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Opinião Econômica

- Publicada em 14 de Outubro de 2020 às 03:00

A opção do Banco Central

Colunista Site JC Samuel Pessoa

Colunista Site JC Samuel Pessoa


/Thiago Machado/Arte JC
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Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
Na semana passada abordei o repasse da desvalorização do câmbio sobre a inflação de alimentos. Sexta-feira (9), o IBGE divulgou que a inflação de setembro foi de 0,64%, 0,10 ponto percentual acima do que se esperava.
Como discuti na coluna passada, a inflação ainda parece restrita aos alimentos. Se bem que já apareceu em setembro uma pressão sobre produtos de limpeza e sobre móveis e eletroeletrônicos. O grupo habitação subiu 0,37% e o grupo artigos de residência subiu 1%.
Desenha-se o cenário para que a inflação feche o ano em 3% ou um pouco mais.
O nível da inflação não preocupa. A meta inflacionária deste ano é de 4% e para 2021 de 3,75%. Há muita folga na operação do regime de metas de inflação. No entanto, a dinâmica pode preocupar.
É possível afirmar que os gru- pos de preços que estão pressionados são os que sofreram um choque de oferta, pelo câmbio, e aqueles que, em função da quarentena e do teletrabalho, experimentaram aumento de demanda, como é o caso de móveis e eletroeletrônicos.
É possível, inclusive, que a maior parte do repasse cambial já tenha passado. Se não houver novas rodadas de depreciação do câmbio, a pressão sobre alimentos se reduzirá naturalmente.
Um fato está claro: mesmo com muito desemprego e redução do auxílio emergencial para R$ 300, há repasse cambial para alimentos e combustíveis. A Petrobras acaba de anunciar elevação de 4% para a gasolina e de 5% para o diesel. Novas rodadas de desvalorização do câmbio produzirão novos choques de oferta sobre estes itens.
O Banco Central poderia ter vendido mais reservas ou atuado com seus outros instrumentos para conter a desvalorização do câmbio. E o fez. Diferentemente do que eu imaginava, a atuação do BC não foi tão modesta. Desde janeiro, entre vender reservas e outros instrumentos, a intervenção rodou próximo a US$ 40 bilhões.
Seria possível afirmar que o BC deveria ter baixado menos os juros. Mas não parece ser o caso. Com todo o repasse, a inflação deve fechar o ano a 3%, para uma meta de 4%. A menos que o mandato do Banco Central mude, não houve erro de política monetária.
O câmbio, a fonte primária do processo inflacionário, encontra-se, segundo minhas contas, na posição mais desvalorizada, em comparação com os fundamentos, de todo o período do regime de câmbio flutuante.
As reservas amortecem os movimentos. Não haverá grandes descontinuidades do câmbio.
Mas se não houver uma solução ao desequilíbrio fiscal, o processo continuará. Estamos em meio a um processo de reinflação da economia. O início ocorre desta forma: atinge o câmbio e os preços diretamente ligados a ele. O segundo passo é as pessoas começarem a esperar a aceleração da inflação.
Vejamos para onde irá a inflação esperada pela pesquisa Focus do BC desta semana. Se nada for feito no ajuste fiscal estrutural, vivenciaremos estagflação.
Se nada for feito, a inflação subirá. E o BC não terá muito o que fazer com o atual nível de endividamento. Ou arrumamos o fiscal ou vamos para uma lenta trajetória de reinflação da economia. Será lenta pois a posição de reservas garante que o processo será sem rupturas.
*
Meu amigo e pessoa mais do que adorável, Zuza Homem de Mello, nos deixou na madrugada de sábado (3). Das pessoas que mais conhecia a música brasileira, partiu aos 86 anos de uma vida mais do que plena. Fará muita falta.
Zuza tinha bastante combustível para queimar. Passar tarde no Brejinho em Ribeirão Preto ouvindo aula de Zuza sobre samba canção foi das melhores experiências que tive. Guardo cá na memória o belíssimo discurso de posse na Academia Paulista de Letras. Saudades.
 
Samuel Pessôa Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e da Julius Baer Family Office (JBFO). É doutor em economia pela USP
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