Nesta época de profundas transformações, números são guias fundamentais. Por isso fiquei muito feliz ao ver os números do mais recente balanço do jornal The New York Times, o mais importante do mundo.
Já sabíamos que o alcance e a leitura de jornais estavam em forte alta por causa da revolução digital. Graças a ela, podemos ler suas notícias em qualquer parte do mundo, a qualquer hora, e ainda as transmitir instantaneamente para os nossos amigos e para as nossas redes sociais.
Como o New York Times é uma empresa aberta na bolsa de Nova Iorque, ele traz a cada trimestre os mais recentes números de suas operações, seu faturamento com assinaturas e publicidade, suas metas para o futuro e outros dados interessantes e reveladores. E os dados divulgados pela empresa jornalística na semana passada são estimulantes para esta que é uma das funções mais nobres e necessárias da humanidade: reportar o que está acontecendo de forma correta, responsável, aprofundada.
O Times fechou o ano passado com mais de 3,3 milhões de assinantes de seus produtos digitais, que incluem, além das notícias do jornal, aplicativos populares (e inovadores) de palavras cruzadas e de comida. Foi um aumento de 27% em relação ao número de assinantes do final do ano passado.
Só no último trimestre de 2018, o Times adicionou 265 mil assinantes digitais à sua base de clientes. Juntando assinantes dos produtos digitais e do jornal impresso, o número chega a 4,3 milhões. Foi nesse trimestre também que a receita com anúncios nas plataformas digitais ultrapassou a receita com propaganda no jornal impresso, outro marco futurista.
Animado com essa evolução, o jornal reviu para cima suas metas e agora busca 10 milhões de assinantes até 2025. Sim, 10 milhões de pagantes.
E, se o jornalismo está numa ponta antiga dos negócios, que são os produtos impressos (aliás, uma das tecnologias mais eficientes e longevas do mundo desde que inventada por Gutenberg, no século 15), ele está também à frente de uma tendência atual fortíssima, que é a venda de serviços por assinatura, na qual os veículos de imprensa têm vasta experiência.
Jeff Bezos, o mago digital criador da Amazon e homem mais rico do mundo, comprou o Washington Post justamente porque entende a importância de uma imprensa de qualidade forte e porque vê viabilidade na evolução do seu modelo de negócios. Os números do Post também vêm melhorado com jornalismo de alta qualidade e investimento em inovações tecnológicas.
Outro jornal importante nos EUA, o Los Angeles Times, após profunda crise, começa a reagir e a recontratar jornalistas.
Não há dúvidas sobre a demanda crescente por notícias de qualidade. Saber é poder. Sempre foi e seguirá sendo assim. Num mundo coberto e encoberto por barragens incessantes de "fake news", quem lê "true news" vê mais longe.
E as notícias sobre o setor de notícias estão começando finalmente a melhorar. Pode-se ver já luz no fim dessa trajetória incerta vivida pela imprensa no mundo todo nos últimos anos. E essa luz certamente vem da tela de um celular, de um tablet ou de um outro gadget que ainda vão inventar.
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Já tinha escrito esta coluna quando soube da morte trágica do meu amigo Ricardo Boechat. Ele era de uma geração de jornalistas treinados e criados com foco em política e economia, mas Boechat sabia também que era preciso infundir no jornalismo temas mais "mundanos" que agarram a atenção do leitor e fazem parte de sua vida.
Esta coluna é dedicada a ele e ao bom jornalismo.
Publicitário, fundador do Grupo ABC