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Opinião Econômica

- Publicada em 09 de Abril de 2019 às 21:56

Harvard, aqui vou eu

Opinião Econômica: Nizan Guanaes

Opinião Econômica: Nizan Guanaes


/Arquivo/JC
Vou contar uma história que, quando conto, algumas pessoas acham que é mentira. Então vou contá-la em público.
Vou contar uma história que, quando conto, algumas pessoas acham que é mentira. Então vou contá-la em público.
Nasci no centro histórico do Pelourinho, em Salvador, no largo do Carmo 4A. A casa do meu avô, onde meus pais recém-casados moravam, era de chão de cimento batido, não tinha forro no teto e por ele passeavam morcegos amigos. Como não havia água quente no precário banheiro, aquecíamos a água no fogão e nos banhávamos com uma cuia de queijo.
Éramos de uma pobreza decente, raladora e ambiciosa. Minha mãe, Esmeralda Mansur, era fanática por estudos e livros. Ela foi uma de duas mulheres que se formaram em Engenharia Civil na Salvador de 1957. Meu pai, Sócrates Guanaes, nascido nas barrancas do São Francisco, tinha, até os 17 anos, uma educação bem atrapalhada. Com muita raça, se formou aos 33. Eu estava em sua formatura e fui testemunha da sua garra, que o levou a fazer especialização em Pneumologia no Brompton Hospital em Londres, onde fomos morar.
Meu avô Demócrito Mansur de Carvalho era um líder sindical filiado ao Partido Comunista. Ele nunca recebeu educação formal, mas leu muito e foi um belo autodidata. Ele foi meu primeiro Google, sabia tudo.
Portanto, quando eu atravessar a ponte sobre o rio Charles e entrar na Harvard Business School, em Cambridge, para fazer minhas aulas de OPM, entraremos todos orgulhosos - meu avô, meu pai, minha mãe e eu.
O OPM (Owner/President Management) é o sumo do MBA de Harvard, concentrado em três semanas anuais durante três anos. É uma maratona de estudos de cases empresariais ensinados por alguns dos melhores professores do mundo.
Estou feliz e ansioso. Nesta sexta-feira, começo a receber as apostilas e estudar os meus cases depois do meu dia de trabalho, como meus pais estudavam depois do trabalho para se formarem e me darem a vida que me possibilitou chegar até aqui.
Aos 60, eu poderia estar pendurando as chuteiras. Que nada. Eu vou é calçar meu tênis e correr três maratonas: a de Londres, em abril; a de Berlim, em setembro; e a intelectual, em Harvard.
As aulas intensas do OPM começam às 7h todos os dias, inclusive aos sábados, quando paramos às 14h. E, no domingo, temos que ler o livro para debater na segunda-feira.
A universidade, fundada em 1636 para educar pastores puritanos, já deu oito presidentes dos EUA e 150 Prêmios Nobel à humanidade. Tem a maior biblioteca acadêmica do mundo e um fundo de endowment de quase US$ 40 bilhões.
OPM tem tudo a ver comigo neste momento de vida. Vendi minha segunda empresa e estou inventando coisas novas. Acordo todos os dias às 5h para treinar triatlo, maratona e, paulatinamente, caminhar pela estrada que vai me levar ao Ironman.
Ironman são 3,8 quilômetros nadando, 180 quilômetros pedalando e depois 42 quilômetros correndo. Ou seja, ele é a vida. Que começa lá no Pelô e chega, depois de muitos tombos e contusões, a Harvard. O doutor Roberto Marinho começou a Globo depois dos 60 anos, portanto, a minha vida, se Deus quiser, está começando.
Os valores puritanos da classe média que me trouxeram até aqui, acreditando em estudo e batente, foram os mesmos valores do filho de açougueiro chamado John Harvard que, depois de uma vida de muito trabalho, doou metade de sua fortuna para ser o primeiro benfeitor da escola que leva o seu nome.
Ele também acreditava em trabalho duro e muito estudo, e é por isso que ele, morto aos 31 anos, está vivo até hoje e nunca vai morrer. Harvard, aqui vamos meu avô, meu pai, minha mãe e eu.
P.S.: Este texto sobre estudo e trabalho é dedicado a meus filhos: Antônio, Zeca e Helena.
Empreendedor, fundador do Grupo ABC
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