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Opinião Econômica

- Publicada em 29 de Agosto de 2019 às 21:29

Desenvolvimento verde

Opinião Econômica: Nelson Barbosa

Opinião Econômica: Nelson Barbosa


/Arquivo/JC
O descaso de Bolsonaro com o ambiente é realmente chocante, mas, se considerarmos os últimos cem anos, o aquecimento global ainda se deve mais às emissões de gases efeito estufa por países desenvolvidos do que ao desenvolvimento de economias emergentes.
O descaso de Bolsonaro com o ambiente é realmente chocante, mas, se considerarmos os últimos cem anos, o aquecimento global ainda se deve mais às emissões de gases efeito estufa por países desenvolvidos do que ao desenvolvimento de economias emergentes.
Ainda assim o desafio climático é global e requer ação imediata por parte de todos, com contribuições maiores dos países mais ricos, devido ao seu histórico ambiental e à maior renda per capita. Do ponto de vista econômico, o combate ao aquecimento global pode abrir uma nova frente de investimentos, gerando uma "destruição criadora" do atual modo de produção e consumo mundiais, em prol de padrões mais sustentáveis.
No passado, guerras e militarismo foram grandes indutores de investimentos e transformação econômica, mas com grande custo humano. Felizmente essa "saída" de crises não é mais possível hoje. O combate ao aquecimento global pode ser o equivalente econômico do século 21 às guerras do século 20, só que sem custo humano e com melhoria do padrão de vida de todos.
Traduzindo do economês: combater o aquecimento global pode gerar mais investimento e empregos em reflorestamento, preservação de rios e oceanos, reciclagem, geração de energia renovável, transporte urbano e, principalmente, renovação de toda a infraestrutura existente para maior "eficiência ambiental" (menos poluição e menor uso de energia por unidade produzida).
Como tudo em economia, mudar a infraestrutura de produção e consumo tem um custo e um benefício. O custo é geralmente mais claro, pois sabemos quanto pagar por cada investimento ou ação ambiental. O benefício é mais difuso, pois o ganho é nacional ou global, isto é, não necessariamente apropriado por quem incorreu no custo.
Diante desse problema, que nós, economistas, chamamos de "externalidade", cabe geralmente ao governo definir o preço da preservação do ambiente e cobrá-lo da sociedade via impostos sobre a renda corrente ou emissão de dívida (que são impostos sobre a renda futura).
Mesmo com boas intenções ambientais, aumento de impostos tendem a dar errado em um contexto de lento crescimento econômico, como evidenciou o recente fracasso de Macron ao elevar a tributação sobre combustíveis na França.
No contexto atual de lento crescimento mundial e baixas taxas de juro real, o caminho mais adequado é financiar o "desenvolvimento verde" via emissão de dívida, deixando o ajuste de impostos para se e quando a renda se recuperar de modo duradouro.
Propostas nesse sentido têm sido feitas nos EUA, no âmbito dos debates entre pré-candidatos do partido democrata às eleições presidenciais de 2020.
Chamado de "New Green Deal", a ideia por lá é lançar um amplo programa de investimentos e regulação ambiental para incentivar inovações e aumentar a renda e o emprego de modo sustentável. O mesmo tipo de iniciativa poderia ser adotado no Brasil, acrescentando o reflorestamento da Amazônia e da mata atlântica como prioridades imediatas, além da renovação e melhoria da infraestrutura urbana, gerando empregoz nas cidades.
Existe saída para nossa crise econômica, mas isso exige pensar diferente em termos fiscais e ambientais. Ajuste fiscal sim, só que mais gradual em relação ao que vem sendo feito. E tratar a questão ambiental não só como custo mas também como oportunidade de investimento em nova infraestrutura, para gerar emprego e renda de modo sustentável no século 21.
Professor da FGV e da UnB, ex-minitro da Fazenda e do Planejamneto (2015-2016). é doutor em economia pela New School for Social Research
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