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Opinião Econômica

- Publicada em 15 de Junho de 2021 às 22:40

Infraestrutura digital

Rodrigo Zeidan
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance, É doutor em economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance, É doutor em economia pela USP
"Desculpa, mas a conexão está ruim", "está picotando" e "vou desligar o vídeo para tentar melhorar a conexão" são a versão atual de "desculpa o atraso, mas o trânsito estava muito ruim".
A ineficiência corporativa tem vários vilões, entre eles falta de accountability, regulações bizantinas, sistema legal moroso e péssima infraestrutura.
Mas infraestrutura não é só rodovias e portos; infraestrutura digital é condição fundamental para o surgimento e crescimento de novas empresas dinâmicas.
Hoje, há 5 milhões de centrais de dados (data centers) na China, fibra óptica na maior parte das casas na Europa, tecnologia 5G no Quênia e uma explosão de aplicações de inteligência artificial e aprendizado de máquinas nos Estados Unidos.
Obviamente, no Brasil precisamos resolver problemas estruturais do século 20, como qualidade do ensino, desigualdade e serviços básicos como saneamento, mas também precisamos olhar para a frente, criando as condições para competição no mercado global de serviços.
Como exemplo, estamos em 2021, e a previsão mais otimista para a entrada da tecnologia 5G no Brasil é em dois anos, já que nem leiloamos as faixas de frequência. Não há nem plano de licenciamento urbanístico para agilizar a instalação das antenas para compartilhamento de dados ou algo concreto para o aumento da malha de fibra óptica.
Enquanto isso, os clientes nos centros urbanos na China já contam com planos de 5G desde 2019, todas as capitais do país já são cobertas pela tecnologia (há 792 mil estações-base) e o plano é cobertura universal já em 2023.
Estados Unidos e China já estão na corrida pelo 6G. Seus consumidores devem poder migrar para o 6G antes de 2030, enquanto a Coreia do Sul deve ser o primeiro país com uma rede em operação, já em 2026.
Nas grandes cidades na Ásia e na Europa, é comum ver pessoas assistindo a filmes e novelas no transporte público, já que podem contar com velocidade e estabilidade de conexão. Reuniões e aulas podem ser marcadas para começar e terminar no horário, não só por cultura de eficiência mas também porque se pode contar com serviços digitais funcionando.
A empresa Fastly, que provê infraestrutura digital para empresas como Twitch, Spotify e BBC, promete, em contrato, 100% de tempo de atividade para os seus maiores clientes. Um problema de software gerou um blecaute nos seus serviços, mas a questão foi resolvida em 40 minutos.
Ineficiência de serviços é a norma no Brasil. Nossa cultura aceita o desperdício de tempo como status quo. Estamos atrás também em questões de segurança e outras. Muitas vezes, para fazer uma transação bancária ou de cartão de crédito, precisamos colocar a senha, receber código no celular, realizar uma mandiga e fazer uma promessa para uma divindade.
Ademais, a discussão de políticas públicas ainda está presa na década de 1970. Importar semicondutores e peças de computadores tem tarifas elevadíssimas. Governos anteriores tentaram criar campeãs nacionais, achavam que investimento era só comprar máquinas e apoiaram estratégias estapafúrdias da Petrobras, que queimou cerca de R$ 600 bilhões dos seus acionistas.
O atual governo é ainda pior e aparelha órgãos públicos para passar boiada e destruir a Amazônia, com o intuito de levar o Brasil de volta à Idade Média.
Infraestrutura digital, inteligência artificial e aprendizado de máquinas são os nomes do jogo, mas o Brasil nem pensa em entrar em campo.
Rodrigo Zeidan
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