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Opinião Econômica

- Publicada em 20 de Agosto de 2019 às 22:56

A hora do ouro

Helio Beltrão

Helio Beltrão


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Helio Beltrão
O ouro é um dos melhores investimentos de 2019 até agora. Subiu mais de 30%, ante 10% do Ibovespa, 10% dos títulos do governo indexados à inflação com vencimento em 2026 e 4% do CDI. Boa parte dos fundos multimercado com melhor reputação está com rendimento abaixo de 10% até agora.
O ouro é um dos melhores investimentos de 2019 até agora. Subiu mais de 30%, ante 10% do Ibovespa, 10% dos títulos do governo indexados à inflação com vencimento em 2026 e 4% do CDI. Boa parte dos fundos multimercado com melhor reputação está com rendimento abaixo de 10% até agora.
Por que os investidores estão apostando no metal dourado e o que isso comunica sobre sua visão do cenário mundial? Que grandes tendências estão em desdobramento? Por que o Brasil tem exportado e os bancos centrais têm comprado volumes recordes de ouro?
Desde 2008 em especial, os bancos centrais vêm injetando quantidades assombrosas de dinheiro novo no sistema financeiro, derrubando as taxas de juros ao nível mais baixo dos últimos 5.000 anos. Em vez de gerar inflação de preços, esse dinheiro tem gerado inflação de ativos, de ações a títulos de dívida, cujo preço varia inversamente com as taxas de juros. Os títulos de 30 anos do governo alemão, por exemplo, subiram tanto que suas taxas de juros são negativas, ou seja, o investidor que esperar até o vencimento receberá de volta menos do que investiu!
Ainda assim, há muitos investidores que compram títulos com juros negativos, apostando que as taxas de juros cairão ainda mais, o preço subirá e assim venderão com lucro antes do vencimento.
O Brasil tem sido beneficiado pelas forças externas e tem agora o nível mais baixo de juros desde a criação do Copom, a despeito da crise e dos enormes déficits fiscais. Em consequência, os títulos do governo de longa duração têm sido um dos melhores investimentos dos últimos anos.
Os EUA são o principal país ainda com taxas positivas, mas talvez não por muito tempo. O Fed baixou a taxa de juros pela primeira vez em mais de uma década, e a previsão é que deve baixar mais, com aplausos de Trump.
Ocorre que juros negativos destroem a poupança de aposentadoria das próximas gerações e pioram as chances de os governos fazerem frente a seus passivos. É uma máquina de transferência de dinheiro de poupadores para devedores. Os poupadores são o público em geral, e os maiores devedores, claro, são os governos.
Isto leva a uma "japonização" do mundo, com crescente dependência de juros baixos, mais dívida e mais moeda. Tal fórmula não pode continuar indefinidamente.
Para piorar, as economias alemã e europeia estão dando sinais de fadiga. Com taxas de juros já tão baixas, o que esperar dos governos desenvolvidos?
O perigo é que voltem as heterodoxas injeções forçadas de dinheiro, os QE (quantitative easing), e que incorram em déficits fiscais ainda maiores. Os EUA terão déficit médio acima de US$1 trilhão anualmente nos próximos dez anos. Ousariam os governos monetizar os crescentes déficits fiscais? Este é um dos pesadelos que torna o metal precioso atrativo.
O ouro é considerado o ativo mais seguro, em especial em tempos turbulentos. Afinal, é o único ativo financeiro que não é passivo de ninguém, ou seja, não é devido por contraparte alguma. Adicionalmente, há pouco ouro no mundo. A quantidade acima do solo, incluindo joias, lingotes, barras e moedas equivale a um cubo com aresta de 21 metros, ou um prédio de 6 andares. Os 760kg de ouro roubados recentemente em Guarulhos ocupariam menos de 40 litros, ou 2 maletas tipo 007.
A principal característica do ouro, porém, é que não oferece rendimento algum. No entanto, os títulos de governos desenvolvidos, outro ativo de segurança, têm indicado perda de valor ao investidor. O ouro reluz em comparação. Em sua qualidade de reserva de valor por excelência, tem lugar cativo em uma carteira de investimentos balanceada.
Engenheiro com especialização em finanças e MBA na Universidade Columbia, é presidente do Instituto Mises Brasil
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