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Opinião Econômica

- Publicada em 20 de Março de 2019 às 01:00

Krueger e o salário-mínimo

Opinião Econômica: Laura Carvalho

Opinião Econômica: Laura Carvalho


/Arquivo/JC
Em artigo no jornal The New York Times sobre o extenso trabalho de pesquisa de seu colega professor na Universidade de Princeton e ex-assessor econômico de Barack Obama Alan Krueger, que morreu no fim de semana passado, Paul Krugman resgatou, entre outros artigos, o estudo mais influente dele, publicado em 1994 em coautoria com David Card.
Em artigo no jornal The New York Times sobre o extenso trabalho de pesquisa de seu colega professor na Universidade de Princeton e ex-assessor econômico de Barack Obama Alan Krueger, que morreu no fim de semana passado, Paul Krugman resgatou, entre outros artigos, o estudo mais influente dele, publicado em 1994 em coautoria com David Card.
No trabalho, intitulado "Minimum Wages and Employment: a Case Study of the Fast Food in New Jersey and Pennsylvania", Card e Krueger revolucionaram a área não apenas pelo método utilizado, que partiu de um experimento controlado para estimar o impacto de uma política pública, mas sobretudo por não encontrarem o tal efeito negativo de aumentos do salário-mínimo sobre o emprego, típico de manuais de introdução à economia.
Em um arcabouço em que o equilíbrio no mercado de trabalho se dá como no mercado de bens, o aumento do salário-mínimo reduz a demanda por trabalho, pois torna a mão de obra mais cara e eleva a oferta de trabalho, pois incentiva os trabalhadores a trabalharem para ganhar mais: o resultado seria um excesso de oferta de trabalho em relação à demanda, ou seja, um aumento do desemprego.
Card e Krueger estimaram o efeito do aumento do salário-mínimo de US$ 4,25 para US$ 5,05 por hora concedido em abril de 1992 em Nova Jersey a partir da construção de uma amostra de 400 restaurantes de fast food do próprio estado de Nova Jersey e do Leste do estado da Pensilvânia, região vizinha em que o aumento do salário-mínimo não ocorreu.
O resultado encontrado foi que, apesar do aumento nos salários, o emprego em tempo integral em Nova Jersey não caiu em relação a Pensilvânia, até aumentou um pouco (ainda que de modo estatisticamente não significante).
Múltiplos estudos foram produzidos desde então na linha de pesquisa que passou a ser chamada de "New Minimum Wage Research", encontrando efeitos nulos ou muito pequenos do salário-mínimo sobre o emprego, como apontou Charles Brown no "Handbook of Labor Economics", em 1999. Em 2014, Dale Belman e Paul Wolfson examinaram os resultados de 70 artigos dessa literatura e concluíram, a partir de uma meta-análise, que o impacto do salário-mínimo sobre o emprego é muito pequeno ou insignificante.
No Brasil, a valorização real do salário-mínimo de 60% entre 2003 e 2012 tampouco apresentou resultados negativos sobre a geração de empregos formais, conforme estimado por Fernando Satiel e Sergio Urzúa em artigo de 2017.
Além disso, o aumento do salário-mínimo teria respondido pela maior parte da queda nas desigualdades salariais observadas entre 2004 e 2014 (e mais ainda entre as mulheres), de acordo com os resultados do trabalho de Bruno Komatsu e Naércio Menezes Filho publicado em 2015.
Um painel do Forum IGM organizado em 2013 pela Booth School of Business da Universidade de Chicago reuniu 41 economistas influentes e realizou uma enquete sobre a proposta do governo Obama de aumentar o salário-mínimo para US$ 9 por hora e indexá-lo à taxa da inflação.
O resultado foi que somente 34% dos economistas presentes concordaram com a proposição de que a medida tornaria mais difícil para trabalhadores menos qualificados conseguirem empregos. Além disso, 47% se disseram a favor da política, 14% foram contra, e os demais declararam não ter certeza.
Embora o mesmo resultado dificilmente fosse observado em enquete similar realizada no Brasil, já está claro que a "New Minimum Wage Research" impactou o pensamento econômico de forma significativa nas últimas duas décadas. Alan Krueger merece, portanto, todas as homenagens que vem recebendo.
Professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP, autora de "Valsa Brasileira: do Boom ao Caos Econômico"
 
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