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Opinião Econômica

- Publicada em 06 de Junho de 2021 às 20:50

PIB esconde preocupações

Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance, é doutor em economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance, é doutor em economia pela USP
Na semana passada, o IBGE divulgou o resultado da atividade econômica para o primeiro trimestre de 2021.
O desempenho da economia no período foi melhor do que se imaginava. A economia cresceu 1,2% em comparação ao quarto trimestre de 2020, já se controlando pelas variações sistemáticas na atividade em razão da sazonalidade.
Apesar do agravamento da segunda onda da epidemia, com os 2.148 casos por dia na média do mês de março, a economia sentiu menos. Diversos setores aprenderam a conviver com a crise sanitária. Outros setores, aqueles mais atingidos pelo distanciamento social, nomeadamente outros serviços e serviços da administração pública, não haviam voltado e, portanto, não caíram com a segunda onda.
Desde o terceiro trimestre de 2020, a economia apresenta forte recuperação em "V". Após ter caído no primeiro semestre do ano passado 11,2%, recuperou-se e cresceu 12,6% em relação ao segundo trimestre de 2020, retornando, portanto, ao mesmo nível anterior à crise.
Apesar da foto positiva, há preocupações. A demanda surpreendeu negativamente. O IBGE observa a atividade por duas óticas distintas. Pelo lado da oferta, avalia a produção de bens e serviços. Pelo lado da demanda, o IBGE apura a absorção da produção de bens e serviços, que ocorre na forma de consumo e investimento, público e privado, além das exportações líquidas das importações.
A diferença entre a produção de bens e serviços medida pela ótica da oferta e a medida pela ótica da demanda é atribuída a dois fatores. Acumulação de estoques e erros de medida, que são maiores na mensuração da demanda do que da produção.
Acumulação de estoques significa que a indústria e a agropecuária produziram, mas não venderam. Houve no primeiro trimestre a maior acumulação dos estoques observada desde o início da divulgação sistemática das Contas Nacionais trimestrais pelo IBGE, em 1996. Pouco mais de 4% do que foi produzido se deveu à acumulação de estoques.
A acumulação dos estoques ocorreu porque o consumo, público e privado, recuou no trimestre. Em determinadas circunstâncias, acumulação de estoques pode sinalizar abrandamento da produção e do PIB à frente. Evidentemente sempre pode ter havido erro de medida do IBGE. Esperemos as revisões da série.
A indústria de transformação recuou 0,5% em relação ao quarto trimestre do ano passado. Novamente, a foto não está ruim. A indústria opera 4,3% acima do nível anterior à epidemia.
Mas sabemos que em algum momento haverá recuo mais acentuado da indústria de transformação. As longas quarentenas geraram forte demanda por bens duráveis. Em algum momento -deverá ser mais para o fim do ano- haverá uma natural retração mais significativa da indústria.
Nesse momento teremos que estar prontos para que haja a passagem de bastão da indústria para os serviços. Se o cronograma de vacinação não estiver sincronizado, poderá haver um recuo da economia mais forte à frente.
*
Morreu de Covid, na semana passada, o jornalista do Valor Econômico Ribamar Oliveira. Riba era especializado em contas públicas. A característica marcante de Ribamar era o cuidado com que olhava a informação. Olhava para as contas públicas com a meticulosidade de um jornalista investigativo.
Era um caso raro de jornalista que adquiriu excelência na sua área de especialidade equiparada (muitas vezes superior) à dos melhores profissionais.
Contas públicas é, por um lado, tema aborrecido e, por outro, o mais importante em economia. Como tenho batido neste espaço há oito anos, é no Orçamento que se trava o conflito distributivo.
Ao acompanhar as contas públicas com cuidado, Ribamar cumpria a função mais nobre do jornalismo: defender o interesse público. A vida ficará mais difícil para todos nós sem Ribamar. 
Samuel Pessôa
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