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Opinião Econômica

- Publicada em 05 de Abril de 2020 às 21:09

Teremos que conviver com o vírus

Colunista Site JC Samuel Pessoa

Colunista Site JC Samuel Pessoa


/Thiago Machado/Arte JC
Samuel Pessôa
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV), e sócio da consultoria Reliance, é doutor em Economia pela USP
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV), e sócio da consultoria Reliance, é doutor em Economia pela USP
Já sabemos que ficaremos muitas semanas presos em casa. Essa é a estratégia correta para impedir que a evolução da epidemia não leve o sistema de saúde ao colapso. E, consequentemente, que não subam muito os óbitos por Covid-19 e por todas as outras doenças e emergências que ocorrem normalmente.
Até há pouco, a impressão que se tinha é que a epidemia passaria e em seguida teríamos vida normal.
Não vai ser assim. A epidemia passar significa uma das três possibilidades: haver uma vacina; haver um remédio que reduza muito a gravidade e o tempo de internação; ou o vírus ter se espalhado e a população ter se imunizado naturalmente. Era por essa última forma que as epidemias antigas terminavam.
Ou seja, em algumas semanas, quando o nível da infecção estiver baixo e iniciarmos medidas para normalizar nossas atividades, a vida não voltará a ser como antes. Teremos que conviver com o vírus.
Quais são as medidas? Primeiro, atacar o maior gargalo, a falta de leitos hospitalares específicos para gripes respiratórias graves, devidamente equipados e com recursos humanos adequados.
Para que haja progressão mais rápida da imunização natural, teremos que conviver com um número maior de doentes. É necessário nos prepararmos para tratá-los.
Se houver uma normalização parcial de nossas vidas, teremos que conter a epidemia. Diferentemente da estratégia de distanciamento social, que visa a supressão das atividades para impedir a progressão da epidemia, a contenção corre atrás do vírus sempre que ele aparece. Uma espécie de corrida de gato e rato.
Assim, quando alguém com os sintomas aparece, vai imediatamente para quarentena. Adicionalmente, procuram-se as pessoas que entraram em contato com o infectado, que também são enviadas imediatamente para a quarentena.
Para procurar o vírus, se adotará a prática de medição da temperatura em diversos locais, bem como deverá haver uma política de testagem em massa. Aquelas pessoas que já foram expostas ao vírus e que não transmitem podem voltar às suas atividades regulares.
Nesse cenário que se desenha, atividades que envolvam grandes aglomerações serão evitadas - muitos meses, ou até anos, sem jogos de futebol com público ou shows de rock -, assim como o controle das fronteiras e das viagens internacionais será muito maior. Em Singapura, todos que chegam do estrangeiro vão para a quarentena.
A vida no espaço público será outra. Utilizaremos sempre máscaras, principalmente para proteger os demais. A disposição das mesas nos restaurantes será alterada, e a vida doméstica será valorizada.
E, mesmo em Singapura, que tem praticado a melhor política de contenção do vírus, foi observado nos últimos dias um reaparecimento em escala maior da epidemia. O governo de Singapura avisou que, a partir de terça-feira (7), adotará a supressão plena das atividades, com exceção das essenciais, por um mês.
Há notícias de que, em certas localidades na China, que caminhavam para a normalização de algumas atividades, como sessões de cinema, houve recuo.
Do ponto de vista econômico, o choque tem sido liquidamente desinflacionário. Há queda da demanda e da oferta, mas o recuo da primeira tem superado o da segunda. Tem sido assim na China.
Por aqui, aparentemente iremos adotar uma política de manutenção das rendas, e não somente dos menores salários, que será financiada pela elevação da dívida pública. Não sei como pagaremos essa conta quando a epidemia passar.
 
Samuel Pessôa
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