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Opinião Econômica

- Publicada em 22 de Agosto de 2021 às 21:32

Tamanho da pressão inflacionária

Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Caminhamos para que 2021 feche com inflação na casa de 8%. Inúmeros choques produziram a inflação.
Há pelo menos quatro choques: 1) escassez de matérias-primas e componentes industriais em razão do excesso de demanda, principalmente por bens duráveis e da construção civil, fruto das longas quarentenas; 2) choque de reabertura dos serviços cuja oferta foi desorganizada com o fechamento da economia; 3) encarecimento dos grãos em razão da elevação da demanda da China e dos problemas climáticos, e os impactos desse encarecimento nos preços das carnes e laticínios; 4) encarecimento da energia em consequência da seca que se abateu sob o Centro-Oeste e o Sudeste. Com exceção do último, os demais são globais.
No Brasil os choques têm sido agravados desde abril do ano passado, pois o câmbio não tem exercido seu papel de amortecedor da alta dos preços das commodities. Como somos um grande exportador de commodities, quando o preço no mercado internacional sobe, ficamos mais ricos e, consequentemente, nossa moeda costuma se fortalecer. A valorização do real amortece por aqui o impacto inflacionário da subida dos preços das commodities no mercado internacional. Mas essa apreciação típica não ocorre agora.
Uma maneira de avaliar a pressão inflacionária no mercado doméstico exercida pela insensibilidade recente do câmbio às oscilações dos preços das commodities é considerar duas medidas de câmbio. A primeira é dada pelo real observado. Considero médias trimestrais desde 1998, como se vê na linha em azul-escuro no gráfico.
Os dados estão todos aos preços do segundo trimestre de 2021, deflacionados pela diferença entre a nossa e a inflação média dos nossos parceiros comerciais (ponderada pelo peso de cada parceiro na corrente de comércio com o Brasil).
A segunda medida é o câmbio calculado a partir da correlação histórica entre o câmbio e duas forças reais, os termos de troca e a produtividade do trabalho. Ambas estão intimamente ligadas à competitividade de nossa economia. Ambas as variáveis foram construídas relativamente à média, das mesmas variáveis, nos nossos parceiros comerciais. A curva em azul-claro representa o câmbio dado por esses fatores reais da economia.
As barras representam o desvio (em percentagem) entre o câmbio corrente e o que deveria ser se fatores financeiros não interviessem na determinação da moeda. Os valores das barras estão representados na coluna da direita. Desde o segundo trimestre de 2020 abriu-se uma enorme boca de jacaré entre ambos. A boca de jacaré é uma medida da pressão inflacionária induzida pelo fato de o câmbio não ter respondido à elevação dos preços das commodities.
A boca de jacaré se fechará. Por bem, se arrumarmos a política fiscal e a moeda se valorizar. Por mal, se deixarmos a inflação fazer o serviço.
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