterrou a agenda liberal.
Na mesma época, o STF, por meio do kafkiano inquérito das fake news, passou a censurar a imprensa (Antagonista, Crusoé), perseguir supostos inimigos da democracia por conta de suas bravatas, apreender computadores e proibir o uso de redes sociais, entre outros.
O desenrolar desde então é uma deterioração do mesmo script. Ambos os lados escalaram as hostilidades. O diálogo foi abandonado, a personificação do inimigo estereotipada, a polarização sedimentada, os abusos acumulados. As partes caminham para o abismo e levam o Brasil a reboque.
Já passamos do ponto além do qual ainda importam as nuances de quem está menos errado. Escolher partido passionalmente nesta corrida ao fundo do poço não necessariamente auxilia no desarme do conflito. Pior ainda, pode funcionar como patrocínio tácito e tático a abusos: por um lado, contra as instituições, e do outro, contra direitos individuais.
Como apoiar uma parte que empareda instituições e ameaça o STF em plena Esplanada? É deprimente o espetáculo das hordas bolsonaristas repetindo chavões autoritários do líder. A idolatria que Lula construiu para si Bolsonaro também nutre. É o retorno desgostoso ao Brasil arcaico que endeusa políticos.
E como apoiar a outra parte, que morde a isca e multiplica os erros? No final de semana, Alexandre de Moraes soube por intermédio de seus seguranças, que um sócio do Clube Pinheiros estava falando mal dele em uma roda etílica com amigos. Mandou conduzir à delegacia. Ordenou buscas e apreensões em entidade agrícola por financiar atos "não democráticos" (a manifestação desta terça). Nada disso, entre inúmeros exemplos, representa defesa da democracia ou dos interesses do cidadão.
No auge da República Romana, Cícero foi eleito cônsul (mais alto cargo da República), e enfrentou uma crise. Era o ano 63 a.C, quatro anos antes do Primeiro Triunvirato, acerto que arrebentou a República e pavimentou o início do Império. Catilina, candidato populista que prometia o perdão de todas as dívidas e a reforma agrária, perdeu a eleição e não se conformou. Passou a buscar o apoio direto do povo e a conspirar para emparedar o Senado à força.
Cícero conseguiu demonstrar que realmente havia um golpe em curso, que se iniciaria com seu assassinato. Cinco coconspiradores foram detidos e executados sumariamente por Cícero e pelo Senado sem julgamento, o que violava a constituição romana.
Cícero foi popularmente considerado salvador da República por ter afastado a ameaça imediata. No entanto, aprofundou o afastamento de Roma da razão e da virtude por seu excesso ao violar regras fundamentais. O resto é história: a República ruiu.
Quem sabe um Congresso renovado em 2022 poderá ter a independência para mediar esta crise republicana que se estenderá por muitos anos.
Helio Beltrão
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