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Opinião Econômica

- Publicada em 27 de Dezembro de 2018 às 23:28

Não é hora de improvisar


/Arquivo/JC
Apesar da polêmica em países às voltas com desemprego e problemas migratórios e de provocar discursos revisionistas em setores da diplomacia brasileira, a globalização sobreviveu ao teste da cúpula do Grupo dos 20 (G-20) em Buenos Aires, mas continua o suspense neste novo mundo de tendências nacionalistas.
Apesar da polêmica em países às voltas com desemprego e problemas migratórios e de provocar discursos revisionistas em setores da diplomacia brasileira, a globalização sobreviveu ao teste da cúpula do Grupo dos 20 (G-20) em Buenos Aires, mas continua o suspense neste novo mundo de tendências nacionalistas.
Os governos do G-20 concordaram em reformar o estatuto da OMC, contrariando os maus agouros que antecederam o encontro. E o fizeram por unanimidade, ficando para o fim, à parte do consenso multilateral, as desavenças entre Estados Unidos e China.
Muito antes de Donald Trump, o obeso déficit comercial dos EUA com a China mobiliza os presidentes americanos, sem resultados. O último superávit comercial dos EUA se deu na década de 1970. A combinação de interesses funcionou enquanto a supremacia econômica, militar e tecnológica pendeu aos EUA, com a China sem, aparentemente, outras pretensões que tirar da pobreza seus 1,3 bilhão de habitantes.
Não é mais assim. A China caminha para ultrapassar os EUA em gigantismo econômico, o poderio militar já é expressivo, passou a disputar influência geopolítica em toda parte, inclusive aqui no Brasil, e investe pesado nas ciências de ponta que definirão os próximos campeões globais - inteligência artificial, indústria 4.0, fintechs etc.
O que está em cena é um rival com ambições múltiplas.
É isso que sacode a ordem econômica global. Trump se elegeu alardeando a decadência dos EUA e abriu as negociações com o porrete na mão: aplicou tarifas sobre importações chinesas e ameaçou estendê-las a todo o comércio bilateral. A ameaça foi suspensa no G-20, mas os riscos de guerra comercial continuam ameaçadores.
Toda a prudência é pouca. Mais peão que tabuleiro neste jogo, ao governo brasileiro cabe ajudar no que puder e não tomar partido na contenda entre os dois gigantes. Os EUA têm o maior estoque de investimentos no país e a China é nosso maior importador, além de investidor ascendente.
Não se pode improvisar em política externa. Sua formulação deve guardar sintonia com as diretrizes para o comércio exterior e atender aos interesses próprios do país, evitando, inclusive, o alinhamento automático aos EUA, como têm insinuado membros do novo governo. Qualquer posicionamento em temas globais deveria resultar de muito cálculo e nenhuma paixão.
A desistência do Brasil de sediar a Conferência do Clima em 2019, bem como a promessa do presidente eleito, Jair Bolsonaro, de reverter a adesão ao Acordo de Paris, sinaliza incompreensão sobre nosso protagonismo nas questões ambientais. Não estão sendo devidamente consideradas as vantagens, inclusive econômicas, resultantes de nossa riqueza ambiental.
A transferência da embaixada em Israel para Jerusalém, outro tema controverso aventado por ele, provoca reações negativas e possíveis danos ao fluxo de comércio com países do Oriente Médio. Revela também açodamento rejeitar o Pacto Global da Migração da ONU no mesmo dia em que o acordo foi aprovado por mais de 150 países, "por se tratar de um instrumento inadequado para lidar com o problema", como declarou o futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
As transformações observadas na geopolítica mundial já são suficientemente complexas para abrirmos novas frentes difíceis de administrar e sem maior significado para a projeção externa da economia e do País. Frases de efeito em redes sociais podem ter sido úteis na campanha eleitoral, mas agora é tempo de fincar os pilares de uma estratégia coerente com as verdadeiras necessidades do País.
Empresário, conselheiro da Natura
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