Assim como eu, milhares de pessoas recebem mensagens provocativas perguntando se queremos ganhar acima da poupança. Um deles oferece aplicação em fundo de investimento que rendeu mais do que a poupança nos últimos sete meses.
Impressionada com a quantidade de erros em um único anúncio, decidi apontá-los, certa de que muitos pensaram em investir, ou investiram, seduzidos por esse ou outro anúncio semelhante.
Erro 1 - Não se comparam produtos que não são comparáveis. Na poupança, nova ou antiga, sabemos quanto vamos ganhar; a rentabilidade do fundo não é conhecida antecipadamente, pode ser apenas estimada.
Erro 2 - Não é correto vender fundo com base em rentabilidade passada, mas, como a rentabilidade futura não é conhecida, é o argumento que se apresenta. A CVM obriga o disclaimer "rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura" em todas as peças publicitárias.
Erro 3 - A poupança tem garantia do FGC (Fundo Garantidor de Créditos), e o fundo, não. O principal risco dos cotistas do fundo anunciado é o risco de crédito. Na denominação do fundo, deveria constar "Crédito Privado" com clareza, por extenso, como exige a CVM, e não com as letras CP, que podem ser incompreendidas ou confundidas com "Curto Prazo".
Erro 4 - Não se compara rentabilidade bruta com rentabilidade líquida. Os rendimentos da poupança são isentos de Imposto de Renda, e os dos fundos, não. Boa parte do alardeado ganho maior, se houver, fica com o Leão.
Erro 5 - A comparação é feita com a poupança nova, que, no período atual, paga rendimento líquido de 70% da Selic. Se comparado com a poupança antiga, 6,17% ao ano líquido, o ganho alardeado não existe.
Erro 6 - É curto o período da rentabilidade passada divulgada, sete meses, inferior ao período mínimo recomendado pela CVM (12 meses). A foto foi cuidadosamente escolhida para mostrar o melhor ângulo do produto. Um período mais longo permite ao investidor avaliar como o fundo se comportou em períodos menos favoráveis.
Erro 7 - A oferta é feita de forma generalizada sem respeitar a análise prévia dos objetivos do investidor e seu nível de tolerância a risco. A instituição transfere para o investidor uma responsabilidade que é sua, a de avaliar a adequação (suitability) do produto aos seus objetivos pessoais.
Fiz um recorte nos disclaimers obrigatórios, publicados no fim do anúncio e que, de certa forma, contrariam ou anulam o que foi dito.
"As informações desta mensagem não devem ser interpretadas como recomendação ou sugestão de investimento." Mas a chamada do anúncio é exatamente essa, um convite para investir...
"As operações discutidas nesta mensagem podem não ser adequadas a todos os investidores." Se é assim, por que enviar de forma indiscriminada para toda a base de clientes?
"Para avaliação da performance de um fundo de investimento, é recomendável a análise de, no mínimo, 12 meses." Então por que usar um fundo com apenas sete meses de histórico na comparação?
"A rentabilidade divulgada não é líquida de impostos." Se a rentabilidade do fundo é bruta, o produto não deveria ter sido usado para argumentar vantagem sobre um produto isento de Imposto de Renda.
Dezenas de ofertas cometem o mesmo erro. Ao investidor fica a recomendação de leitura atenta, com muito discernimento e critério. Sem pressa, sem pressão, investimento é coisa séria e com seriedade deve ser tratado.
Marcia Dessen é planejadora financeira CFP ("Certified Financial Planner"), autora de "Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro"