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Opinião Econômica

- Publicada em 30 de Junho de 2020 às 23:30

A greve dos entregadores de app

Rodrigo Zeidan

Rodrigo Zeidan


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Rodrigo Zeidan
ARTE JC
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ
A primeira greve geral dos entregadores de aplicativos está marcada para hoje, dia 1º de julho. Essa greve, do ponto de vista econômico, é importantíssima para delinear as relações trabalhistas que vão nortear grande parte dos novos empregos gerados nos próximos anos.
Há um mito em relação ao movimento dos entregadores: que há incompatibilidade entre o interesse deles e dos consumidores, que qualquer aumento de renda para os trabalhadores significaria maior preço para os consumidores. Esse dilema não existe, nem do ponto de vista econômico nem no campo ético.
A greve dos entregadores faz todo o sentido econômico, uma vez que as empresas de aplicativos formam, em relação à sua capacidade de contratar trabalhadores, um oligopsônio.
Esse termo técnico significa que poucas empresas são compradoras de um determinado produto ou serviço - no caso, do trabalho dos entregadores. Em um oligopólio, como no caso de celulares, poucos vendedores (como Apple, Samsung e Xiaomi) têm poder de mercado sobre a venda de produtos. Em um oligopsônio, as empresas conseguem baixar o preço dos salários na marra. Quanto maiores os oligopsônios no mercado de trabalho, menor os salários.
E essa é a evidência que temos. O trabalho de José Azar e coautores (2019) mostra que a produtividade dos trabalhadores, nos Estados Unidos, é 17% maior que seus salários deveriam ser, se não houvesse poder de mercado por parte das empresas contratantes.
Em outro estudo, também de 2019, o resultado é que 60% do mercado de trabalho é altamente concentrado. O resultado de Brad Hershbein e colegas (2019) é também muito claro: um aumento de 1% na concentração do mercado de trabalho é associado com uma redução de 0,14% no salário médio dos trabalhadores.
Flávio Hafner (2020), no contexto francês, mostra o que acontece quando trabalhadores passam a ter mais opções de contratação. Sua análise depende de um evento que passou a permitir franceses perto da fronteira a trabalhar na Suíça. Nos três primeiros anos, o desemprego dos trabalhadores menos qualificados diminui em 3%, e o salário médio aumentou 1,6%.
E, pior, quanto maior o poder de mercado dos contratantes, menor a taxa de retenção, o que é ruim para todos. E é nesse contexto que devemos analisar a greve dos entregadores de aplicativos.
A briga deles não é por gigantes aumentos de salários, que vão virar taxas absurdamente altas para os consumidores. É conflito contra o poder de mercado das grandes empresas contratantes e que pode trazer, a longo prazo, maiores salários para os entregadores e menores preços para os consumidores, se o aumento da remuneração gerar maior produtividade, menor estresse e maiores taxas de retenção.
Além do argumento econômico, há outro, ético: "Trabalho enobrece o homem" no dos outros é refresco. A sociedade exige salário mínimo porque ninguém deveria trabalhar 200 horas por mês por miséria.
É preferível entregar renda diretamente aos trabalhadores, como a renda básica emergencial, a incentivar trabalho a qualquer custo.
Claro que, do ponto de vista social, quanto mais gente empregada, melhor. Mas ninguém deve entregar esforço por ninharia. Essa greve é um grande movimento de pressão aos empregadores que têm poder de mercado.
Somente com elevada coordenação os entregadores vão realmente conseguir pressionar as empresas de aplicativo. Nosso dever é apoiá-los.
Rodrigo Zeidan
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