Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Opinião Econômica

- Publicada em 14 de Outubro de 2019 às 22:09

A constitucionalização de tudo

Cecília Machado

Cecília Machado


/
Cecilia Machado
{'nm_midia_inter_thumb1':'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/jpg/2019/10/14/206x137/1_cecilia_machado-8871013.jpg', 'id_midia_tipo':'2', 'id_tetag_galer':'', 'id_midia':'5da4d7165916d', 'cd_midia':8871013, 'ds_midia_link': 'https://www.jornaldocomercio.com/_midias/jpg/2019/10/14/cecilia_machado-8871013.jpg', 'ds_midia': 'Opinião Econômica - Cecilia Machado', 'ds_midia_credi': 'ARQUIVO/FOLHAPRESS/ARTE JC', 'ds_midia_titlo': 'Opinião Econômica - Cecilia Machado', 'cd_tetag': '1', 'cd_midia_w': '100%', 'cd_midia_h': '100%', 'align': 'Left'}
Não há dúvidas sobre a importância do investimento público nas crianças, garantindo que elas possam exercer seus potenciais produtivos quando crescem. Além de fomentar o desenvolvimento da própria criança, esses investimentos são positivos também para a sociedade.
Ao se tornarem adultos inseridos na economia, desoneram gastos do governo em saúde, assistência social e segurança pública, permitindo o direcionamento de recursos para outros setores, como saneamento, infraestrutura e tecnologia, num grande círculo virtuoso que potencializa ainda mais os investimentos iniciais feitos nas crianças.
Se pudéssemos escolher onde alocar o gasto público, investimentos em educação, em especial para as crianças em situação de pobreza, deveriam ser as prioridades. Nesse sentido, o pacto constitucional de 1988 estabeleceu importantes princípios mínimos e irredutíveis da ordem social, como a garantia à educação e à assistência.
Mas, ainda que a nossa Constituição já estabeleça um olhar especial às crianças pobres, é inevitável constatar que o atual texto não é suficiente para garantir os direitos delas.
Prova evidente da negligência que temos com as crianças pobres do país é a recente proposta de emenda constitucional (PEC) 133, a PEC paralela da reforma da Previdência, entendida por muitos como a constitucionalização do programa Bolsa Família.
E por que constitucionalizar a assistência às crianças pobres? Porque elas são, no momento, beneficiárias residuais dos gastos do governo.
Por óbvio, se tudo está constitucionalizado, acaba sobrando pouco para o que não está. Apenas depois que todos os gastos obrigatórios terminam de ser pagos -como os altos salários do funcionalismo público, incluindo o Judiciário e o Ministério Público, e as crescentes obrigações previdenciárias-, aí sim pensamos nas crianças pobres do Bolsa Família.
Bonito no papel, o artigo 195-A da PEC, apesar de garantir o reajuste real do benefício, continua deixando as crianças pobres à margem da rede de proteção social.
Os idosos pobres, por exemplo, possuem a garantia constitucional de um salário mínimo. As crianças não. E como ampliar gastos em educação, saúde e saneamento, importantes insumos no desenvolvimento das crianças, quando o Orçamento está sufocado?
A verdadeira seguridade social da criança é aquela que libera, e não engessa, recursos públicos para que os investimentos possam ser feitos em educação, saúde e assistência, capitalizando todos os ganhos de escala que a provisão pública pode proporcionar.
Nesta reforma da Previdência tivemos importantes oportunidades de liberação de recursos, como a inclusão dos estados e municípios na reforma, a equiparação da aposentadoria dos professores à das demais categorias, a definição de critério de renda objetivo para a concessão do BPC e a igualdade nas idades de aposentadoria entre homens e mulheres. Optou-se por não mexer nessas questões e remediar a enorme injustiça que se fez com as crianças incluindo o reajuste do Bolsa na Constituição. Nada mais justo, mas dois erros não fazem um acerto.
Caminhamos para a constitucionalização de tudo, ainda que a melhor forma de assistir aos vulneráveis seja por meio da política pública de forma universal, pensada e executada pelo Estado.
Melhor mesmo seria deixar de fora da Constituição parâmetros específicos das remunerações do setor público, seguridades e assistências, tudo aquilo que engessa o Orçamento público e é passível de batalha judicial.
Na atual reforma da Previdência, gritaram e espernearam os professores, as mulheres, os militares, os estados e os municípios, os funcionários públicos, os idosos, todos a favor de seus interesses. Foram atendidos. As crianças, coitadas, se comportaram bem demais.
Economista, é professora da EPGE (Escola Brasileira de Economia e Finanças) da FGV
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO