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Opinião Econômica

- Publicada em 04 de Dezembro de 2019 às 21:43

Como reagir à guerra comercial

Solange Srour
Solange Srour
Economista-chefe da gestora ARX Investimentos. É mestre em economia pela PUC-Rio
Nesta semana, o presidente Donald Trump anunciou que irá sobretaxar as exportações de aço e alumínio do Brasil, sob o argumento de que temos conduzido uma desvalorização do real com vistas a aumentar a competitividade dos nossos produtos exportados, principalmente os agrícolas.
Ameaçou também tarifar vinhos, queijos e artigos de luxo franceses. Nesse caso, a ofensiva é uma resposta à implementação de tarifas digitais sobre companhias americanas como Google, Facebook, Amazon e Apple.
Desde que tomou posse, seu foco tem sido a guerra comercial, e a China, o principal alvo. Ao culpar o crescimento acelerado das exportações chinesas pelo empobrecimento dos trabalhadores industriais americanos, Trump justifica o brutal aumento da desigualdade social pós-crise financeira de 2008.
Com a imposição de tarifas sobre bens importados e de cotas mínimas para as exportações agrícolas, a economia americana começa a operar de maneira menos eficiente. Isso se reflete na perda de confiança dos empresários e dos consumidores. Trump acusa o Fed (Federal Reserve) de ser conservador na política monetária, mas sabe que a principal causa dos sinais mais fracos da atividade é o aumento da incerteza derivada de sua política externa.
A guerra comercial serve como uma luva para agradar ao eleitorado americano de classe média baixa, mas seu aspecto mais importante não é esse. A China se tornou, em poucos anos, a maior ameaça à hegemonia americana. Os ideais de democracia e economia liberal dos Estados Unidos pareciam destinados a se espalhar pelo mundo até a China entrar em cena para questionar a unicidade desse modelo.
Restrições ao comércio de bens e serviços são apenas um instrumento do conflito geopolítico que veio para ficar. Os Estados Unidos estão especialmente preocupados com o poderio militar, tecnológico e político de uma potência cujos limites institucionais inexistem.
Nesse contexto, o Brasil poderia tirar proveito das tensões externas, que são mais estruturais do que cíclicas.
Deveríamos estar acelerando nossa agenda de concessões e privatizações, derrubando as tarifas de importação de bens de capital e negociando acordos para a derrubada de entraves às exportações. A concorrência entre Estados Unidos e China pela hegemonia mundial certamente nos dá um lugar privilegiado nas mesas de negociação.
O Brasil é um dos países mais fechados do mundo, com exportações mais importações representando menos de 25% do PIB (Produto Interno Bruto), enquanto a média global está em 52%.
O setor industrial brasileiro, assim como o setor de serviços, tem elevada proteção con- tra importados. Sem um am- plo processo de abertura comercial e de concorrência, não teremos condições de incorporar tecnologias sem as quais não haverá aumento de produtividade. Os únicos setores produtivos no Brasil são o agronegócio e a indústria de mineração, que enfrentam elevada concorrência internacional.
É claro que a guerra comercial afeta negativamente o crescimento mundial e, portanto, a nossa economia. No entanto, podemos nos beneficiar se conseguirmos atrair mais poupança externa, incentivar o investimento e promover um salto de produtividade.
A combinação de inflação baixa, grande capacidade ociosa e política fiscal contracionista abre espaço para o câmbio ficar mais depreciado e facilita a atração de capitais. Menos ideologia, mais pragmatismo e visão estratégica estão fazendo falta.
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