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Opinião Econômica

- Publicada em 03 de Dezembro de 2019 às 22:13

Quem ganha a guerra cambial?

Helio Beltrão

Helio Beltrão


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Helio Beltrão
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Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do instituto Mises Brasil
A boa notícia desta terça (3) foi a confirmação da retomada gradual e sustentável do crescimento econômico, prevista nesta coluna em 24 de abril. Nestes sete meses, o Ibovespa subiu 15%. As expectativas indicam que o PIB deve crescer mais de 1% neste ano, e até 2,5% em 2020.
O atual crescimento tem alta qualidade pois não há aventuras nos gastos públicos e o Banco Central evita patrocinar expansão insustentável do crédito e da moeda. O crédito total está comportado e hoje representa menos de 48% do PIB, após ter atingido exagerados 55% do PIB no topo do ciclo de crédito, em 2016.
Em linha com o histórico de retomadas, o setor privado lidera a expansão. No entanto, pelo lado negativo há más notícias quanto ao câmbio e ao cenário externo.
Desde o início de novembro o dólar subiu de R$ 4 para R$ 4,20. Há poucos meses, estava em R$ 3,80. Houve deterioração das contas externas, mas o mercado tem se assustado mais com uma suposta intenção da área econômica em deliberadamente depreciar o real.
Os ministros de áreas econômicas no mundo esquivam-se de comentar sobre o câmbio pois o mercado interpreta como sinalização de política. Paulo Guedes, em evento recente, descuidou-se dessa norma ao afirmar que "acha compreensível a alta do dólar", que "tende a ir para um patamar mais alto".
Adicionalmente, o BC sinaliza corte adicional da Selic neste mês, que pode chegar a 4,5% ao ano, a menor taxa básica da história do real. Tais reduções tendem a causar alta do dólar.
Dado o total silêncio da área econômica quanto à intenção de almejar um real forte, o mercado conjectura que há uma política informal de alta do dólar.
As consequências podem ser dramáticas. O trilema de Mundell-Fleming indica que, em um país com entradas e saídas financeiras amplamente liberadas, caso do Brasil, é impossível simultaneamente deter uma política monetária independente e um patamar estável de câmbio. Ou seja, ou o BC determina a Selic ou busca-se ativamente um patamar de dólar. Uma política ativa desintegra a outra.
O mandato do BC é calibrar a Selic para alcançar a meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional, que é de 4% em 2020. Inexiste meta de crescimento econômico ou de patamar de câmbio. Porém, se houver uma meta informal de patamar de câmbio, a institucionalização construída por mais de 20 anos poderá ficar prejudicada.
O governo dá sinais de impaciência com a fraca recuperação econômica e com o ritmo de reformas no Congresso. Poderá estar mesmo apostando em uma alta do dólar como faísca para induzir crescimento?
No auge da brutal recessão de 1981 a 1983, a dupla Delfim-Galvêas incitou crescimento por meio de exportações decretando uma maxidesvalorização de 30% da moeda nacional, porém sem sustar sua política inflacionista. Houve crescimento do PIB de 5% em 1984, mas em dólares os brasileiros ficaram mais pobres. A inflação dobrou de 100% para 200%, e engatou-se a sequência de planos mirabolantes confeccionados pelos doutores em economia, que causaram a década perdida.
A desvalorização da moeda nunca fica impune. É ilusão pavimentar o caminho para a prosperidade por meio da depreciação deliberada. Caso fosse possível, Venezuela e Zimbábue seriam países ricos.
O mercantilista Trump interpretou a desvalorização do real como truque cambial e retaliou por meio de tarifas ao aço e alumínio brasileiros. O protecionismo e a guerra cambial escalam no mundo. Nessa seara, certa está uma desprezada filósofa brasileira: "Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder... vai todo o mundo perder!".
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