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Opinião Econômica

- Publicada em 03 de Setembro de 2020 às 03:00

A rave do Fed

Helio Beltrão

Helio Beltrão


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Helio Beltrão
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Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia
O mercado financeiro internacional está cada vez mais parecido com 1999: uma bolha. Lamentavelmente, o período de 20 anos, uma geração, é tempo suficiente para o investidor esquecer as lições da história, cometer erros similares e se surpreender com os resultados. Atenção, você que investe na Bolsa!
Os anos 1990 foram um deleite para as ações americanas: era só comprar e segurar. As devastadoras crises da Ásia (1997) e da quebra da Rússia (1998) foram apenas suaves lombadas para a Bolsa, que seguia sua intensa trajetória de alta, com retornos anuais de mais de 20%.
O fundo LTCM, com dois sócios agraciados com o Prêmio Nobel, usava modelos matemáticos baseados no "Value at Risk" de correlações históricas e alavancava suas apostas em 100x (cem vezes). A história rima, mas não se repete, nem se correlaciona rigorosamente por variáveis estatísticas.
Mesmo sardinhas do mercado entendem aquilo que os "ignóbeis" do LTCM ignoravam: em momentos de estresse, a correlação dos ativos de risco tende a 1, ou seja, tudo cai ao mesmo tempo.
O amadorismo arrogante do LTCM o explodiu após a crise da Rússia, em 1998. Suas perdas multibilionárias foram assumidas pelos maiores bancos de Wall Street, sob coação de Alan Greenspan, que temia contágio descontrolado e não tinha os poderes atuais do super-Fed.
Ali o Fed começou a "rave" e adotou a doutrina de "estabilizar" os preços de ativos. Era o "Greenspan Put": a mensagem ao investidor era "compre ações, pois, se houver queda brusca, o Fed resgatará o mercado". O Fed de Greenspan injetava montanhas de dinheiro, seguro de si: afinal, não havia inflação, dizia.
O Fed de Jim Powell, em 2020, adota a mesma doutrina e anunciou em Jackson Hole que passará a tolerar inflação acima da meta, em jogada dilmesca de mudar o tamanho do gol.
O fenômeno de crescimento robusto e inflação baixa nos anos 1990 era chamado de "novo normal". Robert Shiller, no entanto, apelidou a pujança da Bolsa dos anos 1990 de "exuberância irracional". Em 1999, o múltiplo P/L normalizado (média de dez anos) --o Shiller PE Ratio--, do índice S&P 500 de ações americanas, ultrapassou 30x, superando o pico da crise de 1929. A Bolsa americana, paradoxalmente, era um oásis em meio ao caos dos mercados emergentes. O Brasil, contagiado pela fuga de capitais de emergentes, tinha desvalorização abrupta do real naquele 1999.
Naquela ocasião, exatamente como agora, as estrelas das Bolsas eram as companhias de tecnologia, como Cisco e Microsoft. A Cisco, rainha dos roteadores de internet, tinha P/L de mais de 200x, e sua ação chegou a valer US$ 77 no início de 2000. O estouro da bolha da internet de 1999 foi tão arrasador que, mais de 20 anos depois, a ação está cotada a US$ 42, ou 45% abaixo. A Microsoft levou 15 anos para superar o preço de 2000.
Algo similar ocorre hoje. Neste mês de agosto de 2020, a Apple atingiu US$ 2 trilhões em valor de mercado e se tornou a companhia mais valiosa do mundo, superando a Saudi Aramco, estatal de petróleo saudita. É o último dominó a cair na passagem de bastão da velha para a nova economia.
O Mercado Livre atingiu US$ 60 bilhões e se tornou a companhia mais valiosa da América Latina, superando a Vale e outras gigantes.
A Tesla se tornou a sétima maior empresa americana, mesmo com lucros diminutos. Seu P/L está acima de 1.000x. O da Amazon, que tem lucro, é de 134x. O P/L do S&P 500 chegou a 32x: atingiu os mesmos picos de alta de 1929 e 1999.
Em 2000, tudo estourou. Agora ainda não: a pandemia foi somente uma lombada para a retomada do "all-time high". Enquanto isso, o MC Fed segue animando a rave ao som de Prince: "Party like it's 1999". Quando a ressaca bater...
Helio Beltrão
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