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Opinião Econômica

- Publicada em 20 de Maio de 2021 às 21:04

Debate monetário nos EUA

Nelson Barbosa
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research
Professor da FGV e da UnB, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento (2015-2016). É doutor em economia pela New School for Social Research
A inflação voltou ao centro do debate econômico norte-americano, com alguns analistas ressuscitando fantasmas dos anos 1970, como se os Estados Unidos estivessem na iminência de descontrole monetário.
Na prática, a realidade é outra. O banco central de lá (Fed) pode lidar com o aumento de preços se e quando quiser, com variações moderadas da taxa de juro. O debate é mais sobre comunicação do Fed do que sobre grave desequilíbrio econômico.
De um lado, a rápida recuperação norte-americana criou gargalos produtivos em vários setores, com forte elevação dos preços de alguns insumos. O repasse desse aumento de custos criou "elevação temporária" de alguns preços ao consumidor.
Do outro lado, a recuperação da renda gerou maior demanda por trabalho em um momento no qual trabalhadores norte-americanos não aceitam trabalhar por qualquer salário, pois milhões de famílias recebem (ainda bem) auxílio emergencial do governo.
Para alguns analistas, o repique inflacionário dos EUA seria indicador de excesso da resposta fiscal à recessão da Covid. Biden teria exagerado na dose, e agora o resultado será inflação e juro alto por muitos anos. Acho essa visão exagerada por dois motivos.
Primeiro, até agora, a aceleração de preços é similar ao que ocorreu em 2010-11, que também gerou temores inflacionários que não se materializaram. Na saída de uma recessão, é normal ocorrerem pressões de demanda. Se a recuperação for acompanhada de aumento de produtividade, essas pressões se dissipam. Ainda é muito cedo para decretar o fracasso (ou sucesso) da estratégia econômica de Biden.
Segundo, se o Plano Biden der certo, o juro real norte-americano subirá. Na última década, vários economistas corretamente retrataram juro real negativo como problema, uma vez que isso indica "estagnação secular" da economia: baixo crescimento do emprego e da produtividade.
Caso os EUA se recuperem como esperado pelo governo Biden, haverá aumento de juro real por lá, voltando ao patamar pré-crise de 2008, o que não será tragédia nem fracasso se isso for acompanhado de crescimento do salário real e redução de desigualdade.
Quando comparamos as expectativas de juro para os próximos anos, por enquanto a situação dos EUA indica o que nós, economistas, chamamos de "reversão à média": retorno à situação pré-Covid. Pode ser que piore? Pode, e aí entra o problema de comunicação do Fed.
No ano passado, no auge da pandemia, o Fed deu a entender que manteria sua taxa básica de juro (Fed funds rate) próxima de zero até o fim de 2022. O anúncio visava reforçar as ações anticrise de 2020, mas promessas monetárias muito longas dificilmente são críveis.
Agora que os EUA se recuperam rápido e, portanto, a estratégia de Biden parece dar certo, tudo indica que o Fed terá de subir os juros muito antes do que esperava. Quando? Provavelmente no fim deste ano ou no início de 2022, e aí está a queda de braço no mercado financeiro mundial.
Há grande especulação sobre quando o Fed mudará de postura e admitirá elevação de juro mais cedo do que em 2023. Quando isso ocorrer, o dólar se apreciará, atenuando as pressões inflacionárias por lá.
E de quanto será esse aumento de juro? Segundo as expectativas de mercado divulgadas pelo Institute of International Finance, a Fed funds rate sairá de 0,25% hoje para 0,5% em 2023.
Acho que será maior, que a Fed funds rate chegará a 1%, mas ainda assim é difícil chamar isso de fracasso se a economia de lá estiver com inflação de 2%, PIB crescendo entre 2% e 3% e pleno emprego.
Nelson Barbosa
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