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Opinião Econômica

- Publicada em 25 de Outubro de 2020 às 21:00

O que era simples ficou complicado

Opinião Econômica: Marcia Dessen

Opinião Econômica: Marcia Dessen


/ARQUIVO/JC
Marcia Dessen
ARQUIVO FOLHAPRESS/ARTE JC
Planejadora financeira CFP
A Letra Financeira do Tesouro, ou Tesouro Selic no Tesouro Direto, deixou de ser um porto seguro para investir a sagrada reserva financeira que não aceita a menor possibilidade de perda.
Quem investe nesse título, diretamente ou via fundos de investimento, observou uma rentabilidade menor do que a esperada nas últimas semanas -ou pior, um inesperado desempenho negativo.
Em 20 de outubro, a rentabilidade dos últimos 30 dias da Selic 2021 foi de 0,16%; a 2023 tinha rendimento quase nulo, de 0,02%; a 2025 registrou desvalorização de 0,38%.
O que aconteceu? Para financiar o déficit público o Tesouro Nacional foi com muita sede ao pote, fez leilões agressivos, oferecendo uma quantidade surpreendente de títulos.
O mercado reagiu como era de se esperar, pediu prêmio para aceitar o grande volume de dívida que o governo precisa financiar, sinalizando que 100% da diminuta taxa Selic (2% ao ano) deixou de ser suficiente. O mercado pediu mais, e o governo pagou.
Ao aceitar vender as letras com desconto para ampliar sua rentabilidade, provocou uma desvalorização no estoque de títulos que estava em poder do mercado.
E acabou criando uma distorção na característica do título, até então de taxa exclusivamente pós-fixada, imune à oscilação negativa de preços. O mais correto seria elevar a Selic que parece estar em nível insuficiente para o tamanho da demanda e percepção de risco dos investidores.
Já falei algumas vezes da marcação a mercado, procedimento obrigatório que atribui aos títulos da carteira o valor atual de mercado. Assim, o Tesouro Direto e os administradores de investimentos coletivos (fundos e planos de previdência) atribuíram aos títulos o novo valor de mercado, menor do que o anteriormente contabilizado.
Por que alguns fundos perderam e outros não? Diversos fatores explicam a diferença. Os Fundos DI, que investem em títulos públicos e privados de taxa pós-fixada foram os mais atingidos. Quanto maior a posição de títulos públicos do fundo, maior o impacto.
Os fundos DI Crédito Privado sofreram menos porque a parcela de títulos privados da carteira não foi atingida, não desta vez, e ajudou a amortecer a queda no valor dos títulos públicos.
Outro fator que explica a diferença é o prazo médio dos ativos da carteira do fundo. Quanto maior o prazo (necessário para pagar menos imposto de renda), maior o impacto.
Outras classes de fundos de renda fixa que investem em taxa prefixada ou índices de inflação absorveram bem a estranha novidade.
Como evitar? Infelizmente a vida do investidor ficou mais complicada. A melhor forma de reduzir o risco de oscilação de preços sobre os recursos da reserva financeira é investir em títulos de menor prazo. Infelizmente, a letra mais curta que o Tesouro Direto oferece vence em 2025.
Depósitos bancários, como o CDB, LCI e LCA, não foram impactados. Como pertencem a um único investidor, não são marcados a mercado, como como os produtos oferecidos mediante oferta pública (fundos de investimento e planos previdenciários), são contabilizados nas condições de compra.
Entretanto, expõem o investidor ao risco de liquidez (quando exige carência) e risco de crédito (com garantia do FGC). Sujeitos ao imposto de renda (no caso do CDB) e ao spread dos bancos, que definem o percentual do CDI conforme o montante de recursos do cliente.
Os investidores mais conservadores dirão, com alguma razão, que preferem deixar o dinheiro na poupança apesar da menor rentabilidade.
Marcia Dessen
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