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Opinião Econômica

- Publicada em 17 de Maio de 2020 às 21:51

Gato escaldado tem medo de água fria

Opinião Econômica: Marcia Dessen

Opinião Econômica: Marcia Dessen


/ARQUIVO/JC
Marcia Dessen
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 Planejadora financeira CFP (Certified Financial Planner), autora de “Finanças pessoais: o que fazer com meu dinheiro”
Muita gente entrou de cabeça em investimentos mais arriscados, animados com a expectativa de ganhar mais do que a taxa Selic. O mergulho foi feito sem conhecimento das correntes e da profundidade, confiantes de que as águas seriam calmas, e a maré, favorável.
Os números divulgados pela Anbima, relativos aos resgates registrados em fundos de investimentos no mês de abril, evidenciam que muitos não estavam preparados e pularam do barco antes da conclusão da turbulenta travessia.
Os fundos de renda fixa (o nome engana) foram os que mais sofreram, com resgates de R$ 70 bilhões dos R$ 91 bilhões do total de saques realizados no mês passado. No ano, R$ 123 bilhões já foram embora.
Convencida de que esse comportamento foi reativo a um desempenho ruim, fui conferir a rentabilidade média dos fundos em março, mês anterior ao movimento em manada de resgates. Bingo! Rentabilidade negativa.
Certamente o desempenho não correspondeu às expectativas dos investidores que saíram da poupança e de aplicações conservadoras que pagam taxa Selic para ganhar mais, e não menos, do que a Selic.
O resultado, de leve a moderadamente negativo, não foi desastroso, mas suficiente para desencadear a onda de resgates.
Investidores dos fundos multimercado nadaram na mesma direção, mas em menor quantidade, e levaram consigo pouco mais de R$ 13 bilhões. Embora a rentabilidade tenha sido levemente negativa, foi insuficiente para assustar investidores conhecedores das águas adentradas; o saldo ainda positivo de R$ 9 bilhões no acumulado do ano indica que são nadadores mais experientes.
Curiosamente, os fundos de ações, que tiveram um desempenho desastroso em março, conseguiram manter a maioria dos investidores a bordo. Em abril, os resgates superaram novas aplicações em apenas
R$ 637 milhões, apesar da desvalorização média de 30%.
O que os números revelam? Minha leitura é a de que muitos investidores, ainda amadores, estão se atrevendo a investir em modalidades até então desconhecidas, baseados exclusivamente na expectativa de rentabilidade superior, desconhecendo os riscos aos quais estarão expostos para tentar esse retorno potencialmente maior.
Uma decisão perigosa e equivocada. O montante de resgates é uma evidência dessa tese e indica que muito dinheiro foi deixado na mesa, já que, ao resgatar, o investidor realiza o prejuízo, renunciando à chance de recuperar as perdas quando e se a maré mudar.
E a maré mudou. Logo no mês seguinte, a rentabilidade dos fundos de renda fixa foi positiva, com exceção de duas classes. Mas aí já era tarde para os que decidiram abandonar o barco, provavelmente em razão da percepção de novas perdas.
Não critico a decisão dos investidores que resgataram seus recursos. Essa reação natural, de preservação do patrimônio, apenas comprova minha percepção de que decisões estão sendo tomadas de forma intempestiva, sem o devido conhecimento das aplicações financeiras disponíveis no mercado.
A rentabilidade, potencialmente superior à Selic, não é uma promessa, não será constante todos os meses e não tende a ocorrer a curto prazo. O fundo pode demorar meses ou anos para entregar o resultado esperado, somente aos investidores resilientes, que, embora escaldados, não têm medo de água fria.
Marcia Dessen
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