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Opinião Econômica

- Publicada em 26 de Setembro de 2019 às 21:36

O fim do neoliberalismo

Rodrigo Zeidan

Rodrigo Zeidan


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Rodrigo Zeidan
O neoliberalismo acabou, embora não tenha sido enterrado como deveria. Não há ações mundiais coordenadas neoliberais, como havia no passado. E o neoliberalismo nunca de fato existiu no Brasil, embora sempre tenha servido de culpado de conveniência em uma sociedade que abusa do uso do sujeito indeterminado.
O neoliberalismo acabou, embora não tenha sido enterrado como deveria. Não há ações mundiais coordenadas neoliberais, como havia no passado. E o neoliberalismo nunca de fato existiu no Brasil, embora sempre tenha servido de culpado de conveniência em uma sociedade que abusa do uso do sujeito indeterminado.
Havia duas essências neoliberais, na política e economia. Em termos econômicos, o Consenso de Washington representava essa doutrina, com uma lista de dez políticas (agregadas por John Williamson em 1989) que pavimentariam o caminho para países em desenvolvimento se tornarem ricos.
Dentre as dez políticas, algumas estavam claramente erradas, como a prescrição de câmbio puramente flutuante e desregulamentação do setor financeiro, enquanto outras se encaixariam como bandeiras da esquerda, como uma reordenação dos gastos públicos para políticas pró-crescimento e pró-pobres, com foco em educação, saúde e infraestrutura. Mas nenhum país emergente jamais adotou todas elas.
Por exemplo, o Brasil nunca teve câmbio sem intervenção do Banco Central, não fez reforma tributária, não liberalizou as taxas de juros ou o comércio e continuou regulando mercados produtivos e financeiros. Dos dez "mandamentos", o Brasil privatizou alguma coisa, teve por um tempo um superávit primário, manteve direitos de propriedade e liberou a entrada de capitais para investimentos produtivos e financeiros.
Ou seja, nunca fomos neo ou mesmo liberais de verdade, nem pra poder reclamar (isso não quer dizer que algumas políticas, como a reforma trabalhista, não se encaixariam num ideário neoliberal, mas fazer uma reforma não significa comprar todo o pacote).
Do ponto de vista político, a ideia do neoliberalismo é a de que os interesses do capital, do malvado FMI e da burguesia local se sobreporiam às dos pobres brasileiros. Mas, de novo, isso nunca aconteceu. Os interesses do capital (se bancos fossem tão poderosos, não pagariam 50% de imposto de renda) e dos gringos são espantalhos para criar uma aura de superioridade moral para quem se diz defensor dos pobres e oprimidos.
Banqueiros e empreiteiros não decidem como deve funcionar o país. Somos um país de guildas. Elas é que detêm o poder. Não são interesses difusos que tornam o Brasil ingovernável, mas sim o fato de que cada guilda quer o seu quinhão.
Militares vão ganhar aumento. Advogados federais exigem dois meses de férias. Funcionários públicos lutam contra qualquer reforma da Previdência. Sindicatos de empresários querem manter a economia fechada. Ruralistas querem liberar agrotóxicos e desmarcar terras indígenas. Nossa economia é feudal, com cada dono de capitania hereditária querendo levar o seu (no caso da previdência de alguns, o direito de se aposentar ganhando muitas vezes mais que na ativa).
Quem dera esse governo fosse neoliberal, com o superministro empenhado numa agenda de reformas que, pro bem e pro mal, fosse debatida para que decidíssemos em qual ordem as guildas perderiam seu poder. Nada disso.
A extrema direita é só conservadora de baixo nível, os neoliberais não vão vir de noite roubar nossas criancinhas, e a esquerda só vai virar progressista no dia que abandonar esse espantalho.
Somos feudais e o governo de extrema-direita é o melhor exemplo disso. Para mudar, primeiro precisamos chegar no século 21, abandonando o uso do sujeito indeterminado e superando discussões da década de 80.
Professor da New York University Shangai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ
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